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Anitta discursa por cinco minutos sobre Bolsonaro, política no Brasil e cobrança por posicionamento


Anitta concedeu uma entrevista ao “La Tercera” no Chile e falou abertamente sobre a situação política do Brasil e sua decisão de se posicionar contra Jair Bolsonaro (durante o movimento #EleNão) após grande pressão do público. A cantora tratou do tema por mais de cinco minutos na entrevista, instigada pela pergunta do jornalista: “o Brasil vive uma nova realidade política. Você, de alguma maneira, tem uma visão pessoal sobre o que aconteceu nos últimos meses em seu país?”. Confira o vídeo (em espanhol) com a resposta da cantora e a tradução logo abaixo:

“A situação no meu país agora está muito difícil sobre esse tema, porque está tudo muito forte nos extremos, como se fosse água e vinho, e você tem que escolher um lado, dizer de que lado está, porque as pessoas te cobram. Como entretenimento, como cantora, eu antes não expunha minha opinião política em nada. Eu fiz isso pela primeira vez neste ano, por essa situação. Eu não colocava minha opinião política em nada, porque acredito que – quando você tem uma carreira grande – as pessoas sempre vão te perguntar e te pressionar até o final. Eu te asseguro que política – como te disse não tive uma educação forte no Brasil, eu vim de um lugar onde não havia muitas oportunidades – então se você me pressiona até o final em uma questão política eu vou ficar tipo ‘não sei responder nada’, porque não entendo, não tive tempo de me aprofundar. Estou estudando tantas outras coisas, que tem a ver com meu trabalho, e não tive tempo de me aprofundar em política desta maneira. Sempre tive medo de me posicionar politicamente. Medo de influenciar as pessoas com algo que eu ainda não sei falar tão bem. Acho que isso é uma responsabilidade muito grande. O que aconteceu no Brasil… Eu não compreendo quem é melhor – estrategicamente economicamente, para a educação, para a economia – eu não sei te dizer. Não estudo para isso, de verdade não sei. Mas, socialmente, como artista, começaram uma onda, uma febre de colocações sociais, posições a respeito da sociedade, que não há como uma artista como eu, que representa a diferença, as minorias… Eu acho que independente do que seja necessário, não posso estimular o público a pensar que ter pensamentos anti-sociedade é algo que deve ser estimulado. Estou sempre cantando para a comunidade LGBT… Não posso estimular o pensamento de que está correto ter preconceito com algo”.

A cantora admitiu que às vezes não há como fugir de certas responsabilidades. “Não há como agradar a todos. Às vezes você tem que se posicionar com o que você sente no coração. De verdade, socialmente, tenho pensamentos de que não posso estimular as pessoas a pensarem diferente disso. Mas se você me pergunta politicamente, estrategicamente, economicamente, não entendo nada disso”. Ela, no entanto, prefere estimular o público a pensar por si só, de outras maneiras, com suas músicas e seus clipes. “Sempre que faço música, eu tento não fazer músicas só para que as pessoas desfrutem e dançem”, explica, “tento fazer que as pessoas aprendam algo. Ou que não aprendam [diretamente], mas que aprendam a discutir, debater e respeitar que o outro pense de maneira diferente. Você pode pensar de maneira completamente diferente de mim, e não vou deixar de ser sua amiga por isso. Eu respeito que você tenha outros ideais em sua vida. Para mim, quando faço um clipe e chamo uma drag queen, é para colocar a drag queen na pauta. Ou se mostro minhas celulites é para que as pessoas vejam e falem sobre isso. O fato de poder conversar, sem que haja uma briga, já é um lucro: respeitar as diferenças de pensamento”.