Ao desplugar os instrumentos, o power trio Colomy quer mostrar sua faceta mais atmosférica e chegar aos ouvidos e corações do público. Os gaúchos Pedro Lipa e Eduardo Schuler e o paulistano Sebastião Reis lançaram recentemente a faixa “Vem”, que traz arranjos sofisticados repletos de camadas de cordas e harmonias vocais. O ROCKline trocou uma ideia com Sebastião, que falou sobre as influências do trio, os planos para o primeiro álbum, a volta dos shows e refletiu o mercado fonográfico atual.
ROCKline – Vocês três se conheceram na produção do álbum solo do Beto Bruno, ex-Cachorro Grande, certo? Creio que as afinidades musicais tenham ajudado, mas como foi essa aproximação? Qual foi o ponto que vocês descobriram que poderiam colaborar juntos?
Sebastião Reis – Sim, nos conhecemos pela banda do Beto. O primeiro que eu conheci foi o Eduardo Schuler, ficamos muito amigos logo nas primeiras gravações em 2019. Uns dois meses depois, Schuler me convidou para gravar uma demo com a Doris Encrenqueira, banda do ele e do Pedro Lipa na época. Fui até a casa deles para gravar e quando cheguei lá conheci o Lipa. A sintonia foi imediata. A partir desse momento eu soube que tinha achado os parceiros certos. Tudo isso aconteceu meses antes de pensarmos em ter uma banda juntos.
É inevitável esta pergunta, mas poderia contar como foi a escolha do nome e qual significado?
A escolha do nome foi uma das decisões mais difíceis da banda até agora. Quem sugeriu Colomy foi o meu pai [Nando Reis]. No primeiro instante estranhamos. Mas tempos depois o nome passou a fazer sentido. Principalmente por Colomy ser um símbolo do passado (papel de enrolar cigarros nos anos 1970/80), período que nos influencia muito. Outra coisa que nos agradou em Colomy foi a pronúncia e a escrita que reforça nosso sangue latino.
Ouvindo “Vem” repetidas vezes, foi inevitável não pensar em um cruzamento de “Going To California” com harmonias vocais à la Clube da Esquina. Acredito que tenha sido algo inconsciente, mas essas referências setentistas são a gênese do Colomy, certo?
Certo, os anos 1970 são nossa fonte de inspiração. Mas sempre olhamos para o passado pensando no futuro.
Para quem está conhecendo o trabalho de vocês agora, quais seriam as principais referências do trio?
Led Zeppelin, Spinetta e Roupa Nova.
Neste EP vocês se apresentam “desplugados”. Houve alguma razão específica para este trabalho ou a ideia de alternar instrumentos elétricos e acústicos faz parte do projeto de vocês?
O EP acústico foi uma forma de fazer nossa música chegar até mais pessoas. Principalmente por que a música acústica é de mais fácil identificação. Apesar de sermos uma banda de rock, o violão e os instrumentos acústicos fazem parte do DNA da Colomy.
Em tempos imediatistas como agora, em que as músicas feitas para os charts duram uma semana na cabeça do público, você acredita que muita coisa tem passado despercebida na cena brasileira? Falta maior percepção das pessoas, e até mesmo da mídia em apresentar esses grandes talentos?
Realmente vivemos num tempo onde existe uma distância grande entre o artista e o público. Principalmente por conta da internet, onde o conteúdo é abundante e acessível, tornando difícil a escolha e o direcionamento. Além disso, essa modernização trouxe facilidades que permitem a qualquer pessoa criar e lançar materiais, dando mais volume ainda nessa abundância de conteúdo. Muitos artistas trabalham duro e não tem um grande alcance, não chegam nas prateleiras. A solução pra isso também passa por uma reformulação na mentalidade do artista, que precisa cada vez mais estar engajado e jogar dentro das regras do mercado musical.
Hoje não basta apenas ser bom, ter talento. Planejamento, visão, método, estudo e principalmente investimento são fatores determinantes pro crescimento de uma carreira. E no Brasil são poucos artistas que tem a condição de reunir todos estes pontos. Muitos ficam no anonimato por falta de planejamento ou investimento, enquanto sobra talento. Outros não tem tanto estudo, nem um talento exorbitante, mas usam o método e o poder de investimento para dar solidez ao trabalho. Não se pode dizer que isso é 100% justo, mas podemos concluir que o artista hoje precisa entregar muito – muito mais do que nas décadas passadas – para conseguir avançar etapas.
Ao consumidor: pesquisem! Tem muitos artistas por aí que não estão na sua TV ou no rádio do seu carro, mas são fantásticos e trabalham duro pra conseguir espaço. O YouTube e o Spotify premiam os garimpeiros, é tudo questão de interesse.
Existe algum nome com quem vocês três gostariam de colaborar em um futuro próximo?
Esteban Tavares, Roupa Nova e Fito Paez.
Depois de três singles, o que podemos esperar do Colomy para este semestre? Vocês pensam no “conceito” de um álbum fechado ou pretendem manter o formato de singles por mais algum tempo?
Vai ter disco sim! Sempre esteve nos nossos planos lançar álbuns completos. Mas precisamos nos adaptar às características do mercado. Para isso, provavelmente lançaremos alguns singles que serão parte deste álbum, para depois lançar o álbum completo. Um bom parâmetro é pensar que num disco com 10 músicas, 3 ou 4 podem ser singles. Isso permite um alcance maior de cada música individualmente, e facilita o planejamento dos lançamentos.
Provavelmente o álbum virá no ano que vem, mas temos a intenção de começar a divulgar os singles ainda este ano. Estamos trabalhando duro pra isso e logo teremos notícias.
Com a vacinação avançando no país, vocês já pensam em shows? Alguns festivais já estão anunciando datas, outros já se preparam para anunciar a realização em breve…
Sim, já temos nosso primeiro show marcado para o dia 19 de agosto no J CLUB, no Rio de Janeiro. E esperamos em breve anunciar mais datas.
Para finalizarmos: se o Colomy organizasse um festival e vocês fossem convidar alguns artistas/bandas contemporâneos que vocês curtem, quem chamariam para tocar?
Daparte, Greta Van Fleet e The Lemon Twigs.
Ouça o EP “Vem”: