E aí veio Katy Perry, a maior predadora de números 1 da Billboard dos últimos tempos, que recentemente alcançou o recorde de Michael Jackson na Billboard de singles #1 de um mesmo álbum. Em exatamente um mês, “Katy Perry: Part Of Me 3D” vai estrear nos cinemas americanos com a missão de contar a trajetória da cantora no decorrer da turnê, estratégias promocionais, fim do casamento, e vida pessoal. Porém, ao contrário dos exemplos citados previamente, eu acredito que Katy Perry tem uma missão muito mais abrangente com este filme.
Os filmes de U2, Justin Bieber e Jonas Brothers tiveram muitas partes que mergulharam fundo na vida pessoal destes artistas, mas em geral, foram simplesmente espetáculos capturados por uma câmera. Acredito que muito pouco de “Katy Perry: Part Of Me 3D” será realmente sobre a turnê em si do álbum “Teenage Dream”. É claro que música e shows serão partes integrantes do documentário, mas assim como Britney Spears no X Factor USA, Katy tem a missão de mostrar ao mundo quem é a pessoa atrás da peruca azul. A turnê será só o plano de fundo para mostrar tudo o que aconteceu durante estes dois anos de divulgação do álbum que a consagrou na indústria musical. Assim como o reality show das Kardashians, com certeza haverá forte apelação ao divórcio recente que Katy Perry viveu com o ator e comediante Russell Brand. A família dela também será muito presente, o que remete à uma perspectiva bem infanto-juvenil que também estava presente nos longa metragens de Justin Bieber e Jonas Brothers.
Esta fronteira do cinema, porém, abre espaço para uma discussão: será que não fica a impressão que artistas estão de certa forma forçando a barra para serem respeitados? Tirando o U2 de cena, vamos lá: os Jonas Brothers foram constantemente apontados por roqueiros como a grande piada do rock’n’roll do Século XXI. Justin Bieber, não muito longe disso, teve o seu talento colocado em dúvida diversas vezes. Katy Perry, mesmo depois de um álbum de tantos sucessos como “Teenage Dream”, ainda parece ser centro de críticas que vem de todos os lados imagináveis.
Nos filmes em questão, os fãs (e nem tão fãs) conectam com os artistas de uma forma altamente pessoal, conhecendo suas famílias, suas histórias, suas rotinas de trabalho, e passam a inevitavelmente criar um laço (ou respeito) forte pela pessoa em questão. É como assistir a um reality show e começar a torcer por alguém que você mal conhece, simplesmente porque aquela convivência cria uma conexão forte entre protagonista e espectador. Em outras palavras, você passa a gostar de alguém por aquilo que ela transparece, deixando todo o resto de lado. Estes filmes, profissionalmente editados, criam figuras heroicas destes artistas que fazem qualquer um se apaixonar por eles(as).
Mais do que uma artista, veremos uma Katy Perry em forma de pessoa no filme que estreia em breve, mas a dúvida continua: será que o cinema é mesmo a melhor forma de se fazer isso? Será que o Justin Bieber amigo e bem educado de “Never Say Never” é verdadeiro? Será que os Jonas Brothers talentosos e românticos do documentário existem? Será que os críticos de Katy Perry vão comprar a imagem família e honesta de alguém que cantava música gospel mas fez sucesso com o hit sobre beijar garotas (“I Kissed A Girl”)?
Acredito que, como tudo no trabalho de Katy Perry, pouco importará a crítica… Desde que o filme seja número um em bilheterias.