O funk brasileiro, também conhecido como funk carioca, é um dos estilos musicais mais populares do Brasil e ganhou reconhecimento internacional ao longo dos anos. O artigo ‘It’s Brazilian Funk Time! A Journey Through the Rise of Funk Carioca’, publicado no Chartmetric, diz que apesar de sofrer um preconceito arraigado, o gênero encontrou em plataformas, como YouTube e TikTok, um lugar para ecoar a voz do estilo musical.
De acordo com o Chartmetric, a popularização internacional do funk estimulou artistas, como Anitta, a se aproximarem de suas essências artísticas. Em junho, a cantora lançou a música ‘Funk Rave’, marcando a volta da artista ao gênero musical após anos gravando pop e reggaeton.
“O funk brasileiro é minhas raízes. É o que nasci e cresci fazendo. É o meu lar. Fiz essa nova música com a intenção de mostrar a todos essas raízes, o que é mais importante para mim, e liderar com ‘Funk Rave’ faz exatamente isso”, disse Anitta em declaração sobre o lançamento de ‘Funk Rave’.
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Os primórdios do funk
O funk brasileiro, um gênero que se originou na década de 1980, atrai influências do hip-hop, funk norte-americano e subgêneros do rap, como Miami Bass e Gangsta Rap.
Um dos produtores fundadores da cena, DJ Marlboro, desempenhou um papel fundamental em seus primeiros dias, criando versões em português de canções populares de Miami Bass. Em 1989, ele lançou o álbum ‘Funk Brasil’, que foi responsável por impulsionar o crescimento dessa antiga cena musical local na região, segundo o Chartmetric.
Inicialmente associado à violência e ao sexo, o funk começou a ganhar maior aceitação quando passou dos bailes funk nas favelas do Rio de Janeiro para as festas dos cidadãos ricos e de classe alta. De acordo com o artigo, para mudar a narrativa do gênero e ampliar sua abrangência entre as classes sociais, a Indústria Fonográfica Brasileira passou a investir em funkeiros de temática romântica. Sucessos como ‘Nosso Sonho’, de Claudinho & Buchecha, e ‘Me Leva’, de Latino, ajudariam a elevar esses artistas ao estrelato no Brasil. Ainda assim, apesar de seu sucesso recente, o funk continuou a enfrentar a ira na década de 1990.
O século 21 viu o domínio do funk na grande mídia brasileira, com artistas aparecendo em trilhas sonoras de novelas e inspirando novas tendências. O funk ostentação, subgênero voltado para a ostentação da riqueza, surgiu em São Paulo em 2010 como contrapartida ao funk carioca, que retratava a realidade das comunidades de baixa renda.
Na mesma época, o advento das tecnologias digitais possibilitou a entrada de artistas independentes no mercado musical. O YouTube deu voz a artistas de gêneros musicais, como funk e brega, que a indústria do entretenimento brasileira marginalizou durante anos, diz o artigo.
A plataforma também desempenhou um papel significativo no lançamento e na reinvenção do formato de videoclipe, com o produtor KondZilla na liderança. KondZilla, que além de fundar uma gravadora e uma linha de roupas também produziu uma série da Netflix, foi fundamental para o sucesso de artistas do funk como MC Guimê, MC Kevinho, MC Kekel e Dani Russo.
Desde então, o funk brasileiro experimentou um crescimento exponencial nacional e global, atraindo até mesmo artistas não brasileiros. Colaborações com artistas internacionais como Ty Dolla $Sign, Skrillex e Snoop Dog em faixas como ‘Malokera’, de MC Lan, e ‘Onda Diferente’, de Ludmilla, consolidaram ainda mais seu apelo global. O Chartmetric lembra que durante o Super Bowl 2023, Rihanna apresentou um remix funk de seu hit ‘Rude Boy’ e a versão original ganhou 20 milhões de novos streams do Spotify no mês seguinte.
Em 2022, o mercado musical brasileiro gerou uma receita anual estimada em R$ 2,5 bilhões (US$ 489 milhões), de acordo com o Relatório Global de Música 2023, da IFPI. O crescimento é de 15,4% em relação ao ano anterior, colocando o Brasil entre os dez maiores mercados da indústria fonográfica e mostrando a força do funk entre outros gêneros locais em escala global.
A mídia social alimenta o sucesso do streaming internacional do Funk
O TikTok tem servido como um dos principais aplicativos de promoção musical do Brasil e o funk está rapidamente se tornando um dos estilos musicais mais populares na plataforma. Segundo o artigo, a plataforma possibilitou a expansão da base de fãs de artistas do gênero para regiões rurais, especificamente em áreas distantes dos centros urbanos onde surgiu.
Internacionalmente, o TikTok também alimenta diversos subgêneros do funk brasileiro, sendo um dos mais populares o funk automotivo. A reportagem explica que ele é caracterizado por batidas fortes com graves intensos, o gênero foi criado especificamente para ser apreciado e consumido em sistemas de som automotivos.
A faixa ‘Automotivo Bibi Fogosa’, de Bibi Babydoll e DJ Brunim XM, é um exemplo do funk automotivo que se tornou viral no TikTok, onde atualmente domina as paradas da plataforma em vários países, incluindo Alemanha, Espanha e Holanda.
A canção ‘Automotivo Bibi Fogosa’ também está presente no ranking das paradas globais do Spotify, com mais destaque na Ucrânia e no Cazaquistão, onde alcançou o primeiro lugar e o segundo lugar, respectivamente. Devido às semelhanças do funk automotivo com a música eletrônica, o gênero conseguiu ressoar em dezenas de países ao redor do mundo — principalmente na Europa Oriental.
Outros momentos influentes para o funk automotivo incluem ‘Tubarão Te Amo’, que se tornou viral durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar. Cantada e produzida pelo DJ LK da Escócia e com MC Ryan SP, MC Daniel, MC Jhenny e MC RF, a faixa alcançou a 3ª posição na parada Daily Viral Songs USA e cresceu 30 milhões de streams no Spotify apenas seis meses após seu lançamento.
No TikTok, ‘Tubarão Te Amo’ apresentou um crescimento impressionante, passando de apenas 90 mil postagens no início dos jogos do mundial para dois milhões de postagens após o término da Copa do Mundo.
Mais tarde, em 2023, a faixa foi usada novamente quando a Seleção Feminina da Jamaica dançou ao som da música após a vitória contra o Brasil.
Outro subgênero do funk brasileiro no TikTok é o tamborzão, ou big beat, aponta o Chartmetric. Com elementos dos primórdios do gênero, a faixa ‘Tá Ok’, de Dennis DJ e Kevin O Chris, viralizou na plataforma e ocupou o top 5 do Spotify em países como França, Irlanda, Marrocos e Portugal.
Mulheres no funk
No domínio da música, segundo a Chartmetric, particularmente na esfera do funk brasileiro, o cenário tem sido historicamente predominantemente centrado no homem, o que por vezes resultou num ambiente hostil para artistas femininas. Como resultado disso, o artigo diz que mulheres como Anitta e Ludmilla buscaram direcionar suas carreiras primeiro para o segmento pop, o que as permitiu ampliar o público.
Como exemplo, a reportagem fala de Anitta, que se lançou originalmente em 2011 como MC Anitta, mas deixou de lado o título honorífico no ano seguinte para direcionar sua carreira para os fãs pop, já que o termo MC, ou seja ‘Mestre de Cerimônia’, é comumente usado pelo rap, hip-hop e artistas, especificamente os do funk brasileiro.
A mesma decisão foi tomada por Ludmilla. O artigo lembra que a cantora apareceu no mercado primeiro como MC Beyoncé em 2012, mas depois mudou de nome artístico por questões de registro de marca. Até a cantora Lexa, que estreou em 2013 como MC Lexa, abriu mão do termo MC para adotar uma aparência mais pop.
Devido às suas táticas de público, essas três funkeiras, de acordo com o Chartmetric, muitas vezes não são reconhecidas como funkeiras brasileiras, apesar de seu destaque no mercado da cena.
Dito isto, o artigo pontua que Anitta é apenas uma das muitas mulheres que estão se esforçando para se reconectar com suas raízes do funk. Seu single lançado em junho de 2023, ‘Funk Rave’, atualmente ultrapassa 30 mil postagens no TikTok, 17 milhões de streams no Spotify e 14,5 milhões de visualizações no YouTube no videoclipe da faixa.
O Futuro do Funk Carioca
Ainda de acordo com o artigo, existe um grande potencial para os artistas de funk brasileiros desenvolverem carreiras globais. As produções colaborativas com artistas internacionais continuarão sendo uma excelente ferramenta para promover o funk brasileiro e seus artistas além das fronteiras do Brasil.
A reportagem aponta que lançar músicas em outros idiomas, especialmente inglês e espanhol, é um passo adicional que os artistas podem dar para alcançar um sucesso mais amplo, uma vez que o português pode ser um obstáculo para a divulgação do funk brasileiro no mercado global. Por conta do seu estilo musical urbano, os fãs de gêneros como rap e reggaeton podem facilmente se identificar e, assim, apreciar o funk brasileiro.