in ,

Do underground ao Prêmio Multishow: a trajetória de Linn da Quebrada

Para chegar aonde está hoje, a cantora superou várias barreiras e desafios.

Foto: Webert Belecio / AgNews

Lina Pereira dos Santos. Linn da Quebrada. Ela. Um dos nomes mais comentados de 2022, a cantora e compositora foi anunciada na última terça-feira (12) como uma das apresentados do Prêmio Multishow deste ano. Ao lado de Gloria Groove e Marcos Mion, ela será a responsável por comandar uma das maiores premiações da música nacional. Mas como ela chegou até aqui? Do cenário underground até o centro dos holofotes, a trajetória da artista é recheada de luta e superação.

Foto: Webert Belecio / AgNews

Leia mais:

Nascida na cidade de São Paulo em 18 de julho de 1990 (uma boa canceriana), Lina cresceu no interior do estado; passando a infância e a adolescência entre as cidades de Votuporanga e São José do Rio Preto. Desde jovem enfrentou preconceitos, a começar dentro de sua própria família. Criada por sua tia, da religião testemunha de Jeová, primeiro ela se assumiu homossexual, e posteriormente, se entendeu travesti. Depois, voltou para a zona leste da capital paulista.

Passei uma vida inteira ouvindo que ‘ser viado não é uma coisa legal’, que ser travesti é perigoso e vai trazer problemas“, disse em entrevista para o G1 em 2016. Foi naquele ano, aliás, que ela lançou sua primeira música: “Enviadescer“. Ouça:

Enviadesci, enviadesci
E agora macho alpha, não tem mais pra onde fugir
enviadesci, enviadesci
já quebrei o meu armário e agora eu vou te destruir
porque antes era um viado
agora eu sou travestyyyyyyeEAAAAh…“, canta Linn da Quebrada.

Letras fortes, provocantes e contestadoras são parte de sua marca como artista. Ainda naquela entrevista para o G1, ela se autodeclarou “bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Performer e terrorista de gênero“.

Linn da Quebrada multimídia

Em 2017, após uma campanha de crowdfunding, ela lançou seu primeiro álbum de estúdio: “Pajubá“. Com 14 faixas no total, o disco conta com “Enviadescer“, “Necomancia” e “Coytada” na sua tracklist. Atualmente, o trabalho conta com mais de 4 milhões de reproduções só no Spotify.

Foto: divulgação

No ano seguinte, Lina estreou o documentário “Bixa Travesty” no Festival Internacional de Cinema de Berlim, um dos mais prestigiados da indústria cinematográfica. Dirigido e escrito por Claudia Priscilla e Kiko Goifman, o longa arrebatou diversos prêmios em diferentes festivais nacionais e internacionais. Mas esta não foi a última vez que a artista esteve na frente das câmeras.

Em 2019, ela deu vida à Natasha Pereira dos Santos na série “Segunda Chamada“, da Rede Globo. Já em 2021, interpretou Pedrita na série “Manhãs de Setembro” do Prime Video. Mas foi em 2022 que realmente viveu sua experiência mais singular, quando entrou para o elenco da vigésima segunda edição do Big Brother Brasil, o maior reality show do país! Contudo, a visibilidade que o programa trouxe, também jogou uma forte luz sobre o preconceito enfrentado por ela.

Linn da Quebrada e o preconceito

(Foto: Globo)

Leia mais:

Há longos 13 anos, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis. Muitas vezes, este doloroso dado é ignorado pela sociedade, até mesmo pela própria comunidade LGBTQIAP+. Quem se identifica com a letra T da sigla precisa enfrentar um ou mais leões por dia, e ser famoso não diminui a luta.

Antes de entrar no BBB, Lina passou por diversos episódios de discriminação. Um deles aconteceu em 2018, numa ação cotidiana que parece bem simples para a maioria das pessoas: chamar um carro de aplicativo. Em seu perfil no Twitter, ela relatou o ocorrido.

Dentro do reality show, as agressões à sua identidade diminuíram de escala, mas continuaram. Por várias vezes, seu pronome foi trocado pelos participantes (embora estivesse literalmente tatuado na sua testa). Do lado de fora, um perfil no Instagram fez piada com o fato dela ter tido câncer de testículo em 2014, um podcast a chamou de “troço”, um blog utilizou termos depreciativos contra ela, entre outros ataques infelizes.

Mesmo tendo se apresentado em grandes festivais, como por exemplo o Rock in Rio em 2019 e o GRLS em 2020; e até mesmo comandado programas de televisão, como o TVZ especial do “Orgulho LGBTQIAP+” do Multishow este ano; furar a bolha para atingir outros públicos além dos seus semelhantes não é tarefa fácil.

Lina tem tatuagem escrito “Ela”, na testa. (Foto: Globo)

Embora a participação no Big Brother tenha lhe trazido grande visibilidade, que podem ser verificadas nos quase 200 mil ouvintes mensais que a artista tem Spotify, a caminhada até o topo ainda não acabou.

Linn da Quebrada e o futuro

No dia 16 de julho do ano passado, Linn da Quebrada lançou seu segundo álbum de estúdio. Intitulado “Trava Línguas“, ele conta com 11 faixas no total, incluindo o hit “amor amor“, que a artista apresentou recentemente no programa “Altas Horas. Atualmente, a cantora trabalha em seu terceiro disco. Não há muitos detalhes revelados até o momento, mas considerando seus trabalhos anteriores, podemos esperar muita qualidade e verdade.

(Foto: Globo/João Cotta)

Ainda no horizonte, existe a possibilidade de um novo documentário, dessa vez produzido pelo Globoplay. Depois de tantas dificuldades, incluindo comer restos de comida em shoppings, Linn da Quebrada, ou apenas Lina, possui agora um banquete de esperança e oportunidades em sua mesa. ELA vai longe, e muitas outras vão com ELA!