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A história de Elton John vai além da música em “Rocketman”; todas as vezes que o artista foi importante para a comunidade LGBT


O cantor e entertainer Elton John dispensa apresentações. Dono de sucessos como “Your Song”, “Candle in the Wind”, “Circle of Life”, “I’m Still Standing”, “Don’t Go Breaking My Heart” e “Sacrifice”, entre muitos outros, o artista imprimiu seu nome na cultura pop mundial e sua influência ultrapassa a inspiração musical nas gerações seguintes.

Por trás dos discos de platina, dos 50 anos de carreira, dos 250 milhões de álbuns vendidos, do estilo extravagante e do título notório de Sir concedido pela Rainha da Inglaterra, Elton tem uma importância enorme na luta de classe. O seu impacto por trás das câmeras é tamanho que o diretor de “Rocketman” fez questão de enaltecer a representatividade de Elton na cinebiografia que chega aos cinemas brasileiros dia 30 de maio. O filme traz as primeiras cenas de sexo gay de um grande estúdio do cinema. Dexter Fletcher quer que você olhe para Elton além da música e saia diferente do longa. Colocar toda a sua vivência e embates ligados à sexualidade de Elton no roteiro foi uma exigência do próprio astro.

“Não acredito que isso deva ser algo a ser falado de menos. Elton está muito orgulhoso de quem ele é, isso é parte de sua jornada e estamos muito orgulhosos de ser parte disso. É como dizer que você poderia fazer um filme sobre Elton John, mas ele não usa óculos. Essa simplesmente não seria a história de Elton. Se faz algumas pessoas pensarem de forma diferente, certamente isso é uma grande coisa”, disse Dexter na estreia de “Rocketman” em Londres esta semana. “Eu não sou alguém que se incomoda com intimidade entre homens. Eu me sinto muito orgulhoso do que fizemos com este filme. Fomos a lugares inesperados com ele”, disse Taron Egerton, o Elton dos cinemas, sobre a cena com Richard Madden.

A Elton John AIDS Foundation

Elton é certamente um dos poucos artistas LGBTs que tiveram a coragem de se expor muito antes do assunto ser falado mais abertamente e em uma época que a incidência do HIV era alta, praticamente sem controle, entre os chamados grupos de risco. Nas letras de suas músicas, através de parcerias beneficentes, na sua própria instituição ou como homem de relações públicas na política, Elton fez muito para o debate das questões de gênero e direitos. Para você ter uma ideia, a Elton John AIDS Foundation foi criada em 1993 com o intuito de levantar fundos para custear programas para “aliviar a dor – seja ela física, emocional ou financeira – daqueles afetados ou em risco pelo HIV/AIDS”. Hoje com sedes em Nova Iorque e em Londres, o projeto abraça todas as Américas, o Caribe, Europa, Ásia e África atacando não só a frente da pesquisa, mas também levando clareza de pensamento sobre a infecção e tentando eliminar o caráter discriminatório sofrido pelos pacientes. O baile anual com a presença de diversos famosos é apenas um dos esforços e só em 2019, aquela noite arrecadou mais de 6,3 milhões de dólares.

Questões de gênero

Elton foi casado com uma mulher. A cerimônia com a engenheira Renate Blauel aconteceu em 1984 na Austrália, oito anos depois da polêmica entrevista para a Rolling Stone em que assumiu a bissexualidade. Desde o papo com Cliff Jahr, Elton fala abertamente sobre questões de gênero e usa sua influência não apenas para transparecer a sua verdade como também mostrar que ele não é a exceção. “Acho que todo mundo é bissexual a um certo grau”, disse na época. O divórcio com Renate aconteceu quatro anos depois, mesmo ano que em outra entrevista Elton fala abertamente sobre ser gay. A união civil entre Elton e David Furnish foi a primeira homoafetiva no Reino Unido em 2005 e o primeiro casamento legal na Inglaterra em 2014, mas eles estão juntos desde a década de 1990. Há 9 anos Elton e David se tornaram pais de Zachary (8 anos) e Elijah (6 anos) e Lady Gaga é a madrinha das crianças.

Quebrando barreiras

Sir Elton John, Elijah Joseph Daniel Furnish-John, Zachary Jackson Levon Furnish-John e David Furnish em 2017 / Foto: Getty Images (uso autorizado POPline)

Em maio de 2019 se completa 40 anos de um dos maiores shows da história da música pela sua importância. Foi quando Elton, já bi assumido, desembarca em um dos países mais fechados do mundo: a Rússia. Ele foi o primeiro artista do Ocidente a pisar em Moscou para um show para 4 mil pessoas, a maioria chefes de estado, e no DVD lançado anos depois para celebrar o momento Elton falou da censura de divulgação e venda de suas músicas (como também de outros artistas na época) na região. Com poder de crítica, até hoje John luta para que a discriminação de LGBTs seja abolida e já chamou a atenção publicamente de governantes do Leste Europeu para a alta incidência em seus países. “Eu não sou o presidente Putin ou o presidente Trump. Não estou à frente de um país. Os políticos precisam ser mais humanos. Se não existisse este sectarismo e este ódio, esta doença poderia ser erradicada muito mais rapidamente”, disse ano passado em uma conferência internacional sobre a AIDS. Você lembra dos boicotes aos hotéis de Brunei? Elton estava na lista! Sua importância para a comunidade LGBT é o motivo pelo qual a Rainha da Inglaterra concedeu a Elton o título de Sir, que o inclui no seleto grupo de Cavaleiros do Império Britânico.

Assistir a “Rocketman” é ir além da música. É entender como a história da pessoa Elton John foi divisora de águas para comunidade LGBT em todo o mundo.