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Sem glitter rosa! Empoderado, Rouge mostra amadurecimento em “Dona da Minha Vida”


A Sony Music permitiu que eu ouvisse e visse o novo trabalho do Rouge antes do lançamento, marcado para sexta (31/8). “Dona da Minha Vida” é o novo single da girlband e redireciona o quinteto no mercado da música pop nacional. Não alude ao Rouge da década passada e, pela primeira vez, traz mulheres no papel de mulheres – no que concerne ao discurso, ao posicionamento e ao visual. É um pop adulto, autêntico. Elas não tentam parecer mais jovens e inocentes do que são. As integrantes já haviam marcado seu amadurecimento em trabalhos individuais. Agora é a vez do Rouge enquanto grupo crescer também. Não há mais desculpa: seu público não é mais infantil.

Esse é o segundo single da retomada do Rouge. O primeiro foi “Bailando”, composição e produção dos hitmakers Umberto Tavares e Jefferson Junior (Anitta, Ludmilla) lançada nas vésperas do Carnaval, com estética colorida. Não foi um grande sucesso, mas serviu para levar a girlband de volta à TV, quebrando recordes de audiência em programas da TV Globo. “Dona da Minha Vida”, por sua vez, é resultado de uma atuação mais ativa da girlband no processo criativo, dividindo os créditos da composição com Jão e o time da Head Media (responsáveis por músicas de Di Ferrero e Manu Gavassi), que assina a produção. O dedo das meninas é notável, apropriando-se de sua história. O primeiro verso da canção é “não pense que eu vou ficar vivendo no passado”. Mais do que um aviso, é um comunicado. Luciana, a integrante que deixou o Rouge no auge do sucesso e agora participa da nova fase, canta: “voltei, dessa vez eu vou por cima”. Tudo casa com o que se sabe das cantoras e de suas histórias, ao mesmo tempo que a mensagem é universal.

O clipe, dirigido por Os Primos (os mesmos de “Bailando”), traz cenas de outras mulheres além da girlband, cada uma empoderando-se em seu processo de fortalecimento da autoestima, em situações distintas. Li Martins, a integrante mais jovem do Rouge, que teve filha há pouco mais de um ano, exibe o seio em um segmento do vídeo. O mamilo aparece tapado apenas com um X de fita isolante. Não é nada erótico, embora vá render manchetes em toda a mídia. A simbologia é outra: é o seio que amamenta, que alimenta, que empodera a mulher enquanto mãe. Karin, por sua vez, aparece pela primeira vez em um clipe com o cabelo mais black power – algo que só havia sido visto em “Mudança de Hábito”, o musical teatral que ela protagonizou. Em “Dona da Minha Vida”, Aline, Fantine, Karin, Lu e Li não estão mais domadas. A mensagem é de que assumiram as rédeas da vida e da carreira: “eu mereço ter o que tirou de mim / vou encontrar a saída” diz uma parte da música, “todos os sonhos que tirou de mim, disse que não sou” diz outra. A letra é infinitamente mais densa do que a de “Bailando” e aponta um caminho muito mais interessante também.

A música começa com vocais da Karin, passa para Li, chega a Fantine e então vem o refrão, que tem um “oooooô ô ô ô ô ô, sou eu, dona da minha vida” (na segunda vez, eu já estava cantando junto). Em seguida, Luciana e Aline também têm seus versos. Cada uma das integrantes têm dois looks no clipe – ambos sóbrios. O primeiro é o que está na capa do single e no teaser divulgado com o pré-save no Spotify. O segundo é branco e aparece em uma cena de exército da diversidade nas ruas, com as cantoras na dianteira. Há diferentes etnias, gêneros, casais, tamanhos de pessoas. Um exército que luta pelo direito de ser o que é e quem quer ser, interpretei. Esse segmento alude a “That’s My Girl” do grupo americano Fifth Harmony. Além do olhar para o contemporâneo, a atualizada do Rouge também inclui um verso bem atual: “pare de stalker meu Instagram”. A marca comprada por Mark Zuckerbeg é citada na letra (aliás, há uma publicidade do aplicativo Cabify no meio do vídeo).

Cada verso parece ter sido muito bem pensado desta vez. De um modo geral, há um amor superado como destinatário (“olha que ironia, tudo que eu tinha era seu falso amor”), mas a composição transcende esse universo de relações românticas. A música não é sobre um relacionamento nem sobre o outro. É sobre não mais se sujeitar ao que não faz bem. “Dona da Minha Vida” é um título ótimo. Estou ansioso para saber como será a recepção dos fãs do grupo. É um novo Rouge que chega neste semestre. Dá, inclusive, para atrair um público novo.