A fama da paixonite crônica do brasileiro por seus artistas preferidos é internacional e quem já pisou por aqui levou lá para fora memórias calorosas da demonstração de amor do fã verde e amarelo. Ed Sheeran pode ter passado por outros países abaixo da linha do Equador – que também não ficam atrás em termos de euforia – mas foi aqui, em solo brasileiro, que o cantor abertamente se disse “mais amado”.
Antes de chegar ao HSBC Arena, no Rio de Janeiro, para o último show da turnê do álbum “x” na noite desta quinta-feira (30), fiz questão de conferir vídeos gravados por fãs nas duas apresentações em São Paulo realizadas no início da semana. A impressão é que Ed se sentiu cada vez mais confortável com o passar dos dias no Brasil e afinou de vez sua relação com os brasileiros em terras cariocas. Bem solto e com sorriso escancarado, ainda era possível ver momentos de deslumbre genuíno com os gritos histéricos. Ed pode ter farreado longe dos paparazzi e entrado e saído de hotéis e aeroportos de fininho, mas foi no palco que preferiu deixar sua primeira grande impressão à imprensa, Sherrios e curiosos.
Alternando entre violões e uma guitarra, Ed – novamente com uma camisa da seleção brasileira de futebol e bandeira do país amarrada no pedestal – se apoia inteiramente no aparelho Loop Station para a criação do show e é aí que tudo fica ainda mais interessante. A tecnologia não é nova entre os músicos e alguns o usam com frequência em suas apresentações, como KT Tunstall, mas Ed Sheeran prefere que os fãs ouçam seus hits da fonte original, podemos assim dizer – sem interferências ou vozes de terceiros. Qualquer um que acompanha premiações musicais e já assistiu a uma apresentação do britânico, pode conferir como ele cria a música diante dos olhos de todos sem o auxílio de banda e/ou backing vocals. Tudo ali é Ed Sheeran e sua criação da maneira mais crua possível. A experiência acaba por deixar o fã ainda mais próximo do artista e do resultado final. É como se todos nós fossemos testemunhas da formação de cada acorde, batida, percussão e nos sentíssemos realmente parte do nascimento da música.
Com dois discos lançados, Ed conseguiu preencher quase exatas duas horas reunindo sucessos do “+” e “x”, além da faixa para o filme “O Hobbit: A Desolação de Smaug” e outras escolhas curiosas inseridas em mash-ups. Teve trechinho de “Loyal”, do Chris Brown; “Fancy”, da Iggy Azalea; “No Diggity”, do grupo de hip-hop Blackstreet; “Superstition”, do Stevie Wonder; “Ain’t No Sunshine”, Bill Withers; “In Da Club”, do 50 Cent; e o mais longo “Feeling Good”, da Nina Simone.
Tudo acompanhado sem piscar por uma plateia que não deixou Ed sozinho nem durante as rápidas “Take It Back” e “You Need Me, I Don’t Need You” e, claro, teve seu auge com “Thinking Out Loud”. Se lembra dos curiosos que falei lá em cima? Aqui eles participaram, mas quem mandou mesmo foram os vestidos de verde, com “x” estampados no rosto e em fitas enroladas na testa, balões, cartazes e que pareciam ter ensaiado exaustivamente o coral por muitas vezes ensurdecedor.
E além de ser um artista sem máscaras ou distrações no palco, Ed ainda é carismático. Nas pausas, fez questão de reafirmar que se sentiu mais amado aqui do que na Inglaterra e que não vai esquecer do Brasil no futuro. Se a primeira impressão é a que fica, o Brasil marcou de vez o coração do ruivo mais amado da atualidade.
