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Cris Falcão: a força empreendedora que transforma a indústria musical

Em mais de 17 anos de experiência na indústria musical, Cris Falcão é atualmente Managing Director da Ingrooves Brazil

Cris Falcão: a força empreendedora que transforma a indústria musical
Foto: Cris Falcão/Arquivo Pessoal

Com um olhar altruísta inspirador e uma trajetória rara que abraça o 360 do mercado musical, incluindo atuações nos mercados de: Editora, Selo e atualmente, como Managing Director da agregadora digital Ingrooves Brazil, Cris Falcão é uma das principais referências executivas do mercado musical brasileiro.

E não por menos, a indústria reconhece o seu trabalho de forma unânime: foi indicada na categoria “Empreendedora do Ano” pelo Women’s Music Event em 2019 e hoje concorre ao Prêmio SIM 2020 de “Profissional do Ano” , em uma iniciativa promovida pela SIM São Paulo que está com votações abertas. Além disso, também foi líder da organização Women In Music Brazil em 2019, construindo um trabalho significativo para o setor. Em uma carreira pautada pela intensidade de grandes desafios, Cris Falcão mergulha no universo musical com o propósito de tornar o mercado cada vez mais democrático.

Refletindo sobre suas conquistas e legado construídos em mais de 17 anos de experiência na indústria musical, Cris conversou com o POPline.Biz é Mundo da Música onde também possui papel de colunista – em um diálogo descontraído, no qual mantém uma postura humilde e disposta a contribuir para o desenvolvimento contínuo da cadeia musical.

Imersão no Universo Musical

Criada em um ambiente musical, a formação em Economia pela Universidade Mackenzie (SP) parece, à primeira vista, distanciar do seu envolvimento com a arte. Mas, só parece. Inspirada pelo seu pai, que foi um executivo do mercado financeiro da década de 80, Cris trabalhou no Banco Santander e observou desde cedo a ausência de mulheres no setor e ali, estava nascendo uma das frentes que guiariam sua história.

“Eu sempre fui essa pessoa do tipo: ‘eu preciso, eu vou fazer, eu gosto, sou apaixonada’ e tudo o que eu faço, eu faço com muita intensidade, e dentro do banco eu pude participar de várias áreas que me deram um conhecimento muito forte, não só na parte financeira, mas, também na parte comercial”, revela Cris.

Com uma postura inquieta e aproveitando as oportunidades, Cris também passou uma temporada em Londres e ao retornar ao Brasil, assumiu uma posição de “Manager de Produtos Financeiros” dentro do Banco Honda.

“Fiquei lá um período e sofri todo o tipo de assédio, machismo, misoginia. Saí e fui para o Banco Ford, que foi uma experiência incrível na minha vida, aprendi muito lá, dentro da área financeira e também na construção de produtos financeiros”, diz Cris.

Acumulando experiências que ampliaram sua visão sobre a indústria musical, a executiva também trabalhou na empresa de consultoria Accenture, o último degrau para abrir a porta da sua imersão no universo da música. Após essa experiência, Cris recebeu um convite de uma Head Hunter para ser CEO da Editora Fermata do Brasil.

 

Transformando desafios em oportunidades

Quando Cris assumiu esse cargo de liderança na Fermata, empresa na qual atuou por 15 anos, a companhia não exercia apenas função como Editora gerenciando alguns dos maiores catálogos musicais do Brasil. Mas, também havia o setor de vendas de instrumentos musicais e a parte de comercialização de partituras, que no período, eram gráficas. Vivenciando a transformação do mercado musical e a inserção do mercado digital, Cris começou a utilizar a sua experiência de Consultoria, na empresa.

“Minha história em consultoria me ajudou muito a entender um negócio que eu não atuo. Eu peguei um caderninho, sentava na frente de um por um da equipe, de todo mundo de cada lugar, e perguntava: “o que você faz?” e a pessoa falava e eu anotava. E ia para o outro, e outro. Eu tenho até hoje esses caderninhos guardados. E então, começava a fazer intersecção entre eles: “mas, você fala com ele onde? Em que momento vocês trocam informações? Qual e-mail que você manda para quem?”

A partir disso eu construí – e não pense que isso foi coisa de uma semana não, muito tempo – um organograma e uma logística para o processo. Então, entendi que existia a caixinha do copyright, a caixinha do royalties, a caixinha do financeiro, enfim. Com isso, eu comecei a estudar essas áreas”, revela Cris.

Com muitos anos de dedicação e entendendo os bastidores da indústria musical, Cris também percebeu que o trabalho da Editora poderia ser de prospecção ativa, ao invés de esperar as solicitações de licenciamento chegarem e, assim, valorizar a riqueza existente em um catálogo autoral. Nos últimos 5 anos de atuação na Fermata, Cris possuía papel de Sócia minoritária, o que deu a oportunidade de estar à frente do negócio, ser ainda mais reconhecida pelo mercado, resultado no qual destaca sua gratidão por ter trabalhado na empresa.

 

Olhar para o mercado Independente e a força empreendedora

Ainda dentro da Fermata, em 2018, Cris abriu a Cada Instante, Editora e Selo Musical voltado para o mercado independente e, atualmente, liderada por Victoria Lins.

“Eu tenho um irmão músico, Renato Godá, que me inspirou a olhar muito para o lado artístico da vida. Um músico independente que sofreu muito e que entrou no mercado na década de 90, quando não existia o setor independente. Então, quando montei a Cada Instante, o meu olhar era para isso: dar condições para artistas de pequeno porte criarem uma carreira que seja sustentável, mesmo que longa, demorada, mas, que ela fosse sustentável”.

Na Cada Instante, Cris aponta o case também da artista Clara Valverde, que começou com um trabalho de base e o quanto seus relacionamentos construídos ao longo da sua trajetória, criavam oportunidades, em um cenário que não havia investimento financeiro. Cris, então prospectava oportunidades para os artistas em Associações musicais e em outros espaços relevantes.

“Empreender na música independente no Brasil é sangue, suor e lágrima, mais do que amor, que eu falo sempre que não é só amor”, revela Cris.

 

Referências e Futuro na Música

No final de 2019, Cris recebeu o convite para ser Manager Director da Ingrooves Brazil, Agregadora Musical que pertence ao grupo da Universal Music, mas, atua de forma independente. Em 1 ano de trabalho, Cris acumula resultados surpreendentes: 42 Selos assinados e uma reestruturação de melhores práticas em cenário completamente particular, vivenciado pela Produtora GR6 Music.

Questionada sobre o conhecimento do seu trabalho em tão pouco tempo, já apresentar estruturas sólidas, Cris mantém uma postura humilde e também delega ao desempenho da sua equipe: Renata Gomes, Gabriela Hermanny e Sabrine Cruz, os créditos sobre os bons resultados.

“A minha estratégia, na verdade, é bem mineira, eu tenho mãe mineira; que é comer pelas beiradas. Eu prefiro menos é mais. Menos holofotes, mais trabalho, mais resultado”, revela Cris.

Com o nome cada vez mais forte no mercado, Cris Falcão destaca os seus pilares profissionais que são: fazer um trabalho com consistência, qualidade, respeito, transparência, ética, e isso, de forma orgânica, está chamando a atenção do mercado nacional. Em parelelo, a executiva também pontua a importância da capacitação para o crescimento da indústria.

“Temos que capacitar as pessoas e o Brasil está sempre há uns 10 anos atrás em comparação com outros territórios. Ao mesmo tempo, somos uma potência com milhares de possibilidades, uma pluralidade de gêneros e de condições dentro no mercado. E então, ainda vemos milhares de contratos que são feitos de uma maneira que prejudicam uma das partes, por causa da falta de um conhecimento sobre todo um processo que envolve uma cadeia artística”, reflete Cris.

Em futuro no qual observa ainda mais o destaque da atuação das Agregadoras, crescimento do Social Music e condições para que o artista independente construa um trabalho escalável, Cris também aponta suas referências no mercado musical: Lena Lebendiger, sua antiga sócia na Fermata, na qual aprendeu muito e admira seu olhar de exploração de conteúdos musicais para o mundo.

A executiva ainda aponta a atuação da Advogada Maria Luiza Egea, como uma profissional respeitável e que transmite firmeza e segurança em suas falas, ao mesmo tempo em que acalma. Cris revela que essa característica ela busca aplicar na sua rotina. E os profissionais Marcelo Castello Branco (CEO da União Brasileira de Compositores) e Roberto Mello (CEO da Abramus, Cris destaca o respeito pelas trajetórias, além da coragem e determinação.

Com o lema que leva tatuado em seu corpo, “Music is my therapy”, Cris constrói uma carreira admirável no mercado musical, com a postura humana de aprendizado diário e um olhar otimista para o futuro, o que faz permite que ela transforme o mercado musical diariamente.