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Emicida

Além de AmarElo: 15 músicas para conhecer a carreira – e militância – de Emicida

“AmarElo” foi certamente um dos destaques da semana. A nova música do Emicida lançada na última terça-feira (25) repercutiu pela sua mensagem de superação, letra e clipes fortes e as belas participações de Majur e Pabllo Vittar.

Para muitos foi a primeira aproximação à carreira deste rapper paulista que vem há 10 anos fortalecendo a cena da música negra aqui no Brasil. “AmarElo” não é a primeira canção representativa de Emicida e exatamente por isso, reunimos 15 músicas que você precisa ouvir do artista. É uma excelente forma de você conhecer mais um pouco e entender a trajetória do cara até a poderosa “AmarElo”.

Passarinhos

Com a ajuda da voz delicada de Vanessa da Mata, Emicida parece entregar para o mundo uma música leve se você prestar apenas no refrão. No entanto, os passarinhos soltos e dispostos a buscar um ninho estão nesta procura por estarem doentes. Na faixa, o rapper fala de um mundo mentiroso, caótico, competitivo “que ninguém vence”, com zero zelo pela natureza.

No pé que as coisas vão, Jão
Doidera, daqui a pouco, resta madeira nem pros caixão (…)
Injustos fazem leis e o que resta pro cêis?
Escolher qual veneno te mata
Pois somos tipo

Pantera Negra

A negritude é recorrente nas letras de Emicida. Da periferia de São Paulo veio o rapper nascido nas competições de freestyle e a violência e a força da raça está em uma das mais expressivas sobre o tema: “Pantera Negra”.

A era vem selvagem
Pantera sem amarra
Mostra garra negra
Eu trouxe a noite como camuflagem
Sou vingador, vingando a dor
Dos esmagados pela engrenagem
Ceis veio golpe, eu vim Sabotage

Levanta e Anda

Uma das mais famosas de Emicida também traz a dificuldade de crer nos sonhos para quem nasceu e é/foi criado na periferia. O destino muitas vezes é imposto pelas condições financeiras e por uma concepção pre estabelecida sobre pobreza minando a esperança de um futuro melhor.

Quem costuma vir de onde eu sou
Às vezes não tem motivos pra seguir
Então levanta e anda, vai, levanta e anda
Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz prosseguir
Vai, levanta e anda, vai, levanta e anda

Mãe

A família está na discografia de Emicida. Em “Ooorra” ele fala da ausência de um pai e como a mãe sacrificou para ter o que colocar na mesa, mas é em “Mãe” que ele enaltece ainda mais a figura feminina e a força. A faixa também traz a disparidade entre mundos e a diferença de perspectivas das diversas bolhas deste país.

Um sorriso no rosto, um aperto no peito
Imposto, imperfeito, tipo encosto, estreito
Banzo, vi tanto por aí
Pranto, de canto chorando, fazendo os outro rir
Não esqueci da senhora limpando o chão desses boy cuzão
(…)
Outra festa, meu bem, tipo Orkut
Mais de mil amigo e não lembro de ninguém
Grunge, Alice in Chains
Onde ou você vive Lady Gaga ou morre Pepê e Neném
Luta diária, fio da navalha. Marcas? Várias
Senzalas, cesáreas, cicatrizes
Estrias, varizes, crises
Tipo Lulu, nem sempre é so easy
Pra nós punk é quem amamenta, enquanto enfrenta a guerra

Triunfo

Embora já fosse famoso nas batalhas de rima, Emicida ainda trabalhava como pedreiro quando lançou seu single de estreia. Com direito a sample de “bang bang italiano”, a faixa traz versos carregados da agressividade das batalhas e mostra a fome de vitória de um jovem que desejava vencer na vida. Mas o que mais chama atenção é a consciência do rapper, desde o início, sobre as armadilhas que a fama repentina pode trazer.

“Nóis quer mulher sim, quer um dim também
Quer vê todos neguinho lá vivendo bem
Só que aí pra mim a luta vai além
Quem pensar pequeninin tio vai morre sem
Não faço mais que alguém não só saí da lama
Os que caiu foi porque confundiu respeito e fama
Na minha cabeça não existe equívoco ameno
O jogo é sujo, vai ganhar mais quem erra menos”

Hoje Cedo

Na novíssima “AmarElo”, Emicida lembra que a parceria feita com Pitty em 2013 não era um hit fácil, mas muito mais que isso: um verdadeiro pedido por socorro. Nela, Emicida canta o peso de carregar uma fama exacerbada nas costas, se enxergar em um lugar que não é o seu, distante de quem se ama. Uma mente despreparada para este turbilhão de novidades pode se afundar em álcool e drogas, tal como Amy Winehouse, citada na letra.

Holofotes fortes, purpurina
E o sorriso dessas mina só me lembra cocaína
Em cinco abrem-se cortinas
Estáticas retinas brilham, garoa fina
Que fita, meus poema me trouxe onde eles não habita
A fama irrita, a grana dita, ‘cê desacredita? (…)
Crise, trampo, ideologia, pause
E é aqui onde nóis entende a Amy Winehouse

Baiana

Emicida já misturou rap com bossa nova nesta canção que evoca a cultura baiana ao mencionar, por exemplo, o Olodum, o Pelourinho, o Farol da Barra, a Lagoa de Abaeté e elementos religiosos. Aqui, o rapper retoma a parceria com Caetano Veloso nesta doce homenagem às mulheres e às mais plurais formas de amor.

“Baiana é bom de ter aqui
Na Salvador de cá, Salvador dali
Maria pela mão de mestre Didi
Do sol de escurecer os tom de Kariri
É o mito em Orubá, bonito pode pá
Água de Amaralina, gota de luar
É leite ocular, rito de passar
Me lembrou Clementina a cantar
Dois de Fevereiro, dia da Rainha
Que pra uns é branca, pra nóiz é pretinha
Igual Nossa Senhora, padroeira minha”

Zica, Vai Lá

Em 2011, o Santos voltou a ser campeão da Copa Libertadores da América após 48 anos. Torcedor fanático do clube, o rapper escreveu uma de suas canções mais conhecidas a partir de uma provocação aos rivais que teriam “inveja” do Alvinegro Praiano. À época, Neymar já era conhecido mundialmente por conta de seus dribles e participou do clipe. É possível versar despretensiosamente e alertar aos demais para que busquem suas vitórias sem diminuir as conquistas dos outros? Emicida provou que sim.

Em poucos takes, pus mix tapes
No top dez discos do ano e eles odeiam rap lá mano
Amor e flow, muito flow
Aê, respeita quem pode chegar aonde a gente chegou
Meu treinador é deus
Me escalou pra jogar
Olhou pro banco e disse
Zica, vai lá
Cumprimentei os meus
Me benzi pra atacar
Lembrei da frase ali
Zica, vai lá”

Mandume

Emicida também dá aulas de História em forma de música. Aqui o rei angolano Mandume Ya Ndemufayo, último líder de um povo que ficava entre o Sul da Angola e o Norte da Namíbia, é homenageado como símbolo de luta e resistência. Mandume morreu lutando contra alemães e portugueses que detinham o poder colonial sobre Angola. A representatividade negra ganha peso com a participação de nomes como Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaafin, que explicitam um ponto comum na vida de muitos brasileiros: sacudir a poeira e dar a volta por cima todos os dias.

“Banha meu símbolo, guarda meu manto que eu vou subir como rei
‘Cês vive da minha cicatriz, eu tô pra ver sangrar o que eu sangrei
Com a mente a milhão, livre como Kunta Kinte, eu vou ser o que eu quiser
Tá pra nascer playboy pra entender o que foi ter as corrente no pé”

Eminência Parda

A opressão histórica ao povo preto volta a aparecer nesta canção. O título da canção é uma provocação ao termo em francês “éminence grise” que tinha uma conotação negativa há séculos atrás. Mas os tempos são outros e Emicida, mais provocador do que nunca, convoca seu povo a mostrar de onde emana o verdadeiro poder.

Não tem dor que perdurará
Nem o teu ódio perturbará
A missão é recuperar
Cooperar e empoderar
Já foram muitos anos na retranca (retranca)
Mas preto não chora, mano, levanta

Oásis

E se as adversidades batem à nossa porta todos os dias, a gente tem de tirar forças para revertê-las. Nesta parceria com o cantor norte-americano Miguel, Emicida canta sobre aproveitar a vida mesmo em meio às dificuldades. Em “Oásis”, a dupla fala sobre coisas ruins que acontecem em nossa realidade e propõe criar um lugar que no meio do caos consegue te dar algum prazer, alguma esperança.

Esquecer notícias difíceis
Bombas, mísseis, Faixa de Gaza
Simples crer que ainda vou ouvir
‘Cê dizer “mi casa, su casa”
Tipo um oásis
Um oásis
Um oásis
Um oásis

8

Na faixa do mais recente disco lançado, a sociedade cega, cada vez mais separatista incomoda Emicida. Estamos distantes e ao invés de usarmos o poder da tecnologia para aproximarmo, descobrirmos e discutirmos ideias, cavamos ainda mais a linha que nos mantém isolados em bolhas.

Salve quebrada, século XXI chegamos, mas quem diria?
Na era da informação a burrice dando as carta, a ignorância dando as carta.
Vamo buscar se informar, mano.
Calma o jogo, entender o que tá acontecendo ao nosso redor, tá ligado, mano?
Unido a gente fica em pé, nunca se esqueça disso, entendeu? A rua é nóiz!

Rua Augusta

A marginalização da mulher também é cantada por Emicida. Em Rua Augusta, ele fala sobre prostituição, a escolha difícil de ir às ruas para ganhar o sustento e a dor causada pela calada da noite.

Sonha como se não vivesse
Vive se perguntando por que que não morre
Mistura lágrima e suor no corre
Conta dinheiro no banco do passageiro e só
Que vira leite pro filho ou 15 gramas de pó
Foda-se se é erro, quem fez o certo foi Jesus
E cês agradeceram como? Pregando ele numa cruz

E.M.I.C.I.D.A.

A faixa que traz o nome do rapper é um aviso do que o músico queria fazer em sua carreira desde o início: denunciar as nossas mazelas, o momento raso do ser humano. “E.M.I.C.I.D.A.” saiu há 10 anos.

Confio no meu instinto, me movo pelo que sinto
Resposta a quem pensou que o amor pela causa tava extinto
Eu quero criar outro ponto, onde o ciclo se encerra
Foda-se a vida em marte, o que vem me zuando, é as morte na terra
Vários abrindo a perna, outros abrindo a mente
Quem vota, quem governa, falta de fé evidente

A Cada Vento

E rap não é apenas denúncia, apontar o incômodo. A música também nos dá um momento de reflexão. A necessidade de mudança, de virada… Emicida canta a esperança em “A Cada Vento”.

Hoje de manhã, atravessando o mar
Vou me perder, vou me encontrar, a cada vento que soprar
Cada dia é uma chance pra ser melhor que ontem
O sol prova isso quando cruza o horizonte
Vira fonte que aquece, ilumina
Faz igualzinho o olhar da minha menina
Outra vez, a esperança na mochila eu ponho
Quanto tempo a gente ainda tem pra realizar o nosso sonho?
Não posso me perder não
Vários trocou sorriso por dim, hoje tão vagando nas multidão

Por Amanda Faia e Daiv Santos

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