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Amanda Faia

Amanda Faia: as críticas e a falta de empatia afetam a Demi Lovato e a todos nós

Eu, Amanda Faia, tenho 37 anos. Provavelmente eu tenho mais tempo nesse mundão que muitos leitores do POPline. Minha infância e adolescência foram longe de redes sociais, de bola e casinha com os amigos. Tenho um pai amoroso, um trabalho que amo, quase 20 de jornalismo, um casamento incrível e um filho lindo. Nem sempre foi assim e no meio da turbulência de tentar crescer como pessoa e criar uma carreira bem sucedida, caí e cheguei a depressão e altas crises de ansiedade. De lá para cá lido com as consequências, há altos e baixos.

Eu apresentei, sem vergonha alguma, um pedacinho da minha vida para tentar conversar com vocês sobre uma nova perspectiva. Todo mundo tem seus demônios. Aqueles que questionam você, que colocam o que você conquistou e o que você é como pessoa em cheque. Que te elevam às alturas, te afastam do chão e sorriem ao te jogar de volta de cara a terra firme. Eu, você, TO-DOS temos nossos demônios e a primeira lição já fica aqui: não cabe a ninguém mensurá-los. Não há menos ou mais sofrimento quando se está no caos. Não dá para comparar a escuridão de cada um.

Aqui vai outra: a empatia. Na verdade, a falta dela. Já percebeu como todo mundo anda áspero? Intolerante às opiniões adversas? Às vezes violento por encontrar alguém que apenas discorde? Lidar com mentes contrastantes pode ser um tormento, mas na hora que a palavrinha empatia é colocada em prática, o diverso pode ser engrandecedor. Aprender e aceitar que todos nós somos diferentes é libertador para ambos os envolvidos.

E agora eu cito o assunto dessa coluna, Demi Lovato. Ontem, ao ser a primeira pessoa da redação a saber da internação da cantora, eu fiquei sem chão. Por alguns minutos eu não sabia como proceder com a cobertura. Um a um, a equipe foi aparecendo no chat e o primeiro comentário tinha o mesmo tom: “tô em choque e triste”. Todos. A gente custa a crer que alguém que a gente quer bem passe por algo tão grave. Não conhecemos Demi pessoalmente, não temos intimidade com ela, mas a acompanhamos desde muito cedo e é normal a sensação de que ela cresceu conosco, esteve sempre ali perto – mesmo que seja online.

Como muitos, imediatamente lembrei de “Sober”, das recentes atitudes da cantora, do falatório interno entre fãs (que a gente lê, não publica, mas está ciente) e da coluna do Leonardo Torres. Na época, ele foi imensamente criticado por demonstrar preocupação com a cantora. “A letra é sobre algo do passado, pare de dramatizar, POPline quer chamar atenção” etc. Não é, não estamos e não queremos. A preocupação era real e ainda é.

A verdade é que só Demi e pessoas muito próximas a ela sabem o que realmente está acontecendo e na terra de ninguém chamada redes sociais, todo mundo acha que tem direito de dar pitaco. E sempre num tom de cobrança e de deboche. Tente se colocar no lugar do outro. A pessoa que possui problemas de depressão, ansiedade, com drogas lícitas e ilícitas, transtornos alimentares nunca está curada. Sempre está em controle. E controle pode se perder. Basta uma palavra, uma atitude. Vai de cada um.

Em outros momentos, publicamente, demonstrei minha admiração por Demi. Se é difícil falar abertamente sobre seus problemas, imagine com o mundo te olhando e uma boa parte te criticando. Pense aí no seu demônio sendo falado por todos, te apontando o dedo todo o dia, te tentando… não é fácil. Potencialize essa conversa no caso de Demetria. É uma jovem de quase 26 anos, talentosa, linda, simpátia, rica, inteligente… mas dependência e outros tipos de transtornos não tem cor, idade, faixa, classe social. E não cabe a NINGUÉM JULGAR.

Vimos esse filme N vezes e parece que aprendizado algum tiramos. Madonna disse: matamos Michael. E na época do caos da vida dele não existia o falatório e acesso às redes sociais como atualmente. Vimos Whitney cair, Amy, Avicci, Chester, Selena sendo internada mais de uma vez, fazendo transplante enquanto fãs reclamavam da falta de divulgação de single, Gaga doente e recebendo paulada, Britney careca, sem dinheiro e sem a guarda dos filhos.

O filme só muda de protagonista e os seus executores continuam tendo voz. Vamos exercer a empatia, por favor. Do outro lado da tela tem um ser humano igualzinho a você. E olhe para o seu demônio primeiro e reflita antes de apontar o dedo para o outro. Em um mundo que precisamos de união, até quem passa por algo semelhante levanta a mão pra bater. Até quando?

“Quando você se encontrar passando por momentos difíceis, você pode pensar que a vida acabou e está arruinada. Mas você não está nem perto. Quando eu estive em tratamento eu estava convencida que minha vida havia acabado. Pensei que não teria carreira e que as pessoas não gostariam mais de mim. Pensei que era o fim, mas era o primeiro dia do resto da minha vida. Não importa o que aconteça, você pode recomeçar e achar algo positivo em um novo começo”

(Trecho retirado do livro “Stay Strong”, da Demi Lovato, publicado em 2013. Para cada 365 dias do ano, há uma mensagem. Essa é do dia 24 de julho)

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