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A Fábrica: Os 8 Erros & Acertos de Lady GaGa – Parte 1

Lady GaGa é uma das artistas mais controversas a aparecer na história do pop, e talvez uma das poucas coisas que a nossa geração – gostando ou não – lembrará da indústria da música das primeiras décadas do novo milênio. Para alguns, Lady GaGa não passa da maior farsa do pop contemporâneo, usando e abusando de coisas já feitas no passado, apenas as transformando para uma nova linguagem. Para outros, Lady GaGa é o maior ícone/personagem a aparecer na indústria da música desde Michael Jackson.

Entre erros e acertos, segue uma lista do que faz Lady GaGa, pro bem ou pro mal, inesquecível.

Erro #1: Prometer o álbum da década
Depois do sucesso dos álbuns e turnês de “The Fame” e “The Fame Monster”, a expectativa diante do álbum “Born This Way” transformou um simples lançamento em um dos maiores acontecimentos na música de 2011. Tudo começou em Setembro de 2010, no Video Music Awards, quando Lady GaGa revelou o título do novo álbum e cantou um trecho da faixa-título que marcaria o início da nova era da cantora. Ela não apenas tweetou que “Born This Way” seria “o maior álbum da década”, como reforçou a promessa para a revista de moda Vogue. Para os Little Monsters (fãs de Lady GaGa), é claro que “Born This Way” foi o álbum da década. A promessa, porém, deu início a várias críticas de que o álbum seria “pretensioso”, assim como a promessa feita, até porque a década em questão (anos 2010-2019) apenas começou. Com a concorrência direta com “21”, da Adele, que acabou vendendo mais, ganhando mais prêmios e ficando em melhores posições na Billboard, “Born This Way” acabou tendo uma performance menor do que “álbum da década” para todos que não são tão fãs da cantora.

Acerto #1: Tudo pelos fãs
Na contramão do que foi dito acima, é visível que Lady GaGa não se importa se “Born This Way” não foi o álbum da década para qualquer pessoa que não seja um Little Monster. A sua carreira sempre foi em volta dos que acreditam e gostam dela, o que poderia ser visto como ‘cegueira de mercado’, ou ser simplesmente uma questão de prioridade. É difícil dizer que Lady GaGa não é mainstream, mas não é tão difícil enxergar que ela vive em cima do muro entre ‘ser de todos’ e ‘ser de alguns’, com uma filosofia de “todos são bem vindos, mas se você não quer entrar pro clube, a gente não te quer também”. Sua dedicação aos fãs, aliás, criou uma tendência hoje seguida por praticamente *todos* os artistas contemporâneos, que passaram a criar codinomes à seus fãs. Não foi, de forma alguma, Lady GaGa que criou isto. Não desmereço, de forma alguma, nenhum outro fã-clube de nenhum(a) outro(a) cantor(a). Foi GaGa, porém, que levou este conceito para um nível jamais antes visto. Hoje já existe até uma rede social própria para os fãs, num estilo muito parecido ao site Pinterest, o http://www.LittleMonsters.com.

Erro #2: Relacionamento com Madonna
Não, Lady GaGa não precisa de Madonna ou de seus fãs, e vice-versa. Comparar a carreira inteira de Madonna com a carreira inteira de Lady GaGa é delicado pela diferença de anos de estrada (e idade) que as duas tem. Num artigo passado publicado aqui no POPLine, comparei a cena *atual* (não a carreira inteira) das duas, e mesmo assim gerou polêmica. Mas o fato de que as comparações entre as duas são reais e fortíssimas só me leva a acreditar que Lady GaGa (ou até mesmo Madonna) deveria ter posto um fim à intriga, que não traz benefícios a absolutamente ninguém. Pouca gente lembra, mas as duas fizeram uma aparição juntas no humorístico americano Saturday Night Live, em 2009, quando as comparações haviam apenas começado. Acredito que a mesma atitude amigável e madura deveria ter perdurado entre as duas, visto que as outras comparações relacionadas à Lady GaGa terminaram quando a mesma tomou uma atitude. No tributo da MTV à Britney Spears, GaGa foi o principal personagem além da própria Britney, terminando uma série de intrigas pelo título de quem era a verdadeira ‘Princesa do Pop’. Numa entrevista para a mesma MTV, Lady GaGa disse que Adele era “uma das artistas mais bacanas” que ela já havia conhecido, também calando as intrigas iniciadas pela concorrência dos álbuns “21” e “Born This Way”.

Acerto #2: Não aderir ao contemporâneo
Uma das maiores estratégias de Lady GaGa é se distanciar da cena contemporânea a todo custo. A única parceria com um artista contemporâneo de grande nome (além da boyband New Kids On The Block, na faixa “Big Girl Now” de 2008) que Lady GaGa fez foi com Beyoncé, nas faixas “Telephone” e “Video Phone”. Mas até na hora de posar para fotos, GaGa é cuidadosa em escolher com quem sairá do lado, revelando em diversas entrevistas que ela odeia festas lotadas de celebridades. A estratégia gira em torno da tentativa dela de se aproximar aos nomes que perduraram por mais tempo na música, como Elton John (que possivelmente participará do próximo álbum de GaGa), Tony Bennett, Bruce Springsteen, Gene Simmons (do KISS), Brian May (do Queen), entre outros. Esta aproximação lhe dá muita notoriedade, visto que o pop contemporâneo, em geral, é visto por muitos ‘cults’ como fraco, enjoativo e, em síntese, lixo. Ao se distanciar de outros grandes nomes atuais, GaGa cria uma imagem de que é diferente do tal ‘lixo da música’. “Born This Way”, por exemplo, não teve a participação de absolutamente ninguém.

Erro #3: Lançar 3 músicas freneticamente
O álbum “Born This Way” foi o trabalho mais antecipado de Lady GaGa até hoje. Na minha opinião, nem o seu próximo álbum será tão ansiosamente aguardado pelos fãs (e não tão fãs) quanto “Bon This Way”. O sucesso de “The Fame Monster” propagou a carreira de Lady GaGa a uma direção que aparentemente não terá retorno. Um álbum tão aguardado, portanto, poderia ter usado livremente da mesma estratégia que Lady GaGa havia usado em sua carreira até então: explorar o máximo que pode de um single, até que ele se esgote. Ao contrário, porém, o espaço entre “Judas” (segundo single) e “The Edge Of Glory” (terceiro single) foi de praticamente apenas um mês. Tudo bem, é compreensível que “The Edge Of Glory” nem era para ser single na ocasião, e que “Judas” se esgotou rapidamente e não emplacou como a faixa “Born This Way”, mas ainda acredito que um tema tão polêmico poderia sim ter sido explorado um pouco mais. Como se não fosse suficiente, “Hair” também foi lançada na mesma época. Apesar de não ter se tornado single em momento algum, a música também foi altamente explorada por GaGa, que pela primeira vez na carreira foi vista ‘promovendo’ literalmente três músicas ao mesmo tempo. Foi confuso e, na minha opinião, muito errado da Lady GaGa. Acredito que ela e sua equipe concordam comigo, visto que os próximos singles “Yoü & I” e “Marry The Night” foram explorados da forma antiga. “Yoü & I”, inclusive, teve *cinco* videoclipes (um oficial e quatro mais curtos), e “Marry The Night” foi o vídeo mais longo da carreira dela.

Acerto #3: Agenda transparente
A linha do tempo da Lady GaGa é algo que sempre foi extremamente claro para todo mundo que presta atenção, de analistas da música a meros fãs: 2010 para finalizar a turnê The Monster Ball, 2011 para divulgar o álbum “Born This Way”, 2012 para iniciar a turnê The Born This Way Ball. A transparência na agenda de Lady GaGa é algo que conforta os profissionais da área, que acabam aprendendo quando a cantora estará disponível e o que ela estará especificamente promovendo. Torna as entrevistas mais efetivas, as aparições públicas mais compreensíveis, e os fãs mais engajados com o trabalho da cantora. Nunca vi um fã de Lady GaGa, por exemplo, assistir à uma apresentação esperando por outra música além daquela que ela de fato cantou, ou acompanhar uma entrevista esperando que ela vá dar informações que ela simplesmente não vai vazar, entre outras coisas. Parece bobagem, mas a carreira de cantores pop é, em geral, extremamente confusa. Álbuns e turnês atrasam, entrevistas lidam de assuntos que não tem relação nenhuma ao trabalho atual, fãs vão a shows e se decepcionam com a apresentação, etc. Transparência é um método simples e extremamente efetivo para estabelecer uma conexão sincera entre artista, mídia e fã.

Erro #4: Relacionamento com Laurieann Gibson
A parceria criativa entre Lady GaGa e Laurieann Gibson criou, sim, diversos momentos importantes na carreira da cantora. Gibson criou coreografias para praticamente todos os singles da carreira de GaGa, imortalizando “Poker Face”, “Paparazzi”, “Bad Romance”, “Telephone” e “Born This Way”. Laurieann Gibson inclusive dirigiu o videoclipe de “Judas”. Mas o controle que Gibson assumiu na carreira de GaGa, com o tempo, passou a deteriorar a qualidade criativa do trabalho dela. Não que Gibson tenha mudado ou perdido o toque, mas uma das mais importantes lições que aprendemos com os grandes nomes do pop é que a diversidade de parcerias sempre traz um ‘ar fresco’ ao trabalho artístico. A exaustão da parceira entre as duas tornou – quem diria – Lady GaGa meio que previsível. As críticas em cima do clipe de “Judas” e das coreografias dos singles de GaGa em geral, na minha opinião, culminaram no fim oficial da parceria entre as duas depois de “Yoü & I”. Em entrevistas, tanto GaGa quanto Gibson disseram que as duas tiveram “divergências criativas”, o que é, em outras palavras, exatamente o que descrevi neste erro #4. Acredito, no entanto, que o fim foi desnecessário, pois poderia ter sido evitado se já não fosse tarde demais.

Acerto #4: Apostar no Google
Lady GaGa é a atual pessoa mais seguida do Twitter, e uma das artistas que possuem mais fãs no Facebook, mas curiosamente (ou não) resolveu estabelecer uma parceria forte com o gigante da web, Google, fazendo aparições em seus comerciais, dando entrevistas via YouTube, e ativamente falando sobre a empresa em certas entrevistas e aparições. Acredito que esta parceria é uma das mais importantes que Lady GaGa poderia fazer. Apesar do Google ser fraco no ambiente social (sua “rede social” Google+ não chega nem perto do Facebook), a empresa detém do forte navegador Chrome, do crescente sistema operacional móvel Android, e do maior (e único relevante?) site de vídeos da Internet, o YouTube. Ter o YouTube como aliado, no mercado de hoje é praticamente vital para um artista. Ter a plataforma do Android como parceira também terá suas consequências a longo termo. E quem sabe até o Google+ ganha força? Independentemente dos serviços que o Google oferece, a empresa domina o mercado de publicidade e busca online, que são as maiores fontes de lucro para qualquer site na web. Lady GaGa entende a importância que ‘se juntar aos grandes’ tem, e o Google, assim como a apresentadora Oprah, são reflexos das parcerias cuidadosas e importantes que a cantora faz. A curto prazo, não se vê diferenças. A longo prazo, garantem uma carreira longa e bem sucedida dentro ou *fora* (esta é a palavra-chave) da música.

Gostaria de agradecer o carinho de todos durante os dois meses de existência desta coluna. Devido à grande audiência que vocês têm me proporcionado, A Fábrica passará a ser às Terças-feiras, entre o Passaporte – às Segundas-feiras – e Termômetro – às Quintas-feiras. Aos Sábados, o POPLine trará o tradicional POPCast de volta. Para marcar esta mudança em A Fábrica, a segunda parte de “Os 8 Erros & Acertos de Lady GaGa” será postado na Terça-feira, 1 de Maio, às 20h.

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