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Um ano do impacto cultural de Anitta com “Vai Malandra”


Anitta encerrou o projeto “Checkmate” – de um single e clipe por mês – há exatamente um ano, com a estreia do clipe da aguardada “Vai Malandra”, parceria com MC Zaac com participações de Tropkillaz, DJ Yuri Martins e Maejor. A música resgatou as raízes da cantora, voltando a explorar o funk, e o clipe a levou para o Morro do Vidigal, famosa favela carioca. O resultado foi explosivo: na época, o vídeo bateu 14 milhões de acessos em 24 horas, tornando-se a melhor estreia brasileira no Youtube.

Números

Não para por aí. “Vai Malandra” também se tornou o vídeo a conseguir um milhão de curtidas mais rapidamente no Youtube. É o sexto clipe mais visto da carreira da Anitta, com 320 milhões de reproduções na plataforma até hoje.

O single fez história: foi a primeira vez que uma música brasileira bateu um milhão de streams no Spotify em apenas um dia. Ela estreou direto no Top 50 global no serviço de streaming, tamanha a força do lançamento, e conseguiu chegar ao 18º lugar nesta parada mundial, tornando-se a primeira música brasileira a entrar no Top 20. No Brasil, “Vai Malandra” liderou a lista das mais ouvidas no Spotify por 58 dias consecutivos (feito inédito).

Conquistas

A faixa recebeu certificado de platina em Portugal, onde também estourou, entrando no Top 5 da parada nacional. Além disso, a canção foi eleita o Hit do Ano no MIAW Brasil, da MTV; a Música Chiclete e o Melhor Clipe TVZ no Prêmio Multishow; e o 3º melhor clipe do semestre no POPline (atrás apenas de “New Rules” e “Look What You Made Me Do”, internacionais).

Polêmica

Anitta contratou o fotógrafo americano Terry Richardson para dirigir o clipe e ele viajou ao Rio de Janeiro especialmente para isso. Ele já havia dirigido “XO” da Beyoncé, “Wrecking Ball” da Miley Cyrus e “Do What U Want” da Lady Gaga (que nunca saiu), então era uma grande aposta. Mas, neste meio tempo, estourou uma bomba no mundo da moda: Terry foi boicotado dos principais veículos devido a uma série de acusações de assédio sexual por parte de modelos. Anitta quase cancelou o lançamento do clipe por causa disso.

Em entrevista posterior, declarou-se “falha” por não ter pesquisado sobre o histórico dele antes da contratação. “Até discutimos, pensamos sobre cancelamento, mas era uma coisa tão importante para a gente em tantos aspectos… e foi feito tão baseado nas minhas ideias, e no que eu queria – como sempre. Eu sempre tenho a equipe nos meus vídeos, mas a pessoa que pensa no geral, no que realmente vai ser feito sempre sou eu. Daí a gente decidiu deixar. Foi uma boa decisão, porque acabou movimentando muitas discussões, e eu acho muito bom isso: fazer com que as pessoas discutam e debatam coisas importantes”, disse.

Debates

Ao direcionar a câmera para a cultura da favela, Anitta levantou uma série de questões. A primeira já veio do primeiro enquadramento do clipe: um close em sua bunda ao caminhar, destacando suas celulites. “No clipe, eu fiz o que fazia na época que morava na comunidade. Depois me entregaram uma edição limpinha do clipe e eu disse que queria sujinha. Deixa a celulite aí!”, comentou a cantora. A atitude chamou a atenção para a autoaceitação do corpo e confrontou padrões de beleza photoshopados.

Também falou-se muito sobre exploração da pobreza, apropriação cultural, objetificação da mulher, empoderamento feminino e criminalização do funk nos principais veículos nacionais. Acadêmicos foram convocados para refletir sobre o trabalho da cantora – algo talvez inédito na carreira dela nesta dimensão. O debate chegou até na Europa. O famoso jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem intitulada “O clipe brasileiro toca no nervo sobre racismo, abuso sexista e desigualdade”.

Impacto cultural

Pouco depois da estreia do clipe, surgiram incontáveis paródias de “Vai Malandra” na Internet, incluindo vídeos de Mc Melody, Tirulipa e Whindersson Nunes. Os figurinos usados por Anitta no clipe, principalmente o biquíni de fita isolante criado por Erika Bronze, viraram uma febre. A criação de Bronze, com intuito de “deixar a marquinha perfeita”, invadiu o mercado popular: chamado de “biquíni adesivo”, podia ser encontrado no Mercado Livre e em camelôs. No Carnaval, foi certamente uma das fantasias mais replicadas. Outros figurinos do clipe podiam ser encontrados na loja de departamentos C&A, patrocinadora do “Checkmate”. Com o sucesso da, Anitta ganhou sua própria linha de roupas na loja.

Muitos atribuem à pequena aparição no clipe o estouro de Jojo Todynho – inclusive ela mesma disse que foram “os melhores segundos de sua vida”. O clipe de “Que Tiro Foi Esse” saiu 11 dias depois. Juntas, as duas músicas foram o sucesso do Carnaval. Mas não foi só Jojo que viu sua vida mudar após o clipe. O barman Rodrigo Motta, que aparece no clipe passando óleo na cantora, ganhou contrato com uma agência de modelos. Já Pietro Baltazar, o “Justin Bieber do Vidigal”, que já trabalhava como modelo, passou a ser disputado por grifes e viu seu número de seguidores no Instagram crescer exponencialmente.