Palco de inúmeras expressões artísticas, como fruto das influências histórico-culturais e da globalização, a sonoridade brasileira é plural e apresenta cada vez mais novos movimentos e expressões musicais.
O paulista Dada Yute, por exemplo, sempre soube que a música teria um grande papel em sua vida a partir do momento em que se apaixonou pelo Reggae. Há mais de 15 anos presente na cena artística com shows nacionais e internacionais na bagagem, Dada agora integra o casting de artistas do Inbraza. O selo pop da Som Livre em parceria com a Liga Entretenimento leva a assinatura dos Dogz, trio de produtores formado por Pablo Bispo, Sérgio Santos e Ruxell.
Dada Yute apresenta canções carregadas de tons místicos e mensagens positivas, destacando a liberdade e a natureza, resgatando a cultura da Jamaica e do reggae, somadas a ritmos contemporâneos, como o pop e o trap.
Ao longo de sua carreira, Dada já se apresentou em diversas cidades pelo Brasil e em países como Jamaica, Espanha, Portugal, França, Chile e México. Entre suas colaborações estão artistas como Rashid, na faixa “Todo Dia” (2019), Heavy Baile em “Se Ela Vim” (2018) e Tropkillaz, no single “Naturalmente” (2018).
Dada participou também do álbum ‘Jah-Van’ (2018), de releituras das músicas de Djavan em ritmo de reggae, ao lado de cantores como Ivete Sangalo, Arnaldo Antunes, Criolo, Seu Jorge e Rincon Sapiência. Em 2019, Dada convidou Zélia Duncan e a percussionista Lan Lanh para um show em homenagem à Cassia Eller, onde apresentaram releitura dos sucessos da cantora com instrumentos e musicalidade jamaicana.
O Mundo da Música entrevistou Dada Yute em um bate-papo sobre a sua nova sonoridade, o ‘Reggae Trap’; importância da manutenção da essência artística, processos de composição e os atuais desafios do mercado musical.
Mundo da Música (MM) – Para você, como foi o processo da criação de uma nova sonoridade, mas, sem perder a sua essência artística?
Dada Yute – Tive um pouco de medo, confesso, mas foi delicioso esse processo de busca, ao mesmo tempo em que foi algo bem desafiador também, porque eu não queria apenas misturar tudo e ter um resultado parecido com algo que já existe. Eu queria encontrar minha nova capa, uma que só servisse em mim e com esse cuidado nós achamos esse som, que pode até ser considerado um novo estilo Reggae Trap.
Acredito que, ao longo da minha jornada, consegui fazer trabalhos que me consolidaram e legitimaram cada vez mais o meu reggae,de forma que agora eu possa levá-lo à novos mares. Os Dogz – Pablo (Bispo), Ruxell e Sérgio (Santos) – foram totalmente cruciais nessa repaginada, pois eles têm uma sensibilidade muito grande e um respeito infinito com o meu trabalho .Isso nos ajudou demais na hora de encontrar essa sonoridade nova, mas que mantém a minha essência bastante presente nela.
MM – Suas músicas trazem o vibedancehall jamaicano misturado com o reggaton latino. Quais são suas influências? Você acredita que a tendência da produção musical é agregar ainda mais gêneros musicais para criar uma sonoridade única?
Dada Yute – Minha influência está cada vez mais diversificada, mas ultimamente, considerando essa nova geração, os que mais estão me ajudando a moldar esse novo som são I-Octane, Popcaan e Vybez Kartel. Acho eles muito avançados! Junior Reid e Don Carlos são eternos, sempre cito o nome deles junto à Beres Hammond, da antiga escola, que juntos compõem uma bela base de influência musical .Alguns mais diferentes desse estilo, que também tenho escutado muito são João Gilberto, Vinicius de Moraes, Burna Boy, Iza, Rael, Matuê, Post Malone, e por aí vai!
Eu acho que a mistura é algo inevitável. Depois de um momento bem purista, tinha que haver esse momento de misturas e combinações. Acho, sim, que a música vai ficar por um tempo nessa coisa de tudo meio junto e misturado. Mas, como disse antes, o lance não é só misturar, tem que saber como misturar, com o que, e, acima de tudo, a hora de misturar. Do contrário, o resultado não fica bom e perde a essência. O processo tem que ser feito como o trabalho de cientistas no laboratório, com uma gota disso, uma gota daquilo e etc.
Tem que ter respeito e cuidado na hora da mistura, para que ela fique igual a nossa música relâmpago “Ma Queen”, que está beirando 1 milhão de visualizações no Youtube! Um recorde para o reggae brasileiro!
MM – Como funciona o seu processo de composição? E como foi a escolha do repertório autoral para a nova fase da sua carreira?
Dada Yute – Para mim, processo de criação não tem fórmula pronta ou um único jeito de se fazer. Aliás, ultimamente tem sido dentro de uma liberdade sem fim. A inspiração vem e a gente só vai junto com ela. Não tem hora, pode ser de manhã, de tarde, de noite ou de madrugada, na hora do almoço ou numa ida ao banheiro. Agora, com os Dogz no Inbraza (selo da Som Livre) o processo tem sido mágico mesmo, de tão fluido que é!
Eles têm o dom de captar e traduzir o universo do artista, tanto que até agora eu não disse ‘não’ para nenhuma ideia que eles trouxeram. Estou evoluindo muito com eles a cada vez que vamos juntos ao estúdio. Um ponto chave que ajuda o processo a fluir é o trabalho em conjunto, uma vez que são quatro cabeças no estúdio, pensando juntos e colocando os corações ali. Antes eu fazia quase tudo sozinho, mas agora não tenho mais a obrigação de escrever 100% de tudo que eu canto.
Tenho um dos melhores compositores do mundo trabalhando comigo, o Pablo Bispo, então flui muito bem, cada ideia ali com eles vira música igual na Jamaica! Ainda estamos fazendo o processo de escolha do repertório, que é bastante minucioso, porque não queremos levar apenas um show bom para as pessoas, e sim o melhor show!
MM – Os ciclos de lançamentos musicais estão cada vez mais curtos. Você acredita que essa lógica geral de mercado, que diminui o tempo de trabalho com um single, por exemplo; é um desafio ou uma oportunidade para a criação de uma carreira sólida?
Dada Yute – Acho que está mais para uma oportunidade de desenvolvimento de estratégia para uma carreira sólida. Cada caso é um caso, mas é importante estar por dentro das novas linguagens do mercado e se adaptar um pouco a elas. Depende do processo de cada artista, para onde ele está indo e onde quer chegar, porque cada maneira de lançar impacta de forma diferente o mercado.
Você pode lançar um single e estourar, já que é atenção total para uma música só. Ou pode lançar um disco que não impacte tanto, o que é um desperdício, já que são várias músicas juntas, que por algum motivo não foram tão escutadas. O single, a meu ver, é quase que uma isca para um projeto maior que o artista queira mostrar um pouco mais na frente.
MM – Ainda sobre os lançamentos, muitos artistas alteraram o planejamento tendo em vista o momento atual. Alguns, cancelaram projetos; enquanto outros, anteciparam, encarando o momento propício para lançamentos, principalmente, audiovisuais. Como vem sendo esse período para você e quais os seus atuais projetos?
Dada Yute – Esses dias têm sido bem difíceis para mim, na verdade. Mesmo assim temos trabalhos muito bacanas engatilhados, como o meu segundo EP, que vem aí. A produção é dos Dogz e dessa vez conta com vários feats especiais, com pessoas que eu queria muito trabalhar junto já há algum tempo, e graças a Deus as conexões deram muito certo.
O primeiro single, que já está quase pronto para sair, tem participação do Rael e de mais um cantor da nova geração de quem eu sou muito fã. Eu ainda não posso dar spoiler, mas garanto que vai ser um som incrível. É a união de três estilos diferentes, mas com a mesma essência.E vem com clipe!
Além disso, temos coisas em andamento com o Alexandre Carlo, do Natiruts, e tem um single novo com a Liliam Albuquerque, uma cantora super talentosa que acaba de chegar na cena. Também participa desse som o meu brother Enzo Romani, rei dos riffs de guitarra, sendo produzido pela A Banca Recordz. A música ficou linda e já, já sai pra vocês!
Em breve sai mais uma música com a galera do Kin Riddimz, selo internacional de reggae. Estamos bolando a nossa de 2020 com meu mano Adonai, e também tem feat falando sobre feminicídio com a cantora Aya, que me convidou para participar do disco dela, que sai esse ano produzido pelo Slim Rimografia. Também tem mais uma dançante sendo preparada com Heavy Baile.
Acho que por hora é isso. Tem bastante coisa em vista e vamos torcer para essa situação passar logo e a gente poder voltar com os shows. Aliás, temos o show já desenhado, só falta poder voltar para o Rio e começar os ensaios.Mas posso dizer que tá incrível essa nova fase de Dada Yute Inbrazado!