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Amanda Faia: “Homecoming” é mais do que o show de Beyoncé no Coachella

Se a essa altura do campeonato você ainda não percebeu, a gente desenha: Beyoncé só quer que você saiba o que ela quiser te mostrar. E isso não é uma crítica negativa. Para uma pessoa que cresceu com um pai opressor e que se vê alvo da mídia especulativa há décadas, é incrível na verdade o que ela fez depois que assumiu de vez as rédeas da sua carreira. Ela só mostra o que quer, na hora que quer e cada frase, frame de vídeo, detalhe é pensado por ela própria. Por isso que categoricamente eu afirmo: Beyoncé não é superestimada. Você pode não gostar do que ela produz e você tem esse direito, mas derrube as barreiras da crítica pessoal e assuma: Beyoncé é uma ARTISTA com todo o peso que isso imprime. Ao mesmo tempo é humana e por isso que suas fraquezas aparecem em poucos momentos.

Beyonce no 1º final de semana do Coachella / Foto: Getty Images (uso autorizado POPline)

Ela sabe o poder do marketing e do peso que é ser uma mulher negra no mundo sexista da música casada com um dos maiores rappers norte-americanos e o que isso trouxe para sua auto estima durante esses anos todos. É exatamente por isso que os discursos sobre empoderamento feminino e da raça negra se repetem há alguns trabalhos e culminaram com o excelente show no Coachella apresentado ano passado e que chegou à Netflix na madrugada desta quarta (17).

É um espetáculo memorável e vai muito além de “ser a primeira mulher negra headliner” do Coachella. O clima universitário criado em um ano de trabalho por trás dos dois dias apresentados no festival pode ser distante do brasileiro, mas faz inteiramente sentido quando se pensa no que isso representa culturalmente nos Estados Unidos, principalmente entre negros. A banda, os movimentos, os malabarismos, os passos, as formações, as residências… estava tudo ali representado e seria realmente uma enorme pena não termos isso documentado da maneira que exigia: em alta qualidade em riqueza de detalhes. É histórico, é defesa de direitos, é exaltação da raça negra, é político, é entretenimento, é arte.

Para somar, o “Homecoming” te traz frases impactantes de intelectuais negros, mostra os bastidores de criação, ensaios e exibe o exercício mental de Beyoncé ao criar cada detalhe do seu universo amarelo e rosa. Se você ainda não se deu conta do enorme trabalho: só no Spotify são 40 faixas do ao vivo, 2 horas e 17 minutos de documentário na Netflix (onde o show toma o maior tempo), quatro meses de ensaio só da parte musical, inserções de gritos, stomp, samples, mais quatro apenas para a coreografia, ensaio sem som apenas para sentir a vibração de cada passo. É mais uma prova que não há uma vírgula no projeto colocada ali de forma aleatória. É calculismo puro e é necessário ser exaltado. Ser artista e dar a luz a uma obra é fazer que ela perdure. Beyoncé é mestre nisso!

Beyonce no 1º final de semana do Coachella / Foto: Getty Images (uso autorizado POPline)

Não adianta torcer o nariz. Nem todo mundo pode entregar o que ela entregou. Ao mesmo tempo, era o primeiro show após dar luz aos gêmeos Sir e Rumi, uma gravidez complicada que descobrimos apenas no documentário. Lembre-se: você só vê e descobre quando ela quer, da mesma forma quando descobrimos sobre um aborto há alguns anos e a barriguinha de gravidez da Blue em pleno VMA. Até mesmo a sua opinião para a história da briga no elevador que veio citada em música – e só. Recado dado, next.

Beyoncé tem 22 anos de carreira e ela não teria conseguido produzir tudo isso sem essa experiência aprendida, como ela mesma diz em “Homecoming”, na escola Destiny’s Child, na escola da vida. Se o Coachella é dito como o ponto alto da carreira desse furacão e sabendo que ela não costuma aceitar o status que sua carreira se encontra, sempre tentando se reiventar, é evidente a ansiedade para o pós-Beychella.

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