Por Bernardo Sim
Desde que a Taylor Swift anunciou que o seu próximo álbum se chamaria “1989”, tirei uma conclusão: chegou a hora dela lembrar de – e mostrar – tudo o que a idade lhe trouxe. É como se ela quisesse advertir o grande público que já não é mais uma garotinha. Que 2015 está há 26 anos de 1989. Que Taylor Swift não nasceu ontem, não.
Compareci à “1989 World Tour” em Miami – o 72º show – e posso dizer que a turnê carrega a mesma maturidade e ingenuidade do disco. Taylor se veste como adulta, fala como adulta e faz referências adultas, mas sempre sem sair do “sexy sem ser vulgar”. Cada jogo de cintura, frase de efeito e viradinha de cabeça são milimetricamente calculadas para lhe equilibrar na balança entre uma popstar adolescente e uma cantora adulta. São muitas transições na carreira da Taylor Swift: do country ao pop, da juventude à vida adulta, do status de sucesso para o patamar de sucesso absoluto e recordista. É uma malabarista que merece o nosso aplauso por lidar com tanta coisa de forma tão calma e precisa.
O show é uma grande comemoração do sucesso do “1989”. Das músicas antigas, só cantou quatro: “I Knew You Were Trouble”, “Fifteen”, “Love Story” e “We Are Never Ever Getting Back Together”. Também introduziu “Wildest Dreams” cantando a antiga “Enchanted”, mas foi tão rápido que eu prefiro nem contar. Em Miami, teve três convidados: o jogador Dwyane Wade (do time de basquete Miami Heat) levou à Taylor uma camiseta personalizada (“Swift 13”), o Pitbull cantou “Give Me Everything” com a Taylor fazendo a parte do Ne-Yo, e o Ricky Martin veio para um dueto de “Livin’ La Vida Loca” com ela. Todos pareciam completamente empolgados em estar num show com 14 mil pessoas berrando e dançando. Em se tratando de Miami, eu já tinha imaginado que os convidados seriam esses. O Pitbull mora aqui e o Ricky Martin tinha acabado de passar pela Flórida com a própria turnê. Fazia sentido.
Se Beyoncé lida com o feminismo feito boxeadora prestes a te dar um nocaute no ringue, Taylor Swift te ensina sobre feminismo depois de te servir cookies e suquinho de maçã na sala do apartamento dela. Tudo é muito bonitinho e “cute” no universo da Taylor e a turnê cospe – ou melhor, serve como um pires de café – estes princípios. Teve muita dancinha e momentos fofinhos. A porrada já foi acontecer perto do fim, com “Bad Blood” e uma versão rock de “We Are Never Ever Getting Back Together”. Mas a pressão baixa novamente para “Wildest Dreams” e “Out Of The Woods”. O contraste entre as músicas durante o show cria uma jornada bacana que permite que o público encare os altos e baixos da vida da Taylor cantando junto com ela.
Nessa montanha-russa de emoções e momentos da vida pessoal da Taylor Swift, há muito significado em terminar o show com “Shake It Off”. É como se a mensagem principal do show fosse: viva, sofra, ria, chore, mas no final, lembre-se que tudo dá para a gente “deixar pra lá”. Taylor transmite as suas mensagens com muita inteligência emocional e propriedade. E, assim como todo vinte-e-alguma-coisa (como eu), tem todo o direito de se achar a dona da verdade. Esse é o lance mais bacana da carreira da Taylor: ela sempre se pronuncia como dona da verdade, e a gente pode acompanhar as verdades dela se transformando com o passar dos anos. Isso se chama amadurecimento, e quem ousa criticá-la deveria olhar para o próprio umbigo e pensar por quantas vezes também já mudou de ideia ou opinião sobre o que é amor, amizade, família, dinheiro, trabalho e vida.
Eu gostei bastante da “1989 World Tour”. Foi um dos melhores shows pop que eu já assisti, e eu nem sou tão fã da Taylor Swift assim. Ela é montadinha, sim, e cada passo é extremamente calculado, mas não acho que isso deveria ser visto como algo necessariamente apenas ruim. Tamanha precisão requer um enorme planejamento, comprometimento e consistência que só uma pessoa com muito talento e inteligência seria capaz de comandar. E eu acho que, no final, há muito mais valor e veracidade nessa “fantasia” do que na “verdade” de muita gente