Dan Reynolds, vocalista da banda Imagine Dragons, causou polêmica nesta semana ao postar uma série de vídeos no Twitter falando sobre Illuminati. É engraçado: as pessoas criam inúmeras teorias da conspiração e, quando alguém dá algum tipo de confirmação sobre aquilo, tudo fica ainda menos crível. Dan obviamente falou em tom de deboche. Uma brincadeira. “Illuminati é real. Eu sou um membro”, disparou. “É como o Imagine Dragons ficou famoso. Estou cansado da política, e me coloco em grande risco ao falar isso para vocês, mas eu acredito na honestidade completa. Beyoncé não está falando [sobre isso], Chris Martin também não, ninguém diz uma palavra, então aí está”, completou, nomeando ainda Zendaya, Harry Styles, Taylor Swift, Nicolas Cage e Danny DeVito como membros do suposto grupo secreto. Não é a primeira vez que um artista toca no assunto.
Há três anos, a Rainha do Pop Madonna lançou uma música chamada “Illuminati” (ouça acima), na qual aborda diretamente o tema. Ela nomeia Jay Z, Beyoncé, Nicki Minaj, Lil Wayne, Oprah Winfrey, Barack Obama, o Papa, Rihanna, Rainha Elizabeth, Kanye West, Lady Gaga e marcas como Gucci e Prada, nesta ordem, logo no primeiro refrão. Depois cita Steve Jobs, Bill Gates, Justin Bieber, LeBron James e Bill Clinton. Divulgando o álbum “Rebel Heart”, Madonna explicou a faixa: “as pessoas me acusam de ser um membro do Illuminati, mas quer saber? Eu sei quem são os verdadeiros Illuminati, e eu sei de onde essa palavra veio”. Ela diz que o nome vem do Iluminismo. E tem mesmo a ver. Mas o que corre na Internet é uma história de ordem secreta disposta a dominar o mundo ocupando posições-chave na política e no entretenimento. Verdade ou loucura?
Em 2015, muito se falava sobre Illuminati na cultura pop por conta de símbolos usados em performances e videoclipes. Pirâmides, pentagramas e o “olho que tudo vê” são as principais “pistas”, para quem gosta do assunto. Seriam símbolos dessa sociedade secreta. Por conta do burburinho crescente, o site da BBC publicou uma matéria naquele ano intitulada “O que há de real por trás do mito dos Illuminati?”. Na matéria, o veículo explica que realmente existiu uma sociedade secreta, a Ordem dos Illuminati, fundada em 1776 pelo jurista Adam Weishaupt na Alemanha, com o objetivo de acabar com o obscurantismo e a forte influência da igreja na esfera política (ou seja, buscava o estado laico). As inspirações eram o iluminismo e a maçonaria (uma sociedade discreta, não secreta). Os Illuminati, no entanto, foram declarados ilegais em 1785. Desde então, criou-se o mito: muitos acreditam que eles seguiram ativos na clandestinidade, de geração para geração, de século para século, com ambições cada vez maiores… Há várias teorias da conspiração que associam episódios históricos, como a Revolução Francesa e a fundação dos Estados Unidos, com os Illuminati. Não há nada que comprove essas histórias. Muita gente fica impressionada com o tópico por conta de obras como “Anjos e Demônios” (2000), best-seller de Dan Brown, que tratam do assunto, dentro de uma ficção.
Hoje em dia, existe um interesse comercial na abordagem do tema. É sabido que qualquer mínimo estímulo para a imaginação do público gera um burburinho, economicamente rentável. Lady Gaga, por exemplo, narrou um sonho bizarro à revista Rolling Stone em 2010, disse que pesquisou o significado quando acordou, não encontrou nada e que sua mãe falou: “isso [que você sonhou] não é um ritual Illuminati?”. Tipo de declaração perfeita para dar aos outros o que falar. “Há escritores e jornalistas que contribuem com a paranoia em torno dos Illuminati e as pessoas se deixam convencer porque é interessante pensar que existe um grupo secreto que domina o mundo”, diz o o escritor e historiador americano Mitch Horowitz, em entrevista a BBC, “os músicos entendem a atração e usam símbolos como o pentagrama, o obelisco ou o olho que tudo vê, mas isto não os converte em membros de uma sociedade secreta”. Mas não é todo mundo que pensa assim. Mark Dice, autor do livro “The Illuminati: Facts & Fiction”, concorda que realmente existe muita fantasia em torno dessa sociedade secreta, mas ele acredita que “há provas que demonstram que é um grupo real e que continua existindo até hoje”. De acordo com Dice, cem das pessoas mais poderosas do planeta se reúnem em um hotel para discutir como “criar um governo global de inspiração socialista”. O uso de artistas mundialmente reconhecidos para promover a causa é uma das estratégias, segundo ele.
Kanye West, já apontado como um membro do grupo secreto, acha tudo isso uma grande bobagem. “Eu ouvi um comentário, uma piada, sobre a conferência de imprensa Tidal ser um momento Illuminati. Se houvesse realmente um Illuminati, seria mais como as companhias de energia. Não celebridades que deram sua vida à música e que estejam apontados como chamarizes para as pessoas que realmente governam o mundo. Eu estou cansado de pessoas que localizam músicos como os Illuminati. Isso é ridículo. Nós somos celebridades”, se posicionou. Madonna, que também esteve neste evento do Tidal, pensa diferente do rapper: “se você se refere ao Tidal como Illuminati, está nos fazendo um grande elogio. Como eu disse antes, Illuminati é outro nome para ‘Iluminados’, um grupo de cientistas, filósofos e artistas que emergiram após a idade das trevas. Eles mudaram e moldaram o mundo para melhor! Faça uma pesquisa e descubra por si mesmo! Conhecimento é poder”.
Polêmico, o assunto divide mesmo opiniões. Em 2014, Katy Perry foi apontada como membro dos Illuminati pelos símbolos usados no clipe de “Dark Horse”, que foi um estouro. Em entrevista à revista Rolling Stone, a cantora pop fez piada: “se os Illuminati existem, eu gostaria de ser convidada. Vejo todas essas coisas e penso: ‘me deixem fazer parte, quero participar desse clube!'”. Três anos depois, a própria Rolling Stone faria uma reportagem intitulada “Beyoncé e os Illuminati: o que está por trás da lenda de que a deusa do pop comanda a sociedade secreta”, botando mais lenha na fogueira. Na matéria, a publicação ressalta o logo da Roc Nation em formato triangular e o símbolo triangular que Beyoncé fez em seu show no Super Bowl para uma audiência enorme na TV. Na música “Formation”, a cantora mostra-se ciente das especulações, com o verso “vocês, haters, passam vergonha com esse papo de illuminati”. Fim do papo – para ela. Não para os outros.
Em 2013, J. Cole falou em uma entrevista à rádio Hot 93.7 que acreditava em todas as histórias sobre teorias conspiratórias que via na Internet envolvendo Beyoncé e Jay Z. Até que conheceu o casal ao ser contratado pela Roc Nation. “Quando você conhece Jay Z e vê como as coisas são, pensa ‘não, cara, isso é falso’. Pessoas muito distantes da verdade e do que realmente acontece criam essas coisas. Provavelmente estão bêbadas”. No mesmo ano, Justin Bieber também menosprezou as teorias durante uma entrevista a Nick Grimshaw: “é muito engraçada a quantidade de rumores sobre quantas pessoas supostamente são Illuminati. Todo mundo é Illuminati, supostamente”. Esse é um ponto: o grupo não poderia ser capaz de encher um estádio. Teria que ser algo mais restrito… não?
Jeniffer Hudson acha todo o papo de Illuminati uma loucura. “Isso é a coisa mais ignorante que já ouvi em minha vida. É ofensivo, sabe por quê? As pessoas que estão aqui não merecem estar aqui? Nós não trabalhamos por isso? Eu penso que – e odeio dizer isso – mas penso que são aqueles que não conseguem as coisas que provavelmente se juntariam aos Illuminati, ou a qualquer coisa, para chegar a algum lugar”, disparou em uma entrevista em 2011.
O rapper e empresário Jay Z, principal alvo das teorias, também já tocou no assunto. Não negou ser um Illuminati, mas menosprezou as teorias conspiratórias. “Pode soar um pouco arrogante, mas eu acho que as pessoas não conseguem lidar quando alguém é bem sucedido. As pessoas pensam ‘algo deve estar errado, deve ter algo a ver com um poder maior’. Acho que, quando alguém é bem sucedido, isso faz você se sentir falho, então não pode ser você [o problema], tem que ser uma força maior”.
