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A Fábrica: Superexposição, a nova cultura pop


Ser um artista pop, hoje, é um emprego de 24h por dia, 7 dias por semana: seja entrando no tapete vermelho dentro de um ovo como Lady GaGa, trocando de roupa oito vezes durante a mesma música como Katy Perry, ou contratando uma equipe para te auxiliar no Twitter como Britney Spears (e tantos outros) – a superexposição é o padrão mínimo.

O guarda-chuva de cantor/modelo/ator, popularizado por Elvis Presley e ainda adotado por alguns artistas como Adam Levine e Gwyneth Paltrow, ganhou proporções novas na indústria da música. Reality shows, documentários 3D, aplicativos de celular, redes sociais e shows online são alguns exemplos dos novos modelos de distribuição e divulgação que artistas têm encontrado como válvula de escape do modelo musical antigo. A imagem, nem sempre explorada por todos, também ganhou ainda mais força. Artistas adotam cabelos de cores novas, vestem roupas antes só vistas na passarela, tatuam seus valores e crenças no corpo, e procuram uma identidade visual com mais frequência do que a sonora. Ser “artista” se tornou um pacote mais completo do que simplesmente ter uma voz impactante.

Vamos fazer uma análise do legado de Michael Jackson. “Thriller” foi o álbum mais vendido de todos os tempos, a sua luva brilhante tornou-se imortal, a coreografia de “Thriller” até hoje é repetida, seus gritos entre versos das músicas ficaram inesquecíveis, seu empenho em proteger os filhos com lenços foi marcante, sua presença de palco era impactante e as polêmicas em torno de sua vida pessoal ganharam a atenção do mundo inteiro. São tantos os motivos que imortalizaram Michael, que fica até difícil lembrar da característica principal de um músico: ter boas músicas.

E assim como Michael e Madonna, os maiores exemplos da superexposição musical no Século XX, os músicos nunca foram tão “teatrais” quanto hoje. Com acordos “360” com as gravadoras – aqueles em que a gravadora lucra com absolutamente tudo o que o artista compõe, faz, grava, cria –, há uma preocupação (e empenho) absoluto em transformar o músico num ídolo, Deus, rei ou rainha. O fã não espera mais apenas um álbum: ele quer conhecer a pessoa a fundo, assistir a seus vídeos (profissionais e pessoais), identificar seus amigos e inimigos, defende-lo em todas as circunstâncias, assisti-lo na televisão e cinema, segui-lo nas redes sociais, e enfim, ser parte da vida de seu ídolo na mesma medida em que seu ídolo é parte de sua vida.

Mais do que o compromisso assumido por chamar a atenção a qualquer custo, hoje a jornada de divulgação artística se tornou ainda mais conceitual do que era antes. Álbuns, singles, clipes, vestuário: cada elemento precisa receber um tema e tratamento diferenciado para estabelecer uma conexão ainda mais pessoal e aprofundada com os fãs e mercado. Quem entende a balança entre individualidade e percepção pública, vence na indústria. Será a superexposição uma tendência passageira, ou apenas o início para artistas se esgotarem pessoalmente em novos níveis?