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“Mulher Gato”: ouvi o novo single de Wanessa Camargo com exclusividade e trago detalhes


Acredito que a melhor maneira de começar esse texto é dizendo de uma vez por todas: “Mulher Gato” é pop, sim. Podem respirar aliviados. Ouvindo a música, no entanto, é compreensível o motivo de Wanessa Camargo estar fugindo de rótulos. Seu novo single é uma mistura de sons e de várias fases de sua carreira. Na verdade, a canção parece ter dosado exatamente todos os elementos necessários para abraçar seus diferentes públicos: os fãs de toda uma vida, os que vieram em sua fase pop eletrônica e até os da fase sertaneja (não sei se esses existem, na verdade). Está lado a lado com “Amor Amor”, que pode ser cantada para todas essas plateias sem causar desconforto.

Não vou mentir: eu fui das pessoas que se assustaram quando a letra da música apareceu na Internet. “Tô louca pra dar (um beijo na sua boca)”, “me joga pra cima que eu caio de quatro” e “leitinho quente quer tomar” não são exatamente o tipo de poesia que me interessa. É como o “cê faz gostoso e ainda põe leite condensado” da Anitta. Esse quê de vulgaridade me incomoda um pouco. São resquícios de uma moral católica, que busco subverter ao longo da minha vida, mas que ainda impregnam minha percepção. Concordo com Wanessa quando ela diz que há muito de machismo na rejeição a esses versos. Fora isso, a gente consome letra muito mais explícita – desde que venha em inglês ou qualquer outro idioma. As pessoas acham “Lalá” (Karol Conka) uma baixaria, mas gostam de “Downtown” (Anitta). Julgamos a letra de “Mulher Gato”, mas amamos “Side to Side” (Ariana Grande). Voltando à Wanessa, um amigo me lembrou que ninguém nunca polemizou sobre “Sticky Dough”. Talvez porque nunca tenham entendido nada. Dito isto, adianto: os versos de “Mulher Gato” não são agressivos quando você ouve a música do início ao fim.

Ela começa com uma introdução de percussão que dura mais de dez segundos e não dá nenhuma ideia do que vai ser a música. Na verdade, ouvindo essa parte, pensei que seria algo totalmente diferente de tudo que Wanessa já fez. E é exatamente o oposto. A música é animada, dançante, toda em português, e lembra muito algumas canções que a cantora lançou entre o “Transparente Ao Vivo” (2004) e o álbum “Total” (2007). Tem algo latino também, mas “Me Engana Assim Que Eu Gosto” era mais caliente, por exemplo. A diferença é mesmo a letra, mais ousada do que o habitual para Wanessa. Mas poderia estar na voz de toda uma prateleira de cantoras do pop funk e até do sertanejo pop. Lembrei, por exemplo, de “eu dou check-out desse mundo e check-in no seu colchão / Deus fez a mulher de uma costela de Adão / Quando foi fazer você, fez do filé mignon” do Luan Santana. Causou-me o mesmo tipo de sentimento.

O refrão aparece três vezes ao longo da música (é a parte do “miau, miau, miau, leitinho quente quer tomar”). Ele é seguido de versos que dizem “passa mal, passa mal, me mostra seu instinto animal”, o que me lembra muito do que Wanessa já cantou, sim. Tem dois trechos mais falados – e um deles mais gemido, tipo Britney Spears, com a voz tratada. Também aparece a voz de um homem falando “Wanessa Ca-mar-go” (imagino que seja o produtor) e em seguida ela solta uns “ah ah ah” ofegantes que me lembrou “I’m a Slave 4U”. Mas posso estar delirando. No mais, a parte final da faixa é nitidamente reservada para uma coreografia mais pesada, tornando-se inevitável imaginar o que Wanessa estará preparando para as apresentações ao vivo, ou até mesmo para um segmento de dança no clipe.

A cantora, que vem falando sobre liberdade, autoconhecimento e capacidade de fazer o que realmente acredita, parece convincente com essa música. “Mulher Gato” não soa algo forçado para se encaixar em nenhum nicho específico de mercado, nem traz uma troca brusca de identidade artística. É facilmente inserível na setlist de seus shows, junto com seus maiores sucessos.

Tanto o single quanto o clipe “Mulher Gato” saem na próxima sexta-feira (27).