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A Fábrica: Adele, a rebelde que mudou tudo na indústria da música

Adele, Adele, Adele. Que diabos ela tem que as outras não tem?

Adele, Adele, Adele. Que diabos ela tem que as outras não tem? Voz bonita, letras poderosas, oportunidades na hora certa. Parece tudo muito mal explicado. Artistas costumam se separar em duas categorias: os comercialmente inteligentes e de talento subjetivo, e os surpreendentemente talentosos que fazem decisões questionáveis na carreira. Àqueles que faltam talento, existe o playback, os milhares de dançarinos em volta, os remixes, os fabricantes de hit certo como Dr Luke. Aos que precisam fazer melhores decisões, existem managers como Colonel Tom Parker (do Elvis Presley) e agências que administram suas finanças (que Michael Jackson precisou tanto). Mas com tanto talento + sucesso comercial, onde entra Adele nesta equação da indústria da música?

Conforme disse num artigo anterior de A Fábrica, “Steve Jobs […] lançou a loja virtual iTunes em 2001 […], na contramão das gravadoras e artistas, decidiu priorizar singles (música de trabalho) ao invés de álbuns (um CD completo), criando uma subcultura no caos do compartilhamento de arquivos. Steve Jobs baseou esta decisão no mesmo motivo que fez o Napster bem-sucedido: a frustração do consumidor em ter que comprar um álbum inteiro por causa de uma ou duas músicas que gostava”. No entanto, mais de 9 milhões de cópias depois, o álbum “21” de Adele já é o álbum mais comercialmente bem sucedido da década (de acordo com a International Federation of the Phonographic Industry) e continua uma jornada arrasadoramente lucrativa nas lojas (físicas e virtuais) de todo o mundo. Além dos Grammy’s de Melhor Álbum, Melhor Álbum de Vocal Pop, Gravação do Ano, Música do Ano, entre outros.

Entre o sucesso de crítica e de vendas, Adele ensinou uma valiosa lição: boa música quebra todas as regras. A cantora já disse repetidamente que acredita em álbuns, não em singles (na contramão de Steve Jobs), e que escreve uma obra em conjunto ao invés de músicas separadas que a colocarão nos charts da Billboard. Sem dúvida alguma “Rolling In The Deep”, “Someone Like You” e “Set Fire To The Rain” marcaram presença nas rádios de 2011 e 2012, mas fica claro que divulgar o álbum “21” por completo, e a mensagem atrelada a ele, sempre foi a prioridade de Adele.

Adele não tem o físico de popstar, nem o fôlego, e me arrisco dizer que nem a coragem. Na sua apresentação ao vivo para o VMA de 2011, sua timidez ficou mundialmente famosa. Tímida, acima do peso e sem dançarinos ao redor, Adele ainda marcou o VMA de 2011 com a melhor apresentação da noite, entre tantos grandes artistas como Jay-Z e Kanye West, Beyoncé, Lil Wayne e Lady GaGa. “Someone Like You” estourou no dia seguinte em todas as rádios e lojas virtuais, deixando para trás todos os novos singles que estes popstars citados tentaram divulgar. Adele, mais do que ninguém, está na contramão da linha de produção da fábrica musical.

Aos 24 anos, parece que Adele pulou mesmo o “23” (que deveria ter sido a sucessão natural depois de “19” e “21”). De férias (e namorando!), a cantora segue a sua vida pessoal e se mostra ser a popstar mais *normal* do mundo contemporâneo, sem vestidos de carne, triângulos na cabeça, implantes de bunda, etc. Sem beber ou fumar para cuidar da voz, está inevitavelmente perdendo a forma que a fez ‘rebelde’ durante a divulgação do “21”. Se formos ainda mais longe e compararmos a forma de Adele no “19”, vemos que a cantora já perdeu *muito* peso. Já estampou a Vogue, e a dieta rígida segue sendo justificada pelos problemas vocais que ela recentemente enfrentou.

Em tempos de música ‘farofa’, com batidas parecidas e letras que apelam às tendências, Adele foi um jato de ar fresco para os ouvidos. Ensinando lições valiosas, mudando o comércio de álbuns e singles, enfrentando o estereótipo de popstar, sendo honesta em seu trabalho e em sua vida, Adele é a grande lembrança do que realmente significa ser artista: criar arte, e ponto final.

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