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Entrevista: Rogério Flausino fala sobre preparativos para show em homenagem ao 60º aniversário de Cazuza


Cazuza faria aniversário de 60 anos em 4 de abril de 2018. Para não deixar a data passar em branco e arrecadar fundos para a Sociedade Viva Cazuza, os irmãos Rogério Flausino (do Jota Quest) e Wilson Sideral preparam uma edição especial do show “Flausino & Sideral Cantam Cazuza”. Ela está marcada para a data do aniversário, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, repleta de participações especiais. Estão confirmadas as presenças de Caetano Veloso, Bebel Gilberto, Preta Gil e DJ Zédoroque. Será uma noite voltada para os fãs do cantor e compositor, com intuito de ajudar um de seus legados: a fundação aberta por sua mãe para tratar de crianças portadoras de HIV. Os ingressos custam apenas R$ 50 (valor da meia-entrada, disponível para todos mediante doação de 1kg de alimento não perecível).

POPLINE – Como surgiu a ideia desse show beneficente?
FLAUSINO – Eu e o Sideral já estamos com o projeto com repertório do Cazuza desde 2016. Fizemos algumas cidades, recebemos participações especiais no Rio, depois veio o Rock in Rio, e agora esse evento. Eu já tinha marcado há um tempão na minha agenda que 4 de abril de 2018 o Cazuza faria 60 anos. Eu tinha essa ideia: uma edição especial do show e tinha que ser no Circo Voador.

Isso já estava decidido há muito tempo então?
Já estava na minha cabeça há muito tempo, mas só comecei a falar no fim do ano, por conta da correria. Liguei para a Paula Lavigne e falei “é a data redonda”, liguei para o Zeca do Circo Voador e disse “reserva essa data pra mim”. Aí pronto. Começou a juntar as pessoas. Como é de praxe, a gente chama os amigos, os fãs, a galera toda. E o melhor desta vez é que vamos arrecadar dinheiro para a Sociedade Viva Cazuza. O plano é, de tempos em tempos, retomar o projeto. A gente teve um encontro muito bacana com a Lucinha [Araújo, mãe de Cazuza] há algum tempo e ela falou: “daqui a pouco eu não vou estar aqui mais, vocês tem que fomentar isso aí pra mim”. Aí eu e a Paula combinamos de fazer isso de tempos em tempos: chamar a galera, cantar Cazuza, e pronto. É um prazer absurdo. Eu e o Sideral adoramos cantar Cazuza. Isso está muito enraizado na nossa vida artística. Essa obra mexe demais com a gente – poeticamente, artisticamente. Juntou a fome com a verdade de comer.

O Circo Voador foi super importante na carreira do Cazuza…
É! Ou o show era lá no Circo ou era lá na praia no Arpoador, num fim de tarde… Mas, hoje em dia, está cada vez mais difícil fazer evento ao ar livre, porque custa caro a segurança e não sei o quê. Tem alguns teatros nos quais o Cazuza tocava, mas são muito pequenos… Eu falei “não, vamos pro Circo!”. Eu não sei a quantidade de pessoas que a gente vai conseguir levar para lá, mas a quantidade que aparecer para dividir essa noite já vai estar maravilhoso. Essa data não podia passar em branco. Esse ano não pode passar. Como estaria o Cazuza hoje? O que ele estaria dizendo de tudo isso? Acho legal exercitar esses pontos de vista. Eu me sinto, na verdade, lisonjeado por poder, ao lado do meu irmão, participar disso tão proximamente com pessoas que conviveram com ele. Eu não tive essa oportunidade. Quando o Cazuza morreu, eu tinha 18 anos e morava lá em Alfenas [Minas Gerais]. Pensa bem.

O que você mais gosta no Cazuza?
Como não o conheci pessoalmente, o conheci pelos vídeos e pelas letras das músicas. Era um cara extremamente sensível, inteligentíssimo, cultíssimo, lia compulsivamente, sabia muito de música, cresceu em um berço muito interessante, porque o pai era o João [Araújo, produtor musical e executivo da Som Livre por 38 anos], então ele só ouvia a fina flor da música, conviva com os grandes artistas dentro de casa… É indiscutível que o Cazuza tinha um plus de inteligência. Ele estava na frente. Ele era mais velho que os amigos do Barão [Vermelho], por exemplo, e estava muito lá na frente. A poesia do Cazuza é uma navalha. Verso a verso é uma cortada. É um jeito de escrever de um cara que leu muito e tinha um senso crítico muito aguçado. Um verso dele, com três, quatro, cinco palavras no máximo, era uma facada. E o Cazuza tinha uma voz… A galera fala de língua presa… ele tinha a voz meio rouca… mas o Cazuza cantava muito, velho. Ele cantava muito bem. O cantor é um intérprete, né velho? No nosso show, a gente fica no fio da navalha entre a imitação, porque a gente gosta muito, então tem que tomar cuidado, e a busca por cantar do nosso jeito, mas com cuidado com a entonação, a dicção, porque o Cazuza botava a sílaba tônica da palavra do jeito certo na hora certa. Ele tinha uma interpretação magnífica.

Com relação aos convidados do show, como funciona? Cada um escolhe o que vai cantar?
Tem sido muito natural. Das outras vezes que a gente recebeu convidados, é sempre “ah, eu gosto de cantar tal”, “e você?”, “qual você quer cantar?”. O Caetano ainda não decidiu o que vai cantar, mas a gente quer muito que ele cante “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, porque foi ele que gravou e lançou essa música na época. Ouvi-lo cantando vai ser lindo. No repertório, a gente também canta músicas que o Cazuza gravou, mesmo que ele não tenha escrito, então essas também são opções. O Barão gravou “Eclipse Oculto”, do Caetano, e também queríamos que ele cantasse. Já até ensaiamos. Não ensaiamos com ele ainda, mas já está prontinho no tom dele. A gente espera que ele goste. Ele ficou de nos dar a resposta do que vai cantar. Se ele falar “O Tempo Não Para”, ele vai cantar “O Tempo Não Para”. Ele que manda (risos)! A Bebel da outra vez cantou “Preciso Dizer Que Te Amo”, e ela gosta de cantar também de “Solidão Que Nada” e talvez vá por aí…

Foi fácil reunir essa galera em uma data específica? Imagino a dificuldade de disponibilidade de agenda.
Não! Está dando super certo. Muitos amigos que chamamos não puderam, porque já tinham compromisso, mas em compensação outros puderam e deu certo. Fui claro: “não pode ser dia 3 nem dia 5, tem que ser dia 4” (risos). “Vamos fazer semana que vem”, aí eu digo “semana que vem não dá, tem que ser no dia do aniversário”. Quando falaram “o Caetano pode”, comemorei: “ahhh, não acredito!”. Aí ligamos pra Bebel, e ela disse “ah, vou estar aí no Brasil, vou ter um negócio de tarde, mas de noite eu posso”. Pronto. Aí parece que a Preta Gil vai também. Pretinha vai cantar. Ainda não definiu a música, mas tem várias para ela. Chamei o [DJ] Zedoroque, que é meu amigo, um menino que gosto, sensível à causa, e ele vai ficar botando um som lá. Ele vai tocar de tudo – os anos 80 – como se fosse uma festa do Cazuza.

100% da renda vai para a Sociedade Viva Cazuza?
100% da renda. O Circo entrou como parceiro. A gente paga as despesas, uma coisinha ou outra, e tudo que sobrar vai para lá. Por isso que a galera tem que ir, para a gente conseguir dar um volume e realmente dar uma grana para a sociedade. Se lotar, se for bacana e der uma galera, ajuda. A gente fez questão de não botar ingresso caro, porque você fala “galera, é pra ajudar”, mas aí a galera não vai, porque não dá conta. Botamos cinquentinha, que o cara aguenta pagar e ajuda.

O que mais as pessoas podem esperar do show?
No total, vai dar umas 21 músicas. O Caetano vai cantar no mínimo uma. Uma ou duas. Bebel, uma ou duas. Pretinha. Tem um nome surpresa, que eu não posso falar, porque… não posso falar. A gente tem um compromisso de tocar os arranjos o mais próximo possível dos originais para o cara sentir “cara***, mano, parece o Cazuza!” (risos). Eu não tenho interesse em fazer versão. Sou muito fã, quero tocar o mais próximo possível daquele arranjo que a gente ouviu a vida inteira.

A setlist perpassa o repertório dele desde o Barão, né?
Sim. Não é cronológico. Vai e volta. Tem lá “O Mundo É um Moinho”, aí vai no sambinha, “Faz Parte do Meu Show”, bossa nova, “Codinome Beija-Flor”, aí tem “Um Trem Pras Estrelas”, que eu quero ver se a Preta se interessa em cantar essa, porque é do Gil… Aí vem o rock: “Mais uma Dose”, “Bete Balanço”, “Pro Dia Nascer Feliz”, “Um Maior Abandonado”, “Ideologia”, “O Tempo Não Para”, “Blues da Piedade”… É de tirar o ar! Uma trás da outra! Que saudade!

Então convide os leitores do POPline!
Fica aqui o convite mais que especial para brindar a obra do Cazuza, que estaria fazendo 60 anos de idade. Vamos passar lá um tempo bom, ouvir essas músicas, tomar uma cerveja, curtir uma noite legal em um lugar icônico, com a presença do Caetano Veloso, da Bebel Gilberto, da Preta… um monte de gente que tenho certeza que vai aparecer lá de última hora (risos). Todo mundo lá naquele clima legal. E, além disso, ainda ajudar a Sociedade Viva Cazuza, que é sempre bom.