Madonna completa 62 anos de idade neste domingo (16/8), vinda da turnê do álbum “Madame X”. Alçada ao posto de rainha do pop ainda nos anos 1980, ela defende a coroa até os dias de hoje, servindo de referência para todas as cantoras pop que a sucederam. É fato, é incontestável, é facilmente comprovável. Além disso, ela ainda é a mulher que mais vendeu discos e ingressos para shows em toda a história.
Leonina de Bay City, nos Estados Unidos, Madonna já foi perseguida pela polícia, por estadistas e até pelo Papa – antes de ter que enfrentar os “haters” nas redes sociais. Chegou sozinha em Nova York com apenas 35 dólares na carteira e fez história, atuando na vanguarda do feminismo, da liberdade sexual, da luta pelos direitos LGBTQIA+, contra a discriminação racial e, de uns anos para cá, contra também o “ageísmo”. Mas isso tudo você lê na Wikipédia.
Nesta matéria, o POPline busca desvendar – um pouco, pelo menos – a mulher por trás do mito. Quem é essa pessoa que torna todos ao seu redor coadjuvantes? Foram feitas várias entrevistas com pessoas próximas à cantora, ou que tiveram algum contato com ela pelo menos uma vez na vida. De pouquinho em pouquinho, montou-se um painel.
Rainha do Pop – longe do alcance dos súditos
Madonna é inacessível para a maioria das pessoas e quem tem acesso tem medo de falar sobre ela. Funcionários – dos mais diferentes níveis – assinam contratos de confidencialidade e estão sujeitos a multas, caso digam qualquer coisa para a imprensa. É difícil convencê-los a abrir a boca, mesmo que para uma reportagem de aniversário.
A maneira como muitos reagem, totalmente resistentes, confirma a fama de controladora que a rainha do pop tem. Um dos funcionários chega a reclamar das perguntas enviadas, com medo de ser mal interpretado apenas por respondê-las. Madonna tem mesmo total controle sobre tudo que a rodeia. Ninguém quer desagradá-la e mesmo uma matéria em português para um site brasileiro é vista como arriscada.
A performer já esteve em turnê no Brasil três vezes – com a “The Girlie Show World Tour” (1993), a “Sticky & Sweet Tour” (2008), a turnê feminina mais lucrativa da história, e a “MDNA Tour” (2012). Nessas vindas, nem mesmo produtores tinham acesso algum a ela. Todos os caminhos até Madonna eram proibidos para o staff local. Existem várias credenciais diferentes – a mais escura é a que leva até M e essa quase ninguém tem.
A fã brasileira Lissa Diniz, contudo, conseguiu furar o bloqueio na turnê de 2008 e descolou um “estágio clandestino”. Ficou hospedada no mesmo hotel que Madonna em São Paulo, participou da passagem de som e do teste de luz no Morumbi. Ela lembra que toda a comida da Madonna era separada: vinha dos Estados Unidos. Madonna não comia nada do Brasil.
“Descobri que tinha gente que trabalhava para Madonna há sete anos e nunca tinha chegado perto dela. Nunca tinha encostado nela. Ninguém podia falar com ela. Só os bailarinos, a coreógrafa e o diretor. Naquele show, o técnico de luz foi chamado pela primeira vez para ir ao camarim falar com ela, porque ela queria dar parabéns para ele”, lembra.
Madonna é fã de Elis Regina
O álbum mais recente da Madonna, “Madame X” (2019), a traz cantando em português e dividindo os vocais com Anitta. Uma surpresa para muitos, mas não para quem a conhece de perto. A cantora sempre foi fã de música brasileira. Gosta de MPB e bossa nova, sobretudo.
“Ela sabe muito sobre o Brasil. Madonna é muito antenada e muito culta. Sabe sobre política, música, arte e cultura geral brasileira. É impressionante. Ela sabe sobre arquitetura brasileira. Isso é ela. Ela adora Elis Regina“, o diretor criativo Giovanni Bianco destaca ao POPline. Ele trabalha com ela desde 2004 e se tornou um amigo pessoal.
Madonna já expressou pessoalmente sua admiração por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Na festa de casamento de seu empresário, Guy Oseary, em 2017, ela chegou a se ajoelhar e fazer reverência para Caetano quando ele subiu no palco para cantar. “Por favor, pessoal, sem falar, sem beber”, ela pediu aos outros convidados, visivelmente emocionada com a presença do baiano.
Confira um vídeo desse momento:
Com Gil, o encontro aconteceu depois de seu show no Maracanã em 2008. Houve uma recepção para ela no Hotel Fasano, em Ipanema. Gilberto Gil estava lá, acompanhado da esposa Flora e da filha Preta. Madonna dispensou apresentações e falou que já o conhecia e que gostava de suas músicas. “Todos ficaram impressionados com a educação e o respeito com que ela tratava a todos presentes. Foi uma experiência única”, Flora declarou na época.
História de amor com um “Brazilian boy”
Foi nesta after party no Rio de Janeiro que Madonna conheceu o modelo Jesus Luz, que viria a se tornar seu namorado. Ele tinha sido escolhido, junto com outros modelos, para fotografar ao lado dela em uma sessão para a W Magazine. A festa era para Madonna conhecê-los e fazer uma foto com eles na pista.
Ela ficou interessada em Jesus assim que o viu. A diferença de 29 anos entre eles não foi impedimento. Madonna estava com 50, Jesus com 21. “Eles já começaram a dançar juntos e ela super ficou falando dele”, o fashion assistant daquela sessão de fotos, José Camarano, lembra ao POPline.
Foram dois dias de fotos, no extinto Hotel Glória, na época do Eike Batista. A primeira foto feita foi aquela em que Madonna está de costas para a câmera, de frente para Jesus Luz totalmente nu. Aconteceu no terraço.
“A cada clique que eles faziam, a Madonna vinha pra perto da gente e ficava se abanando, passando mal com Jesus (risos). No final, todos tomamos um drinque juntos. Lembro que ela gostou de um lustre de cristal do hotel, e o hotel deu de presente pra ela. Ela levou um lustre de cristal do Brasil de avião para a casa dela em Londres”, conta José Camarano.
Não só o lustre. Ela levou também Jesus. Os dois rodaram o mundo e ficaram juntos até 2010.
Madonna tem um grande amigo brasileiro
O relacionamento com Jesus Luz durou pouco mais de um ano. Madonna logo o trocou pelo francês Brahim Zaibat, dançarino de 22 anos que trabalhou com ela em sua turnê seguinte, a “MDNA”. O brasileiro que permaneceu em sua vida foi o diretor criativo Giovanni Bianco. Eles se conheceram quando o fotógrafo Steven Klein o convidou para fazer os layouts do livro de fotos “X-tatic Process”, hoje item raro de colecionadores, e o tourbook da “Re-Invetion Tour” (2004).
Madonna e Giovanni viraram amigos – do tipo de trocar mensagem no Whatsapp (ela prefere escrever do que ligar) e passar as férias juntos em Ibiza.
No primeiro encontro, ele conta que chorou de emoção quando a viu em sua frente. Sempre foi muito fã da rainha do pop. A reação da artista? “Ela falou para eu parar. Ela riu, porém amou minha emoção, claro”, ele lembra. A parceria rendeu uma referência à novela brasileira “Dancing Days” na capa do álbum “Confessions On a Dance Floor” (2005).
Parceria na vida pessoal e na profissional também
No álbum seguinte, “Hard Candy”, Madonna o quis de novo. “Foi ficando mais intenso (risos). Mais fácil no sentido que fui aprendendo as exigências dela. Ela é uma escola. Aprendi muito. Devo a ela minha disciplina”, conta o diretor criativo. Questionado sobre a fama de supercontroladora e exigente da artista, ele diz:
“Isso tudo é verdade. Ela é a pessoa mais profissional que eu já trabalhei, então você precisa ser muito concentrado e focado para poder aguentar o trampo. Porém tudo tem muito humor também. Ela é muito divertida, porém seríssima!”
Giovanni cuidou também das capas de “MDNA” e “Rebel Heart”. “Em cada projeto, ela tem desejos e histórias diferentes para contar. Às vezes também são necessidades de marketing, pois ela sabe fazer isso como ninguém”, destaca o Giovanni Bianco.
“Profissionalmente, ela foi um doutorado para mim, aprendi com ela a olhar o mundo de uma maneira diferente. Como pessoa física, aprendi como é importante o amor de mãe, como é importante ser generosa com o mundo, e com os próximos. Ela é a mãe leoa mais incrível que eu conheço. Ela é uma mãe fantástica”, elogia.
Ela adora crianças
Madonna é mãe de seis filhos – dois biológicos (Lourdes Maria e Rocco) e quatro adotivos (David Banda, Mercy James, Stelle e Estere, todos do Malawi). Ela abriu sua própria fundação em 2006, a Raising Malawi, para ajudar as crianças do país africano, considerado um dos mais miseráveis do mundo. Com sua ONG, Madonna abriu escolas, orfanato e hospital pediátrico no país.
Por conta desse trabalho humanitário, Madonna voltou ao Brasil em 2009 em viagem humanitária. Participou de um jantar na casa de Eike Batista, na época um dos 100 homens mais ricos do mundo, e descolocou uma doação de R$ 12 milhões para crianças carentes. Na mesma viagem, ela conheceu o Morro Santa Marta, favela carioca. O jornalista Léo Sant’Anna acompanhou a cobertura de perto para o SBT.
Veja a matéria que ele fez para a TV na época:
“Ela dançou com as crianças que estavam na quadra. Super carinhosa e se divertindo. A lembrança que eu tenho é que ela é muito linda. Muito linda mesmo, mais do que a imagem que a gente tem pela TV. Isso me impressionou”, lembra.
“Ela dançou com as crianças que estavam na quadra. Super carinhosa e se divertindo. A lembrança que eu tenho é que ela é muito linda. Muito linda mesmo, mais do que a imagem que a gente tem pela TV. Isso me impressionou”, lembra.
O esquema de segurança foi reforçado para a visita de Madonna à comunidade, na época sob contexto da UPP – Unidade de Polícia Pacificadora. O teleférico, por exemplo, foi parado e ficou por conta dela. Quem chegava recebia a informação que ele estava “quebrado”, e tinha que subir o morro a pé.
“Não estava quebrado. Estava estrategicamente posicionado para a Madonna descer. Ela desceu até a estação do meio e entrou na casa de uma moradora. A gente foi correndo atrás. Quando ela saiu, eu consegui ficar frente a frente com ela, a uma distância de menos de um metro. Cheguei a esticar o microfone e perguntar sobre ela estar de novo no Brasil. Mas o segurança dela puxou meu braço. Daí ela não respondeu. Na época, me disseram que ele tinha sido segurança até de um presidente nos Estados Unidos. A gente entrou na casa, conheceu a criança, e ela disse que Madonna tinha sido muito legal, conversado com ela”, lembra o jornalista.
Madonna conheceu Pabllo Vittar
Em 2017, foi a vez de Pabllo Vittar ter um rápido momento com a rainha do pop. Madonna estava no Rio de Janeiro para o casamento do empresário Guy Oseary. A festa foi na casa do apresentador Luciano Huck, um amigo brasileiro. Várias celebridades brasileiras estavam lá. Pabllo Vittar também foi parar no evento.
“Conheci a Madonna na casa do Luciano Huck, mas foi uma coisa muito rápida. O Luciano me apresentou para ela, ela me leu, e ficou calada, não falou nada. Balançou a cabeça, deu um sorrisinho, e eu falei ‘um prazer conhecer você’. Ai eu saí (risos). Foi mais ou menos isso. Eu tinha acabado de ganhar o Prêmio Multishow, estava bebona, muito feliz que tinha ganhado, e do nada Madonna na minha frente”, a drag conta ao POPline.
“M” é um código para a equipe
Quem teve uma oportunidade melhor foi José Camarano, contratado para o ensaio fotográfico da W Magazine no Hotel Glória – aquele do flerte com Jesus Luz. “Foi o maior trabalho do qual já participei, em termos de produção. Fui chamado e não podiam falar o que era. Eu tinha que aceitar ou não sem saber”, lembra. Antenado nas notícias, ele logo desconfiou que se tratava da rainha do pop e, claro, disse sim. Logo veio o contrato de confidencialidade.
“A gente recebeu várias instruções. Não podia digitar o nome dela em mensagem no celular. A gente tinha que falar em código: tinha que falar M. ‘A M veste 40, a M calça 38…’ Era tudo em código nos e-mails e na mensagem de celular”, conta.
Ele a conheceu em um salão do Copacabana Palace, onde ela estava hospedada. Todo o local foi reservado como camarim – com figurinos de todas as grifes e coleções, muitas perucas, muitos sapatos e muitas lingeries vindos de fora do Brasil. Um biombo separava Madonna do restante dos hóspedes no caminho de seu quarto até o camarim – para que não fosse fotografada sem maquiagem. “Lá dentro, ela, normalíssima, ficava vendo as referências com a gente, morrendo de rir, dando ideia o tempo todo. Ela participa muito da criação. Ela ajudou a criar e modificar o roteiro, sempre muito bem humorada”, lembra.
“Não senti nenhuma afetação. Foi uma surpresa, realmente. Achei que seria afetada. Realmente existe esse entorno que protege muito ela. Então acaba que, quando chega até ela, já está tudo muito tranquilo, filtrado. Saí de lá com uma impressão muito melhor do que tinha antes. A foto da capa da revista foi feita nessa prova de roupa. Não é do dia do ensaio. Foi na prova de roupa, ela de calcinha e sutiã, entre uma troca e roupa. Ali nasceu a capa”.
Descontraída e divertida longe do assédio
No dia da sessão de fotos, Madonna chegou pontualmente às 11h no Hotel Glória, acompanhada dos filhos. Cumprimentou todos os membros da equipe, perguntando os nomes de um a um, e apresentando sua prole. O ar condicionado – a seu pedido – ficou desligado. Helicópteros sobrevoavam o local e jornalistas se empoleiravam em janelas de vizinhos tentando ver algo. Um alvoroço. Para evitar qualquer vazamento, todos tinham que deixar seus celulares na portaria e passar por uma espécie de raio-x.
José viveu um momento engraçado nos bastidores. Ele tomou conta do corredor que dava ao camarim. Em certo momento, a stylist de Madonna pediu que ele entrasse. “Fui andando pelo corredor e, de repente, quando viro na esquina, Madonna vinha na minha direção. Trombei com ela, ombro com ombro. Fiquei apavorado. Pensei ‘ai, ferrou pra mim”, lembra. A reação dela? “Ela riu e eu ri também. Ela sempre simpática, animada, com a energia lá em cima”.
“O que mais me impressionou é a maneira realmente como ela é tratada como uma rainha. É muito cuidado com uma única pessoa, o que nunca vi na minha vida. Por outro lado, me impressionou a normalidade dela nesse papel de rainha. Ela poderia ter sido muito mais introspectiva, de não falar com todo mundo, de não rir e fazer piada… Ela estava o tempo todo de bom humor. Ela não se estressou. Você vê que o profissionalismo está acima de tudo, e é por isso que a pessoa é muito bem sucedida. Não tem tempo ruim, malcriação, chilique”, sintetiza.