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Bernardo Sim – Britney Spears: De Volta Para o Futuro


Acordei na segunda-feira com uma manchete do The Washington Post circulando pelo Facebook: “Britney Spears é uma pop star permanentemente presa numa outra era”. Também me deparei com outras, como: “Uma eficaz, mas não gloriosa, tentativa de recuperar o estrelato do pop” (Billboard), “MTV acabou de envergonhar a Britney Spears no VMA” (The Daily Beast) e “Britney Spears criticada por fazer mimica no palco do VMA” (Mirror). Ouch.

Foram poucos os elogios que vieram da imprensa. A negatividade nem tão séria como no VMA de 2007, porém real. O feedback positivo parece ter vindo apenas do público ou de críticos que já eram fãs e estavam torcendo pelo grande retorno desde que este não tivesse sido uma grande vergonha.

Mas é com vergonha e completa sinceridade que venho aqui dizer que, apesar de ter crescido nos anos 1990, eu nunca acompanhei de perto a carreira da Britney Spears. Eu não tenho “saudade” da cantora que muitos cresceram amando. Eu não “sinto falta” de ver a cantora que muitos achavam incrível. Todo o meu conhecimento do catálogo audiovisual da Britney vem de pesquisas que conduzi através do Google, do YouTube e de amigos que sempre foram fãs. Na década de 90 eu estava muito ocupado com interesses em cinema, teatro, rock, hip hop ou qualquer outra coisa que não fosse a música pop no seu estado mais puro.

Eu sou o candidato perfeito para sentar aqui e falar muito mal dessa artista que em pleno 2016 se recusa a cantar, com a qual eu não tenho nenhum laço emocional ou história para contar.

Acontece que vocês, críticos de plantão, acabam se esquecendo do seguinte: a Britney Spears não está ali para te convencer de nada. Ela também não está ali para me convencer de nada. Não a leve a mal, mas essa é a grande verdade. Dá um nó na garganta ao identificar as pessoas que acham “o cúmulo” uma cantora de 34 anos não se apresentar da mesma forma que se apresentava aos 20, porque são estas mesmas pessoas que também acham um absurdo quando a Christina Aguilera não está com uma cintura fina, quando a Janet Jackson tem que cancelar uma turnê por problemas de saúde, quando a Cher passa séculos sem lançar nada, quando a Mariah Carey não atinge todas as notas todas as vezes como antigamente. Esta parcela reclamona do público é responsável pela criação da Madonna atual: uma lenda da música que fica se prestando a fazer certas coisas no intuito de convencer um público jovem e/ou sempre chato-pra-caramba de que ela é f*da. Repito: estas mulheres citadas não deviam estar ali para te provar coisa nenhuma. Elas envelheceram do mesmo jeito que você vai envelhecer, mas criaram um catálogo incrível o suficiente para se manterem ali para sempre. Não interessa se elas são boas ou relevantes para você. Elas estão naquele patamar por um motivo que vai além do seu julgamento.

Nem toda mulher no pop tem que ser Jennifer Lopez, que aos 47 anos está mais bonita do que nunca e passa a impressão de que canta e dança ainda melhor do que quando era mais jovem. É justamente por ela ser uma exceção que todo mundo fica em choque. Isto não faz dela alguém melhor do que outras lendas da música pop que alcançaram o topo de suas carreiras num outro momento.

Que bom que o “Glory” foi bem recebido, mas nem dez versões do morno “Britney Jean” apagariam o sucesso que foi a sucessão de discos “…Baby One More Time”, “Oops! I Did It Again”, “Britney”, “In The Zone” e “Blackout”. Eu não preciso viajar no tempo de volta para os anos 90 para entender o impacto destes trabalhos e desta cantora. Para entender que ela não deveria ligar para o que vocês acharam dela no VMA de 2016.

britney-spears

Todo mundo tem o direito de não curtir quem quiser. O pop está com uma leva de artistas novinhos extremamente talentosos e revolucionários. É difícil entender como uma artista como a Britney Spears se encaixa nesse paradigma. Olha o Troye Sivan, que veio lá da Austrália e já começou a carreira como gay assumido. Olha a Lorde, menor de idade compondo sobre temas seríssimos, nem aí para fazer cara de simpática. Olha a Alessia Cara, estourando com um hit de verão sobre como festas são chatas. O mundo é outro. O cenário pop mudou completamente. Porém, isto não deveria apagar os méritos e colocar para baixo as capacidades e virtudes de uma cantora como a Britney Spears. Ela sempre fez isso aí. Fazia um pouco melhor, realmente, porque era mais jovem e precisava se provar para o mundo, mas foi sempre mais ou menos isso aí mesmo. E era incrível na época. E fez muito sucesso. E mudou o pop para sempre. E se o mundo mudou, não é ela que precisa se adaptar. Não são vocês mesmos que reclamam quando a Madonna entre e sai das modinhas?

Se deixem viajar no tempo, galera. Se é muito anos 90, que seja, então! Tentem entender que cada artista tem uma proposta diferente. Tente curtir o que cada um oferece. A Britney Spears é isso aí. E é something sensational, se você se permitir curtir.