Enquanto as gravações da novela “Vale Tudo” ocorrem em Foz do Iguaçu, a atriz Carolina Dieckmann se dedica às filmagens do longa “(Des)controle” no Rio de Janeiro. Mas, todos os dias, sem falta, ela recebe mensagens de lamento por não ter pegado o papel de Heleninha na novela. “Eu nunca fui chamada pra ser a Heleninha. Isso foi um movimento do público”, ela esclarece ao POPline.
“Eu estava cotada para fazer ‘Vale Tudo’ desde o começo. Não sei exatamente para qual personagem, mas quando vieram me chamar para fazer a Leila já existia uma comoção quanto à Heleninha. Parece que perdi uma coisa que nunca tive. As pessoas só falam desse assunto comigo. Eu fico: ‘gente, não é possível, agora que já tem a atriz (Paola Oliveira), vamos colocar esse peso em outra pessoa’ (risos)”, compartilha bem-humorada.
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Carolina não será Heleninha, mas o público a verá, sim, na pele de uma alcoólatra, Kátia Klein. Sua personagem no filme “(Des)controle”, das diretoras Rosane Svartman e Carol Minêm, é uma escritora bem sucedida de livros infantojuvenis que passa a abusar de álcool ao tentar dar conta da carreira, da maternidade e de sua liberdade tardia. O que antes era uma bebida social se torna exagero e descontrole. Kátia é um desafio que Carolina Dieckmann queria na carreira.
“Primeiro porque é uma personagem madura, e acho que tô num momento da minha vida que tenho coisas para oferecer para uma personagem que tem uma trajetória inteira contada na tela. Ela está em quase todas as cenas e tem uma curva dramática muito acentuada. Eu estava desejando fazer uma personagem que me consumisse tanto. Acho que me sinto pronta, sabe? Na televisão, mesmo quando você faz protagonistas com uma carga dramática muito grande, a coisa fica mais dividida, porque outras coisas acontecem na novela. No cinema, às vezes acontece de ter uma personagem que está no filme inteiro. Eu nunca fiz isso. Eu queria uma personagem que eu pudesse me entregar tanto, sabe?”, ela diz animada.
Bastidores de “(Des)controle”
A atriz recebeu o POPline nos bastidores do longa-metragem. O site pôde acompanhá-la durante uma gravação com Caco Ciocler, que interpreta seu ex-marido, Irene Ravache, que faz sua mãe, e Daniel Filho, que vive seu pai na história. Na cena, Kátia rouba uma garrafa de bebida da casa dos pais durante um almoço de família. Carolina Dieckmann tem arrancado elogios de toda a equipe por seu desempenho. É o segundo filme que ela grava em 2024, depois de “Pequenas Criaturas”, também inédito.
“A Carol é uma atriz muito dedicada, muito estudiosa, e é lindo assistir ao mergulho dela na personagem. Ela, de fato, se jogou demais. E você vê que, na folga, ela está estudando. Ela não para”, elogia a diretora Carol Minêm. Rosane Svartman, que trabalhou com Carolina na novela “Vai Na Fé” e agora a dirige no filme, concorda: “ela traz uma latitude como atriz, de fazer cenas de humor e fazer cenas de drama”.
Confira os melhores momentos da entrevista com Carolina Dieckmann!
Novo momento na carreira
“O que acontecia antigamente é que, como eu era contratada da televisão, esses espaços entre uma coisa e outra eram meio que definidos por eles. Eu não ficava totalmente livre e não tinha como me programar pra fazer alguma coisa fora, porque eles poderiam precisar de mim. Quando você é contratada, você tá sempre meio a postos. E o que aconteceu esse ano foi que eu fiz o primeiro filme em junho, já tinha sido chamada pra fazer esse, já tinha topado, e aí quando me chamaram pra fazer ‘Vale Tudo’, eu já sabia que eu ia fazer esse filme, então pude negociar. ‘Olha, gente, eu não posso filmar em novembro nem dezembro. Eu só posso fazer a partir de janeiro’. Quando você não é contratada, você consegue colocar os seus limites um pouco, sabe? Quando você é contratada, você não tem isso de ‘eu já fechei’, porque você não pode fechar nada. Claro, a prioridade é ali”.
Construção de personagem
“Quando é pro cinema, antes de você entrar pra filmar, você tem um tempo pra estudar. Na televisão, mesmo quando você já sabe o fim, você ensaia tudo ali na hora antes de entrar pra filmar. Pelo menos nada que eu fiz foi assim. No cinema, você pode construir com mais tempo, detalhes, ter o diretor também nessa pré. Eu fiz toda a pré com as diretoras, então a gente tem uma congruência de olhares sobre aquilo e pode estudar minuciosamente a curva dramática da personagem, a curva do filme. As duas diretoras são preocupadas que eu participe de todo o processo. Elas me adiantam tudo. Na televisão, não tem esse tempo, ou pelo menos nada que eu fiz tinha. Não é melhor nem pior, é diferente, muito diferente”.
Desconexão das personagens
“Pra desconectar depois, você precisa descansar. Eu fico muito quietinha, porque tem um luto. Acho que essa é a palavra mais próxima, mas não é pelo drama, sabe? Não é um luto de dor. É um luto mesmo de algo que você se entrega profundamente, com muita intensidade durante um tempo, tipo aqui: eu tô filmando cinco vezes por semana, doze horas por dia, tô em todas as cenas. Quando acaba, no dia seguinte, a vida muda muito. Você não ter que ir, você não ter aquela cena pra estudar, você não ter aquela rotina muito intensa. É como se você fosse se preparar pra uma maratona, aí você corre a maratona, e no dia seguinte a pessoa não tem mais aquele objetivo. Ela vai encontrar um outro, então tem esse tempo de você se adaptar à vida, sem aquela meta, né? É um luto nesse sentido de você voltar pra vida, voltar pras suas coisas… Você marca um médico, na outra semana você faz uma viagem, você volta a ter a sua vida na sua mão. E você começa a realizar que você vai sentir falta de um, que você vai ficar com saudade do outro, que você vai ter tempo pra fazer uma coisa que você já não tinha muito tempo. É um desencarne mesmo assim, sabe?”
Abuso de álcool
“Quando minha mãe se separou do meu pai, ela bebeu bastante e ficou se anestesiando muito. Eu tenho a memória de ver minha mãe se retirando da família, porque sentia uma dor muito grande. Durante muito tempo, a gente suspeitou que ela fosse alcoólatra, porque ela bebeu muito. Depois, enfim, com a vida, ela parou de beber e voltou a viver socialmente. A gente chegou a conclusão que ela não era [alcóolatra], que ela não tinha a adicção, mas eu tenho essa memória de ver minha mãe durante muito tempo anestesiar uma dor dela com o álcool, então isso pra mim é muito forte. Era o começo da minha adolescência, eu estava começando a entender as coisas, sabe? Então, quando a Iafa [Britz, produtora], me chamou pra fazer o filme junto com a Rosane, eu senti que tinha alguma coisa muito íntima, muito guardada, pra colocar nessa personagem, né? Um olhar muito íntimo”.
Momentos de descontrole
“Realmente não sou uma mulher de excessos. Nunca fui, nem com bebida, nem com nenhum tipo de vício. Nem mesmo com chocolate, que já foi uma coisa que eu fui muito ligada. Eu acho que me descontrolo muitas vezes, inclusive, com coisas de personagem, de me exceder no estudo, na entrega. Por exemplo, estou toda machucada de uma cena que a gente fez, e aí a Rosane falou pra mim: ‘Carola, não posso confiar em você na próxima cena’. Era uma cena que eu caio na livraria, só que eu queria cair [de verdade] na livraria. Fui fazendo, fazendo, fazendo, isso aqui meu [joelho] foi esfolando. No calor da cena, não senti. ‘Carola, você já caiu não sei quantas vezes’. Ok, eu continuei caindo, porque eu acho muito falso o ator que não cai. Pra mim, isso é um excesso. Depois eu fiquei com os dois joelhos totalmente roxos. Esse aqui está até hoje. Deve ter umas duas semanas. Não cicatrizou ainda. Às vezes um excesso pra elas é uma coisa que faz parte pra mim, e realmente se eu for parar pra pensar, eu não precisava ter me machucado. Eu podia ter pedido uma joelheira, eu podia só ter feito a cena no geral. O que eu estou querendo te dizer com essa minha resposta é que não acho que o descontrole é democrático igual pra todo mundo ou em qualquer situação.
Expectativa para “Vale Tudo”
“Acho um perigo essa expectativa para ‘Vale Tudo’. Não estou levando isso pra mim. Sei que existe muita expectativa porque foi uma novela que fez muito sucesso, porque todo mundo queria fazer essa novela, porque é muito especial… Não à toa a Globo escolheu essa novela pra comemorar os 60 anos. É um projeto que está sendo cuidado de um jeito totalmente especial dentro mesmo da Globo. Todo mundo sabe disso. Mas eu acho que essa coisa de ter expectativa com relação a sucesso é muito perigoso. O mais importante é a gente fazer a novela com entrega, com responsabilidade, com paixão, e vai ser o que tiver que ser. Eu só começo a gravar em janeiro. Foi isso que negociei. Eles tiveram preparação, e eu não fui. Pude colocar qual era meu limite para a novela: que eu estava presa no filme até o Natal”.