Silva é o tipo de artistas que faz um simples acorde de violão soar como uma sinfonia de calmaria e paz. E assim ele pretende levar a vida. Artista inquieto, o cantor capixaba, de 32 anos, faz da MPB seu parque de diversões e brinca com os mais variados ritmos em “Cinco”, seu quinto álbum de estúdio que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (11). Com 14 músicas inéditas, o disco passeia pela soul music e o ska, com escalas em bossa nova, jazz e no samba. E como toda boa viagem, Silva vem acompanhado de colaborações com Anitta, Criolo e João Donato.
O projeto é totalmente independente e conta com produção e mixagem do próprio cantor. Sendo o trabalho mais autoral de sua carreira, o compacto funcionou como uma espécie de bote salva-vidas durante os dias de isolamento social, devido a pandemia do novo coronavírus. “Esse disco foi muito importante pra mim, para minha quarentena, para eu passar por esse momento com uma saúde mental ok”, revela.
Vindo numa sequência de trabalhos bem sucedidos como “Silva Canta Marisa”, “Brasileiro” e o agitado “Bloco do Silva”, o compositor apostou todas as fichas no novo trabalho, que conta com melodias e instrumentação mais rebuscada. “Esse disco foi uma retomada do meu autoral. Eu estava com saudade da minha parte mais músico, produtor. E acho que foi ótimo porque evoluí muito como cantor. Esse disco veio trazendo coisas que eu gosto muito, mas não me achava capaz de bancar, como reggae, ska, jazz, samba, por exemplo. Eu era muito tímido”, revela.
A evolução de Silva como performer surgiu a partir dos últimos discos. Um momento de descobertas para ele que, pela primeira vez, foi deixando os instrumentos de lado ao assumir seu lado frontman. “Quando eu comecei a me libertar no palco foi incrível, porque eu não conseguia me apresentar sem violão ou teclado, eu não sabia o que fazer com as mãos. Sem instrumento eu ficava preso. Quando eu comecei a me soltar, perder a timidez, a gostar mesmo do palco, foi um negócio de doido”, revela ele, satisfeito.
Parcerias com Anitta, Criolo e João Donato
Quem é boa gente nunca anda só. Para “Cinco”, Silva renova a dobradinha com Anitta na faixa “Facinho” – depois de “Fica Tudo Bem” -, e colabora com Criolo em “Soprou”, e João Donato, no hit “Quem Disse?”. Apaixonado por MPB, o cantor realizou um sonho ao dividir a canção com Donato. “São artistas que eu amo muito. O mais orixá deles é João Donato, que, pra mim, é nível cinco estrelas. Tê-lo no disco é uma honra, ele mudou a música toda. Fez um negócio lindo. Foi tudo gravado num take só, bem anos 70. É chique demais. Foi um tesão. Uma fantasia realidade”.
Com Anitta e Criolo, o papo foi mais informal, mas não menos importante. Silva destacou o profissionalismo da Poderosa e genialidade do rapper. “Pra Anitta eu mandei mensagem assim: “patroa, vamos repetir um hit?”. Ela amou e disse que era a cara dela. Eu adoro na Anitta que ela fala que vai fazer e resolve na hora, Cinco dias tava tudo pronto. Com Criolo foi muito legal, a gente se encontrou numa festa de Réveillon, na virada agora. A música com ele é a que eu mais gosto deste álbum, foi uma colaboração muito legal, mesmo a distância”.
A fase independente, apesar de corrida e desafiadora, trouxe para Silva a oportunidade e o gostinho de escolher os rumos de sua música. “Eu fiz um line-up meio improvável. Estou sem gravadora, e antes eu tinha que negociar muito as parcerias, porque tem essa coisa mercadológica. É super desafiador, porque você começa a pensar de um jeito mais business. Antes havia um escritório gigante. É uma decisão difícil, vai exigir uma organização maior. Eu sou zero business, contrário da Anitta. Sou mais galanteador do que um negociador”, conta, aos risos. Alguém duvida?
Desamores
Com uma estética diferenciada também nas letras, “Cinco” vem recheado com composições de desamores. Basta observar o single abre-alas “Passou Passou”. De acordo com Silva, todas letras são autobiográficas e relatam passagens das ultimas relações que o capixaba passou nos últimos anos.
“Eu gostei do seu ponto de vista, porque tem recados ali. Tem bastante desamor e acho o desamor bem interessante. Eu sou um cara da paz, é muito difícil brigar comigo. Sou um menino bom (risos), mas o disco tem coisas assim. Ninguém é bom o tempo inteiro, a gente tem nuances da nossa personalidade que nem sempre a gente explora”, diz, “Eu sou um cara good vibes, mas tem horas que sou mais sarcástico. Tem hora que você tá puto com uma historia, com um ex, um amigo que foi mega escroto, e não da pra reagir com gratidão. Eu quero que a pessoa se exploda”, entrega Silva, provando que o lado namastê tem seus limites. “Canceriano é fofo, é amorzinho, mas tem um lado treteiro”, assume.
E o novo álbum surge com esse lado libertador e cheio de indiretas. Agora, os crushs que lutem para saber se marcaram temática vida de Silva a ponto de receber uma música. “Esse disco tem uns lados que eu resolvi mostrar meus que é legal. Eu to mostrando isso agora, porque vivi isso tardiamente. Desde que comecei a carreira eu tô emendando um disco no outro, desde 2012, sem tirar ferias. Eu não sou do show business, mas trabalho pra caramba. Então, tive poucas relações. Não sou um cara vivido de relações, e vivi varias coisas nos últimos tempos, tem um repertorio emocional muito maior do que tive antes. É a parte boa de envelhecer”, conta ele, que está solteiro.
Onlyfans
No mês passado Silva anunciou sua conta no site OnlyFan, conhecido por ser uma plataforma de publicações com conteúdo adulto pago. Mas pode tirar o cavalinho da chuva quem espera encontrar um nude do cantor por lá. “Eu ainda não pensei nisso, real. Twitter é um problema serio, eu levo as brincadeiras muito a fundo. Foi real de brincadeira, mas já que rolou, eu to pensando numa boa ideia. A brincadeira foi boa”, conta, ao risos.
Silva, você no texto de abertura fala muito sobre como o número cinco permeia a sua vida. Você é ligado a numerologia? Quando você se deu conta de tantas “coincidências”?
“Eu não conheço nada de numerologia, mas eu adoro. Eu fui crente a vida toda, então, varias coisas ‘não eram de Deus’. Mas sou super curioso e respeito todas as coisas. E o cinco tem tudo isso, meu nome tem cinco letras, que é Lúcio, Souza, meu segundo sobrenome, cinco letrar, Lucas, meu irmão, meu orixá é Oxum, e o número que representa é cinco. Depois que saiu o nome do disco também fizeram ligação com minha idade 32, três mais dois, que dá é cinco…”
Tanto a sua vibe quando a sua música transparecem muita calmaria. De onde você tira essa paz? É da tua personalidade, faz yoga?
“Eu sou extremamente ansioso”.
Impossível!
“O meu sono é péssimo, eu tenho problema de insônia… nesse quarentena eu reclamei bastante nas redes sociais e é uma coisa que eu quero tratar. Mas falo tranquilo, sou lento, eu não sou um cara muito ágil, mas eu sou ansioso, então, essa coisa que tenho com a música de querer uma canção mais tranquila que me deixa no bpm mais baixo, isso me faz bem… é uma forma de musicoterapia, então, eu acho que é isso, uma necessidade”.
Você está consolidado na nova MPB e já cantou e fez colaborações com grandes ídolos. Esperava chegar tão longe assim quando começou?
“Eu não imaginava nada disso, mas eu sonhava. Imagina um dia cantar com Marisa? Quando eu tinha 18 anos ela lançou o álbum ‘Infinito Particular’, eu mandei um e-mail pra produção dela, na época que tava na faculdade de violino, que sou formado, e pedi para tocar no show dela. Quando contei isso pra ela e ela pirou. É muito louco, as coisas foram acontecendo… Ser músico no Brasil é muito difícil. Fico muito feliz com tudo”.