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Depois de Manu Gavassi, o “BBB” nunca mais será o mesmo


Quem diria, hein? Manu Gavassi enfrenta o paredão mais disputado da história do “Big Brother Brasil”. Até a noite de segunda (30/3), já eram 550 milhões de votos – um recorde para a franquia global da Endemol – com expectativa de chegar até um bilhão de votos até a eliminação nesta terça, ao vivo na TV Globo. Muitos consideram que a disputa contra o participante Felipe Prior é uma final antecipada. Independente do resultado, a cantora/compositora/atriz/escritora/e-agora-participante-de-reality-show revitalizou a experiência do que é ser um participante e um espectador do “BBB”.

Quando aceitou o convite da produção para se trancar em uma casa com desconhecidos por três meses, vigiada por câmeras 24 horas, concorrendo ao prêmio de R$ 1,5 milhão, Manu Gavassi ficou com medo, mas enxergou uma grande oportunidade. Ela sabia que entraria no programa com a alcunha de “celebridade”, ao mesmo tempo em que tinha plena consciência de que o público massivo do “BBB” não a conhecia. Obviamente, quem não sabia de sua existência passaria a saber, mas em que circunstâncias? Na dúvida, Manu Gavassi assumiu o controle da narrativa, em vez de deixar jornalistas, blogueiros e twitteiros desvendarem seu passado para a audiência. Com o slogan #WhoTheFuckIsManuGavassi, ela resgatou sua websérie “Garota Errada” com pílulas de vídeos e fotos para as redes sociais, apresentando muito do que se passa em sua cabeça. Tirou sarro de si mesma incontáveis vezes.

A artista montou um quadro em sua casa, com mais de 90 post-its com ideias de fotos e vídeos, organizando a sequência de lançamentos que sua equipe faria, diariamente. Desta maneira, Manu Gavassi pautou a imprensa dentro e fora do “BBB” e conseguiu estar dentro e fora ao mesmo tempo. Até clipe lançou enquanto estava confinada (“áudio de desculpas”). Sua vivência no “BBB” é diferente daquela experienciada por qualquer outro participante até hoje. No geral, perfis de confinados são administrados por algum profissional, amigo ou familiar, que organiza a torcida. As redes sociais de Manu, no entanto, parecem estar nas mãos dela mesma – ainda que de longe. É ela que fala com o público todos os dias, diretamente, sem intermediários. Com isso, ganhou mais de sete milhões de seguidores no Instagram. Atualmente são 10,6 milhões – número que vai surpreendê-la quando chegar a hora.

A estratégia, evidentemente, não funcionaria de nada se a participação de Manu Gavassi dentro do programa não fosse coerente. E é. A cantora foi uma das líderes da luta contra o machismo, pauta que marcou o “BBB 20”; fez discursos didáticos para quem quisesse aprender sobre feminismo e sororidade (inclusive outras mulheres na casa), e sempre se posicionou a favor da causa LGBTQI+. Direta ou indiretamente, Manu ajudou a eliminar metade do elenco da casa – aquela que se agarrou a discursos preconceituosos e intolerantes. Para além da música, Manu conquistou fãs por sua personalidade e estabilidade. É fácil ser militante na Internet, mas é difícil ser 24 horas cercada de câmeras. Ela manteve-se sensata durante todas as semanas. Quando gritou que Victor Hugo era “falso do cara***”, o Brasil vibrou. Ele era mesmo. Na mesma semana, foi eliminado com 85,22% dos votos.

Para ser justo, Manu Gavassi teve um único deslize em todo o programa. Certa vez, disse que Marcela e Daniel era um “casal que a cor combina”. Os dois eram brancos e loiros. Gerou mais decepção do que controvérsia, e revelou que por enquanto ninguém escapa do racismo estrutural. Foi uma fala infeliz. O consenso geral foi de que ela precisa aprender mais sobre o assunto (como ela mesma disse sobre os machistas em relação ao feminismo). Ninguém acreditou que Manu fosse, de fato, racista. Nem mesmo a torcida adversária insiste nisso. Eles preferem polemizar por conta de um tweet antigo em que ela diz que não gosta de futebol (como se todo cidadão fosse obrigado por lei a gostar). E, como se antevisse o que poderia acontecer, Manu deixou gravados dois vídeos em que canta os hinos do Corinthians e do Flamengo, as maiores torcidas do Brasil. E indicada ao paredão por “parecer que está na Disney”, ela publica nesta semana um vídeo em que fala sobre as princesas… da Disney. É por isso que Manu subverteu a experiência do “BBB” – para ela como participante e para nós como público. Nenhum confinado consegue responder, de dentro, polêmicas que acontecem aqui fora (ou responder aqui fora polêmicas que acontecem lá dentro). Teve que ser visionária. Nas próximas edições, tentarão copiar, sem dúvidas.

 

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Carta aberta para as princesas da minha infância.

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