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Atração do Lollapalooza, Arctic Monkeys promove encontro de gerações em show empolgante no Rio


Foto: Alessandra Tolc

Não. Você não está prestes a ler uma resenha sobre o show do Paul McCartney. Como poderia uma banda com pouco mais de 15 anos ter atraído duas gerações distintas? O Arctic Monkeys foi capaz de renovar seu público em tão pouco tempo por não ter medo de inovar a cada disco. Alex Turner e seus companheiros promovem o corajoso Tranquility Base Hotel & Casino (2018), cuja sonoridade climática flerta até mesmo com ficção científica. Este quem vos escreve pode testemunhar cada visita desta banda. E garanto: desde a primeira vinda em 2007, muita coisa mudou. E foi sob esta perspectiva que vi jovens músicos britânicos, extremamente tímidos, ganharem estofo musical e tornarem-se um dos maiores grupos da atualidade.

Com um atraso incomum de 30 minutos, a banda subiu ao palco ao som da matadora “Do I Wanna Know?”, faixa que abre AM (2013), o trabalho antecessor e responsável por levar os Monkeys aos grandes estádios e arenas. Como de praxe, “Brianstorm” (de Favourite Worst Nightmare, 2007) é a segunda do setlist e consegue aquecer ainda mais o público de 13 mil pessoas na Jeunesse Arena. À essa altura, algumas cervejas já voavam pelo público enquanto os acordes ecoavam alto. Entretanto, apenas na quinta música houve a incursão do novo álbum: “One Point Perspective” mostra o guitarrista e vocalista Alex Turner ao piano, sem destoar do que já havia sido mostrado anteriormente.

Foi neste momento de calmaria que dois adolescentes goianos de 17 anos se aproximaram de mim e cantavam abraçados a nova música como se não houvesse amanhã. Ambos curtiam pela primeira vez um show em suas vidas e já reclamavam um pouco de cansaço. Eu, com meus 35 anos, pensava o que teria sido deles se pudessem ter curtido a apresentação de 2007, quando a banda mostrava petardo atrás de petardo de seus dois primeiros (e furiosos) álbuns e mal se comunicava com o público. E foi desta fase que veio “I Bet You Look Good on the Dancefloor”, do sensacional álbum de estreia Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006), seguida pela rápida “Library Pictures”, “Knee Socks” e “The Ultracheese”, quando Turner assume mais uma vez seu lado crooner com ares de Nick Cave. É inusitado vê-lo andando por todo o palco e interagindo com o público quando se tem na memória afetiva aquele rapaz que parecia querer se esconder atrás do microfone. Nesse momento, o público promove um espetáculo de luzes por toda a arena com os celulares.

Embora o setlist promova uma espécie de “vai-e-vem” entre os discos e as fases da banda, é a atitude dos músicos que impressiona. Depois de botar o público pra dançar com “Teddy Picker”, “Dancing Shoes” e a funkeada “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, os Monkeys mergulham em seu lado romântico com “Cornerstone” e “505”, uma das favoritas dos fãs. O set vai chegando ao fim com a bowieana “Four Out Of Five”, que até então abria os shows desta turnê. Se há um senão (de minha parte) é o fato desta mudança ter ocorrido nos setlists deste ano. Para quem foi aos shows de 2014 e viu “Do I Wanna Know?” na abertura novamente, ficou com a sensação de déjà vu. Pois até mesmo o visual escolhido pelo frontman mais se assemelhava à era AM do que a atual.

O bis com a nova “Star Treatment”, “Arabella” e “R U Mine?” resume o que foi a noite de uma banda que agora desafia seu público e imprime registros sonoros dramáticos e energéticos. Alex Turner, Matt Helders, Jamie Cook, Nick O’Malley e os quatro músicos de apoio que os acompanharam durante a apresentação foram aplaudidos fervorosamente por uma plateia que pedia incessantemente por “Do Me A Favour” (2007). Mas os músicos não abriram espaço para improvisos, tendo repetido o mesmo setlist dos shows na Argentina e no Chile. Fato é que quem passou a surfar a onda do Arctic Monkeys a partir de Suck It And See (2011) estava mais propenso a entender o caminho que Turner e o resto da banda preferiu seguir. Por fim, os adolescentes goianos pareciam extenuados de uma noite que alternou muitos momentos. Ah, se eles soubessem o que eram os Monkeys com seus 20 e poucos anos e despejando toda fúria do mundo em seus instrumentos…

Foto: Alessandra Tolc

SETLIST
Do I Wanna Know?
Brianstorm
Snap Out Of It
Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
One Point Perspective
I Bet You Look Good On The Dancefloor
Library Pictures
Knee Socks
The Ultracheese
Teddy Picker
Dancing Shoes
Why’d You Only Call Me When You’re High?
Cornerstone
505
Tranquility Base Hotel & Casino
Crying Lightning
Pretty Visitors
Four Out Of Five

BIS
Star Treatment
Arabella
R U Mine?

O Arctic Monkeys toca no Lollapalooza Brasil nesta sexta-feira (5). O festival acontece entre os dias 5 e 7 no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.