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Lady Gaga publica carta aberta sobre seu transtorno de estresse pós-traumático


Por meio do site de sua Fundação Born This Way, a cantora Lady Gaga publicou uma carta aberta tratando de seu diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático. Ela abordou o mesmo tema nesta semana, duranta uma entrevista para o programa de TV “Today Show”. Usando sua visibilidade, a popstar quer combater o estigma envolvendo os problemas de saúde mental.

No texto, a cantora revela como atividades rotineiras podem ser difíceis – e dolorosas – para ela, assim como o assédio dos fãs nas ruas, em dias mais complicados. Gaga também detalhe as causas de seu transtorno e o tratamento que vem fazendo.

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Confira a carta na íntegra:

“Eu tenho lutado por algum tempo sobre quando, como, e se eu deveria revelar o meu diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PTSD). Depois de cinco anos procurando as respostas para minha dor crônica e a mudança que senti em meu cérebro, estou finalmente bem o suficiente para lhe dizer. Há muita vergonha ligada à doença mental, mas é importante que você saiba que há esperança e uma chance de recuperação.

É um esforço diário para mim, mesmo durante este ciclo de álbuns, regular meu sistema nervoso para que eu não entre em pânico em circunstâncias que para muitos pareceriam situações rotineiras. Exemplos são sair de casa ou ser tocado por estranhos que simplesmente querem compartilhar seu entusiasmo pela minha música.

Eu também luto com disparos das memórias que eu carrego de meus sentimentos dos últimos anos em turnê, quando minhas necessidades e pedidos para o equilíbrio estavam sendo ignorados. Eu estava sobrecarregada e não estava sendo levada a sério quando compartilhei minha dor e preocupação de que algo estava errado. Eu acabei me ferindo na Born This Way Ball. Aquele momento e a lembrança disso mudaram minha vida para sempre. A experiência de se apresentar noite após noite em dor mental e física, enraizou em mim um trauma que revivo quando eu vejo ou ouço coisas que me lembram desses dias.

Eu também vivencio algo chamado dissociação, que significa que minha mente não quer reviver a dor, então ‘eu olho e encaro’ em um estado vago. Como meus médicos me ensinaram, eu não posso expressar meus sentimentos porque meu córtex pré-frontal (a parte do cérebro que controla o pensamento lógico e ordenado) é substituído pela amígdala cerebral (que armazena a memória emocional) e me envia para uma resposta de luta ou fuga. Meu corpo está em um lugar e minha mente em outro. É como se o acelerador de pânico em minha mente ficasse emperrado e eu ficasse paralisada de medo.

Quando isso acontece, eu não consigo conversar. Quando isso acontece repetidamente, faz com que eu tenha uma reação comum de PTSD, em que me sinto depressiva e incapaz de funcionar como eu costumava. É mais difícil fazer meu trabalho. É mais difícil fazer coisas simples, como tomar banho. Tudo tem se tornado mais difícil. Além disso, quando sou incapaz de controlar minha ansiedade, pode resultar em somatização, que é a dor no corpo causada por uma incapacidade de expressar minha dor emocional em palavras.

Mas eu sou uma mulher forte e poderosa que está ciente do amor que eu tenho ao meu redor, da minha equipe, minha família e amigos, meus médicos e dos meus fãs incríveis que eu sei que nunca irão desistir de mim. Eu não vou desistir dos meus sonhos, da arte e da música. Eu continuo aprendendo como passar por isso, porque eu sei que eu consigo. Se você se identifica com o que estou compartilhando, por favor, saiba que você consegue também.

Tradicionalmente, muitos associam PTSD como um condição encarada por homens e mulheres corajosos que servem países em todo o mundo. Embora seja verdade, eu busco aumentar a conscientização de que esse distúrbio mental afeta todos os tipos de pessoas, incluindo os jovens. Eu me empenho não somente em ajudar os jovens a não se sentirem envergonhados das suas próprias condições, mas também oferecer apoio aos militares e às mulheres que sofrem de PTSD. Nenhuma dor invisível deve passar despercebida.

Eu estou fazendo várias modalidades de tratamento de psicoterapia e estou tomando remédios receitados por meu psiquiatra. No entanto, eu acredito que o mais barato e talvez o melhor remédio no mundo são as palavras. Palavras gentis… Palavras positivas… Palavras que ajudam as pessoas que se sentem envergonhadas de uma doença invisível a superar sua vergonha e que se sintam livres. É assim que eu e nós podemos começar a curar. Eu estou começando hoje porque segredos te deixam doente, e eu não quero manter esse segredo mais.

Uma nota da minha psicóloga, Dr. Nancy:

Se você acha que pode ter PTSD, por favor procure ajuda profissional. Há muita esperança para recuperação. Muitas pessoas acham que o evento que estimulou PTSD precisa ser o foco. Ainda assim, frequentemente as pessoas irão vivenciar o mesmo evento e ter reações completamente diferentes a ele. É minha opinião que o trauma ocorre em um ambiente no qual seus sentimentos e experiência emocional não são valorizados, ouvidos e entendidos. O evento específico não é a causa da experiência traumática. Essa falta de um ‘porto seguro’ de sentimentos é a verdadeira causa da experiência traumática. Encontrar apoio é a chave.”