Anitta ainda está cancelada ou já foi descancelada pelo público LGBTQI+? Essa é a pergunta que norteia o novo vídeo do youtuber Spartakus Santiago, com 145 mil inscritos em seu canal. Citando um estudo criado pela Agência Mutato sobre a cultura do cancelamento, o influenciador analisou o caso da cantora – que decepcionou grande parte do público ao demorar em se posicionar politicamente nas eleições presidenciais de 2018, que elegeram Jair Bolsonaro. Desde então, muita gente nutre o famoso “ranço” por ela.
Spartakus, entretanto, acredita que Anitta possa estar passando pelo processo de “descancelamento” – quando pessoas que erraram depois acertam e são perdoadas por seu público. “Não significa necessariamente passar pano para os erros alheios, esquecer os deslizes de quem pisou na bola. Isso significa, na verdade, humanizar as pessoas e vê-las como seres complexos, que tem lados positivos e negativos, em vez de separá-las como mocinhos e vilões”, diz o influenciador, formado em Comunicação Social pela UFF.
O motivo para o “descancelamento” são os recentes posicionamentos políticos da cantora, que passou a fazer “lives” de educação política no Instagram. Anitta já discutiu com deputados por conta de direitos autorais de artistas e do desmatamento na Amazônia. “Anitta começou, do nada, a se posicionar politicamente. (..) Além de mostrar humildade, aberta a conhecer mais sobre o assunto, ela também mostrou muita falta de conhecimento”, sublinhou Spartakus.
“A ignorância política de Anitta revela mais uma coisa: que ela foi cancelada não só por seu deslize, mas pelas expectativas irreais que seu público criou sobre ela. As pessoas começaram a enxergar em sua obra não só uma cantora, mas um ícone militante. Começaram projetar na sua obra a representação de várias lutas, que eram bandeiras que Anitta talvez nem entenda direito”.
Expectativa é irmã da decepção
De acordo com Spartakus, se uma pessoa se torna influenciadora de sua comunidade, exista a expectativa de que ela seja um modelo, um ideal a ser seguido. Em resumo, sem falhas. Anitta, de cantora, passou a ser vista como defensora de causas. Foi coroada da rainha da parada LGBTQI+ de São Paulo e, com isso, passou a ser cobrada. “Neste momento, as pessoas já tinham criado expectativas de que Anitta representasse muita coisa: os brasileiros, as mulheres, as pessoas de periferia, e as pessoas LGBTs”, disse o influenciador.
Mas Anitta foi mesmo cancelada?
O cancelamento implica no “boicote” à obra ou o produto de terminada pessoa e empresa. Depois da polêmica do #EleNão tardio nas eleições, Anitta continuou trabalhando, lançou muitas músicas e, de fato, não fez sucesso com todas elas. Mas outras foram verdadeiros hits sim – como “Combatchy”, que foi nº1 no Spotify Brasil. Spartakus aponta o cancelamento seletivo: “mesmo que uma parcela do público tivesse se decepcionado com ela, isso não representava o todo. (…) Talvez o público LGBT tenha superestimado seu poder de cancelar Anitta, quando eles não eram os únicos que a financiavam”.
Assista ao vídeo de Spartakus
Recentemente, a própria Anitta falou sobre seu cancelamento. “Não é algo que me abala. Não tenho medo, fico tranquila, sigo minha vida normal. Tenho muita consciência de que eu sou uma pessoa do bem, sei do meu caráter. Qualquer julgamento que seja feito na internet… Pode vir me cancelar, mas é só eu ‘reiniciar’ e está tudo certo”, declarou ao jornal Extra.
“Eu já fui cancelada 700 mil vezes e acho que só fiz alguma coisa de errado em 10% (risos). Em 90%, estava quieta no meu cantinho. Não sofro nem morro por isso”
A cantora fala que se sente lisonjeada pelas pessoas quererem saber o que ela pensa. “Mas precisei aprender isso da pior forma em 2018. Não gosto de opinar sobre assuntos que desconheço”, explica. Anitta admite que, na época, não era muito informada e estava alheia ao tema.