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A batalha de Anitta contra o preconceito até subir no Palco Mundo do Rock in Rio – Lisboa


Anitta faz show no Rock in Rio – Lisboa no próximo domingo (24/6), mesmo dia em que Demi Lovato e Bruno Mars se apresentarão no Palco Mundo. A data está com ingressos esgotados, o que significa que 90 mil pessoas passarão pela Cidade do Rock portuguesa no domingo. Além de ser o primeiro show de grande dimensão da Anitta fora do Brasil, o festival marca também uma conquista pessoal e profissional. A cantora teve que vencer o preconceito da organização do evento, avessa à sua origem funkeira, e provar por A+B que era merecedora do espaço na line-up. Ignorada nas edições brasileiras do Rock in Rio em 2015 e 2017, ela agora é o primeiro nome confirmado para o Palco Mundo de 2019, no Rio de Janeiro. Como diz a expressão popular, os Medina deitaram pra ela.

– Muita gente pediu pelo meu show, e é claro que adorei saber disso. Deu certo na hora certa. Vou levar um show incrível para Portugal. Vou realizar um sonho ao pisar no palco do Rock in Rio, que é um evento enorme, e estou muito feliz. De zero a dez, eu diria que o grau de ansiedade é oito (risos). Na véspera, vai chegar a dez. Por enquanto, estou tentando conter esse sentimento. Já pude sentir o gostinho da plateia europeia nos shows que fiz na Espanha, e foi incrível. Acredito que agora também será. – ela disse ao jornal Extra.

Em 2015, Anitta passou pela Cidade do Rock carioca como espectadora. Na época, estava na boca do povo com “Deixa Ele Sofrer” e vinha na esteira dos sucessos de “Show das Poderosas”, “Zen”, “Blá Blá Blá”, “Na Batida” e “Ritmo Perfeito”. Até rolaram especulações sobre a escalação dela ou de Naldo Benny para a line-up, mas nenhum jovem brasileiro ocupou o Palco Mundo. Anitta ficou só no camarote VIP, assistindo de longe ao show da banda Queen com Adam Lambert. Não achou ruim. Em 2013, quando fora pela primeira vez ao festival, havia dito: “nunca tive dinheiro para ver nenhum show do Rock in Rio, nem dessa proporção. Hoje estou realizando um sonho. Para o artista é importante marcar presença num evento como esse e ficar por dentro do que existe de novidade na música”.

Corta para o mês seguinte: saiu “Bang”, um divisor de águas na carreira da cantora. Foi um dos singles mais tocados de 2015 e 2016, entrou no game “Just Dance”, ganhou paródias e rendeu muitos elogios. Anitta se firmava como popstar. Com isso, quando a line-up de 2017 do Rock in Rio começou a ser montada, já tinha gente dando seu nome certo. A essa altura, ela já contava com mais hits – “Essa Mina É Louca” e “Sim ou Não” (com Maluma). Anitta chegou a travar sua agenda, para estar livre para o festival em setembro de 2017. Mas rolou um impasse. O ano virou, os ingressos começaram a ser vendidos, e nada de anunciarem o nome da cantora. Em fevereiro, o jornalista Léo Dias, do O Dia, trouxe a bomba à tona: “Rock in Rio barra Anitta como uma das atrações”. O motivo: Roberta e Roberto Medina, filha e pai responsáveis pelo festival, não gostam de funk. Roberto Medina, criador do evento, declarou publicamente que Anitta “não se encaixava” no perfil do festival. Em março, a própria cantora se pronunciou: “não gosta, não contrata”.

Só que 2017 também foi o início da carreira internacional da cantora. Anitta lançou “Paradinha” em maio e “Sua Cara” (com Major Lazer) em julho. No Brasil, ainda contava com o sucesso de “Loka” (com Simone e Simaria) e “Você Partiu Meu Coração” (com Nego do Borel). “Sim ou Não” ainda tocava incessantemente. Maluma veio ao Brasil só para cantar com ela. Anitta foi parar no palco do programa do Jimmy Fallon nos Estados Unidos, junto com Iggy Azalea, e entrou em paradas da Billboard. Os Medina não esperavam por nada disso. Em julho, Roberto convidou a cantora para uma reunião. “Não tenho afinidade com a música dela, não achei que encaixava”, ele disse à Folha de S. Paulo, “ela está indo para um caminho pop que a aproximava mais do Rock in Rio, como a própria Ivete entrou nesse caminho. Não tenho nada contra ela. Estou conversando com ela. Almocei com ela outro dia e fiquei impressionado. Ela é uma empresária, tem uma visão de marketing”.

Em setembro, Rock in Rio! Fogos de artifício, “ô ô ô”, e 85 mil pessoas diariamente no festival. Em todos os dias, Anitta foi ouvida incessantemente: stands de patrocinadores, lojinhas e camarotes tocavam os hits da cantora o tempo todo. Mas ela não estaria ali. Houve uma grande pressão popular para que Anitta deixasse o lugar aberto pelo cancelamento do show de Lady Gaga, mas o Rock in Rio colocou Maroon 5 para fazer uma dobradinha (que não agradou). A esta altura, o projeto “CheckMate” já havia começado e Anitta fez questão de estar fora do Brasil durante o festival. Negou convites para participar dos shows do Jota Quest e da americana Fergie (sendo substituída por Pabllo Vittar). O climão era real/oficial. Se ela não ia contratada do evento, também não iria de outra forma. Durante os dias do festival, ela liberou uma nota por sua assessoria de imprensa anunciando que criaria seu próprio festival, “democrático”, envolvendo todos os estilos. Uma clara provocação.

Com o evento rolando, Roberto Medina anunciou que ela estaria na edição de 2018 do Rock in Rio – Lisboa, tentando acalmar os ânimos. Não funcionou. A própria Anitta veio a público dizer que não tinha fechado nada. “Sim o convite foi feito. A mudança da essência do show para que ele fosse mais pop foi um pedido. Mas não me sentiria confortável em renegar minha essência e maquiar o ritmo que me fez chegar onde estou”, contou à revista Quem, “também acho que não seria justo com meu público e com a série de pessoas que dependem do funk com o qual me comprometi a levantar a bandeira e ajudar a crescer da maneira que o mesmo fez comigo. Mas tudo é conversável. Se eu puder fazer um show autêntico como todo artista faz, vou adorar fazer o Rock in Rio no Rio ou em qualquer lugar do mundo. Seria um prazer enorme”. Ela começava ali uma batalha pela legitimação do funk em seu show. Desde que estourou, a cantora nunca abandonou o gênero. Em todas suas apresentações, sempre há “o momento funk” – para rebolar a bunda até o chão e fazer quadradinho.

“Is That For Me”, “Downtown”, “Vai Malandra”, “Machika”, “Indecente”… Anitta se internacionalizou, foi abraçada pela comunidade latina e viu seus singles bombarem sobretudo em Portugal. Para os Medina, agora ela se encaixa no perfil. Chega ao Rock in Rio – Lisboa como uma artista conhecida e querida do público português, como Ivete Sangalo. E, no Brasil, não é preciso dizer muito. Anitta venceu. Em 2016, no palco do festival sertanejo Villa Mix, a cantora, visivelmente irritada, prometeu: “um dia, eu vou fazer nosso funk carioca ser respeitado no nosso país”. O contrato com o Rock in Rio é um símbolo importante neste caminho. Vocês pensaram mesmo que ela não iria rebolar a bunda dela no Palco Mundo?