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Billie Eilish

Billie Eilish e a cultura ASMR: por que um ícone pop tão associado a esta técnica?

Se um dia existiu uma fórmula perfeita para se fazer música pop, podemos dizer que todas as regras foram subvertidas nos últimos meses com o estouro de Billie Eilish. A jovem norte-americana de 17 anos pode ser considerada a primeira grande estrela cujo trabalho reflete (ou pelo menos se beneficia) da notável ascensão das técnicas de áudio de ASMR (Resposta Sensorial Meridiana Autônoma) que inundam o YouTube. Ela mesma nunca abordou o assunto publicamente, mas os críticos costumam mencionar ASMR quando escrevem sobre seu trabalho.

Eilish não é apenas um ícone gótico-pop para adolescentes descontentes. Com seus vocais sussurrantes e pop melódico, a cantora virou um ícone para fãs de ASMR. Quando o álbum de estreia When We All Fall Asleep, Where Do We Go? saiu no fim de março, voou para a 1ª posição das paradas nos Estados Unidos, Inglaterra e outros 13 países. Não tardou muito para que uma famosa youtuber chamada Gibi ASMR, com quase 2 milhões de seguidores, fizesse um tributo faixa-a-faixa utilizando a linguagem dominante deste universo. Todos os sons e letras são suavemente enunciados para maximizar o que é freqüentemente chamado de “formigamento” – a sensação inexplicável de prazer que algumas pessoas experimentam como resultado de gatilhos auditivos ou táteis, como sussurros ou massagens na cabeça.

Mas o som de Billie Eilish é, de fato, ASMR?

Ambos os fenômenos ganharam fama online nos últimos meses e talvez seja por isso que esta ligação tenha sido estabelecida. “Os vocais de Billie Eilish transmitem uma sensação de tranquilidade, que é reforçada por sua expressão facial relaxada. Ela não está cantando ou tocando algum instrumento, seu volume é baixo e seu tom permanece estável. Sua voz e disposição podem estar despertando conforto e tranquilidade, que é uma reminiscência de artistas da ASMR no YouTube”, disse o fisiologista Craig Richard ao site Spin. Entretanto, o especialista e autor de um livro sobre o tema esclarece não ter sentido o tal formigamento quando ouvia as músicas. “O jeito que ela entrega é tão suave. E muito pessoal. O que é muito semelhante ao ASMR, mas não é necessariamente ASMR.”

Mas é possível achar pessoas que garantem ter conseguido os tais formigamentos com as músicas de Billie Eilish. Helen Holmes, uma repórter do jornal britânico Observer, diz que sentiu isso como resultado das “pequenas risadas e entonações da cantora, e do jeito que sua entonação cai no final das frases”. Victoria Kassab, uma fã de Michigan de 18 anos, sentiu um tremor involuntário no rosto e no pescoço enquanto ouvia uma versão remixada em 8D do hit “Bad Guy” que usa reverb espacial para dar aos ouvintes a sensação desorientadora de que a música está se movendo em círculos ao redor deles. “Ouvir a voz dela se movendo entre as minhas orelhas, junto com o jeito que ela sussurra quando está cantando, me deu a resposta”, afirmou Kassab à Spin.

A ligação entre Eilish e ASMR faz um estranho tipo de sentido. Como a maioria dos criadores de ASMR, a artista grava em seu quarto, dando a seu trabalho uma intimidade emocional e sonora. Ela é jovem e feminina, assim como a grande maioria dos principais youtubers de ASMR. Embora seja cativante, a abordagem de Eilish à produção pop não têm ganchos estridentes e gritáveis como na música pop que conhecemos há pelo menos cinco décadas.

Cliques, arranhões e vocais ofegantes formam a espinha dorsal da produção de Eilish. Seu irmão Finneas O’Connell, que cuida das tarefas de produção para a cantora e compositora, leva esses sons para um nível quase industrial, que, quando combinado com o soproso vocal de filmes de terror de Billie, dá à faixas como “Bury a Friend” uma sensação de formigamento. É um desafio cativante para uma indústria fonográfica que tem sido obcecada pelo brilho por muito tempo ter de lidar com este som sombrio e intimista de uma estrela pop.

Enquanto isso, Eilish absorve esta estética formidável em toda a sua arte. Talvez as estrelas pop do futuro recebam sugestões explícitas da cultura ASMR. Há uma possibilidade de que, à medida que a ASMR se torne cada vez mais mainstream, a música pop possa começar a ficar mais tranquila e serena, refletindo o desejo do público em acalmar-se com suspiros e cliques em vez de refrões prontos para serem gritados a plenos pulmões.

Mas e você: já sentiu alguma coisa “estranha” ouvindo as músicas de Billie Eilish?

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