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Billboard destaca operação brasileira de combate aos falsos streams

Em uma força-tarefa chamada de “Operação Antidoping”, Ministério Público de São Paulo fechou 84 sites de aumento de stream no Brasil em 2021

Billboard destaca operação brasileira de combate aos falsos streams
Billboard destaca operação brasileira de combate aos falsos streams. Foto: Unsplash

Há alguns anos, a indústria da música lidava com a apreensão de milhões de CDs e DVDs piratas, um comércio praticamente fora de controle e um negócio em crise. Atualmente, novos desafios acompanham a rotina do crescimento do mercado, sobretudo, os falsos streams. O tema ganhou destaque em uma reportagem especial feita pela Billboard, na qual protagoniza os esforços brasileiros em uma força-tarefa chamada de “Operação Antidoping”, para fechar sites que aumentam ilegalmente os streams.

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Com histórico de trabalho desde 2016, a partir da busca e apreensão de CDs e DVDs piratas, Richard Encinas, procurador do Estado de São Paulo, que dirige o Centro de Investigações de Crimes Cibernéticos do Ministério Público de São Paulo, conhecido como Cyber ​​Gaeco – fez o pivô para o digital, ajudando a lançar o esforço mais abrangente da indústria da música para erradicar as operações de stream falso, apelidada de “Operação Antidoping”.

Trabalhando com a Pro-Música, a organização comercial brasileira para gravadoras e afiliada da IFPI, e seu braço antipirataria, Apdif, a Cyber ​​Gaeco fechou 84 sites de aumento de stream no Brasil em 2021, usando principalmente avisos de desistência e ameaças de ordens judiciais, segundo a Billboard. Os sites compravam streams falsos, permitindo que artistas ou seus representantes comprassem “plays” gerados por bots (robôs) para aumentar a contagem de streams de suas músicas.

Foto: Unsplash

Essa foi a primeira vez no Brasil que streams falsos foram processados ​​como crime. Os promotores acusaram a prática de peculato e ganho ilícito, violando assim o Código de Defesa do Consumidor. Segundo a Billboard, a investigação também revelou o alcance internacional do problema: enquanto os sites estavam sediados no Brasil, a atividade real de aumento de fluxo foi realizada na Rússia por meio de “sites espelho”, em particular um site chamado “Just Another Panel”, diz Paulo Rosa, presidente da Pro-Música.

“Nenhuma empresa no Brasil tem tecnologia para fazer esses streams falsos”, diz Rosa. “Esta tecnologia vem de sites hospedados na Rússia.”

Enquanto os fraudadores geralmente buscam se enriquecer com royalties ilícitos de músicas, alguns artistas também estão usando streams artificiais para criar uma “velocidade falsa” que empurram as músicas para Playlists Editorais importantes e as ajudam a se tornarem virais, diz Morgan Hayduk, fundador e co-CEO da Beatdapp, um sistema de rastreamento baseado em Vancouver que autentica streams para DSPs.

“O que realmente importa é gerar velocidade”, diz ele, “enganando o algoritmo para pensar que há uma massa crítica de pessoas por trás dessa faixa”, afirma Hayduk

Em vez de perder tempo tentando rastrear e processar fraudadores individuais, o que pode levar anos e gerar resultados incertos, os brasileiros se concentraram em fechar blocos de sites indefinidamente e transferir os domínios da web para a Apdif. “Qual é o sentido de prender esses caras?” diz Encinas. “Nosso foco é proteger [streaming] legal” e “parar o crime”.

Tecnologia Hacker e ações internacionais para combatê-la

Na Alemanha, outro grande mercado de música onde a IFPI supervisionou os esforços para combater falsos streams, as Associações de Música adotaram uma abordagem semelhante em 2020 e 2021, quando usaram liminares e outras táticas legais para fechar nove sites. Lá, as associações usaram a lei da concorrência para argumentar que a manipulação de streaming era fraudulenta, enganosa e injusta para o negócio da música.

A Cyber ​​Gaeco também derrubou 15 sites que operavam no Brasil que vendiam serviços suportados por anúncios para baixar ilegalmente plays de vídeo do YouTube, derrotando as medidas de segurança da empresa. Dos operadores desses sites, 14 eram russos e um americano, diz Encinas.

Foto: NordWood Themes/Unsplash

De acordo com o promotor, Hackers russos fornecem suporte técnico a hackers brasileiros e a assistência na criação de streams fraudulentos é difícil de parar porque o governo russo tem sido indulgente com hackers russos que atacam empresas e indivíduos estrangeiros, desde que não operem na Rússia. Os hackers costumam disfarçar sua localização com ferramentas como VPNs. “Não tenho conhecimento da colaboração do governo russo com qualquer governo de qualquer país do mundo”, diz Encinas.

Ações da Indústria Musical contra falsos streams

A IFPI confirmou à Billboard que “um grande número de sites de manipulação de streaming parecem ser os ‘revendedores’ de serviços operados por terceiros”, embora “muitas vezes seja difícil identificar o método de manipulação ou os países em que os operadores desses serviços são baseados.”

Em relação ao portal “Just Another Panel”, acrescentou o IFPI, “é um nome que geralmente aparece em conexão com sites de revendedores que oferecem streams artificiais e outras atividades de manipulação”. Segundo a Billboard, o “Just Another Panel” nunca operou na Rússia e é desconhecido entre usuários russos e especialistas cibernéticos.

Billboard: executivos apontam o 'futuro da indústria musical em 2022'
Foto: Tech Daily/Unsplash

A única maneira de impedir que sites ilegais baseados na Rússia operem no Brasil, diz Encinas, é bloqueando o acesso ao território cibernético brasileiro. Os promotores usaram ordens judiciais nesses casos para forçar os provedores brasileiros de serviços de internet a proibirem endereços IP brasileiros de acessar sites russos, diz ele.

No entando, Hayduk diz que a indústria deve ir um passo além das recentes ações de aplicação da lei. Ele defende a criação de “segurança de plataforma fundamental” para os DSPs, onde árbitros neutros de terceiros (como seu próprio serviço) monitorariam dados de streaming em nível transacional para eliminar fluxos suspeitos – uma estratégia já usada em serviços financeiros, comércio eletrônico e digital publicidade.

“A questão é, como indústria, podemos coletivamente ficar mais inteligentes e capturar [proprietários de streams falsos] mais rápido e tornar o incentivo econômico menos poderoso?”, Hayduk questiona. O Spotify se recusou a comentar a sugestão de Hayduk, de acordo com a Billboard.

Resultados das ações

No Brasil, 90% das operadoras de stream falso – apenas uma das 84 fechadas retomou as operações – os incentivos para fraudar o mercado de streaming não mudaram. Desde 2016, as receitas de streaming do Brasil cresceram dois dígitos a cada ano, diz Rosa. O Brasil foi o principal mercado de crescimento mais rápido da América Latina em 2020, com receitas aumentando 24,5%, impulsionadas por um aumento nas receitas de streaming de 37,1%, que as colocaram em US $ 306,4 milhões no total (11º no mundo), disse a IFPI em seu “Global Music Report” de 2021.

Executivos da música brasileira apontam que os streams falsos coincidem com o crescimento das mídias sociais e a crescente das Fake News. O Brasil tinha 150 milhões de usuários de mídia social em 2021, um aumento de 10 milhões (7,1%) em relação a 2020, para uma penetração de 70,3% de sua população total (os EUA estavam em 72,3%), de acordo com o DataReportal, um site de pesquisa de tendências digitais.

“Vejo isso como mais uma ferramenta que foi trazida para o ambiente de mídia social”, diz Rosa. “Falsos streams surgiram nesse ecossistema. Tem mais a ver com ‘olha aqui está outra chance de fazer marketing’. Os artistas querem criar sucesso artificial.”