Muita gente não se dá conta, mas existe todo um tratamento e administração especial em volta da carreira de artistas que já faleceram. Michael Jackson, Amy Winehouse, Tupac, Whitney Houston, Bob Marley, Marilyn Monroe e Elvis Presley são apenas alguns dos muitos exemplos de artistas que continuam gerando muito lucro mesmo depois da morte. Estes artistas consolidaram carreiras imortais e se tornaram uma máquina de dinheiro de longo termo e infinitas oportunidades, hoje comandada por suas famílias ou agências especializadas em administrar as carreiras destes ‘nem tão mortos assim’.
Imagem controlada por agências
A agência americana CKX, Inc., por exemplo, recentemente comprada pelo grupo Apollo Entertainment, é um forte nome desta indústria. A agência detém de 80% da imagem e nome do boxeador Muhammad Ali, que deu origem ao filme de 2001 “Ali” (que arrecadou cerca de 87 milhões de dólares no mundo todo e rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator à Will Smith), além de 85% dos direitos de imagem e nome do cantor Elvis Presley, que vendeu cerca de 600 milhões de álbuns durante os seus mais de 20 anos de carreira, gravou 144 músicas que entraram para os Top 40’s mundiais, e atuou em mais de 30 filmes (se tornando o ator mais bem pago de Hollywood numa certa época). Muhammad Ali e Elvis possuem fortes imagens em suas respectivas indústrias. A imagem e nome do ‘rei do rock’ Elvis Presley já deu origem à filmes como “Elvis Ainda Não Morreu”, espetáculos como o “Cirque Du Soleil: Viva ELVIS” em Las Vegas, álbuns-compilações como “ELV1S: 30 #1 Hits” e “Elvis The King”, e um legado de cultura pop que ilustra fantasias de Halloween, artigos de memorabilia e tantos outros produtos que levam a sua marca.
Os direitos sobre Marilyn Monroe e Bob Marley também são de uma agência em comum: a Authentic Brands Group LLC, em Nova York. Marilyn, que na verdade se chamava Norma Baker, faleceu em 1962 com mais de 30 filmes sob seu catalogo de trabalhos. Seus casamentos, imagem sexual, abuso de drogas e controvérsias criaram uma misteriosa personagem que até hoje é lembrada e explorada em Hollywood, sendo imitada por diversas cantoras pop mesmo 50 anos depois de sua morte. Seu legado gerou dezenas de livros, filmes (como o recentemente indicado ao Oscar de Melhor Atriz “Sete Dias com Marilyn”), séries de TV (a história de “Smash”, da NBC, se passa ao redor de um musical da Broadway onde ela é o tema), músicas (como a faixa “Marilyn Monroe” do novo álbum da Nicki Minaj, “Pink Friday: Roman Reloaded”), e assim como Elvis, fantasias de Halloween e artigos de coleção da cultura pop. Bob Marley, o ‘rei do reggae’, ganhou recentemente um documentário aclamado pela crítica, intitulado “Marley”. Em 1999, a revista TIME elegeu seu álbum “Exodus”, que imortalizou a música “One Love”, como o melhor álbum do Século XX. Bob Marley também recebe tributo diariamente em diversos bares, boates, lojas de merchandising, restaurantes e hotéis ao redor do mundo.
Imagem controlada pelas famílias
A morte de Whitney Houston ainda este ano também colocou os principais trabalhos da cantora de volta nos ranking do iTunes e Billboard, e ainda deu força para o relançamento nos cinemas do filme que estrelou em 1992, “O Guarda-Costas”. Amy Winehouse, da mesma forma, não viveu para ver seu álbum “Back To Black” de volta na lista dos mais vendidos em 2011. Ela foi um dos nomes mais citados no ano passado, recebendo tributos em diversas premiações e ganhando fãs que finalmente deram uma chance à problemática artista. Tupac, um dos maiores rappers de todos os tempos, continua vendendo álbuns antigos, singles inéditos, e causando polêmica. A mais recente foi em volta da ‘ressurreição’ em forma de holograma no festival Coachella de 2012.
O caso Michael Jackson
Além dos reis do rock e reggae, o rei do pop Michael Jackson voltou ao topo das paradas de sucesso após falecer. Com “This Is It”, documentário dos ensaios de seus últimos shows (que acabaram não acontecendo), a Sony arrecadou mais de 261 milhões de dólares em bilheteria e vendeu mais de 370 mil cópias (na primeira semana!) do álbum com as músicas do show. “Thriller”, seu álbum de 1982, continua sendo o álbum mais vendido de *todos os tempos* no mundo. A imagem de Michael Jackson é imortal, e junto aos Beatles e Elvis Presley, se tornou tema de um dos espetáculos de turnê mundial do Cirque Du Soleil. Dois anos após a sua morte, Michael lucrou 310 milhões de dólares, valor próximo da dívida de $400 milhões que o rei do pop deixou antes de falecer. De forma inovadora, o cantor também foi tema de um jogo de vídeo game da Ubisoft, “Michael Jackson: The Experience”, que foi um dos principais títulos da empresa para o ano de 2010. No início do mês, a Pepsi anunciou que Michael será o tema principal da campanha “Live For Now”. A parceria entre Pepsi e Michael Jackson traz novamente aos holofotes a controvérsia da utilização das imagens do rei do pop em comerciais da empresa, já que é de conhecimento público que Michael *não* bebia refrigerante.
As vantagens de se lidar com os mortos
Lidar com artistas mortos tem as desvantagens da falta de material novo, aparições públicas (holograma vai virar moda, anota aí!) e dificuldade em atingir um público mais jovem. As vantagens, porém, são inúmeras. Seja lá quem detém dos direitos de imagem do tal falecido, não precisa lidar com agenda de shows, egos inflamados, má vontade de artistas, etc. Com exceção da família destes, que muitas vezes quer ter voz na administração do parente, os managers de artistas mortos tem uma voz muito livre e independente na direção que estas carreiras vão tomar. Legalmente, eles têm o direito sobre as decisões. Outra grande vantagem são os custos baixos, visto que relançar álbuns antigos e lançar filmes sobre estas personalidades exige muito menos tempo e dinheiro. Em termos de marketing, também é fácil manter o interesse público em personagens tão interessantes como Bob Marley e Marilyn Monroe.
Por isso que dizem por aí que Elvis não morreu. O dinheiro está muito vivo!