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ENTREVISTA: Robbie Williams fala sobre voltar às raízes com novo disco, depressão e diz querer fazer novos shows no Brasil


Por muitos anos, ele foi considerado o grande menino rebelde do Reino Unido, que falava demais (demais mesmo!). Robbie Williams pode não ter familiaridade com a maioria dos jovens fãs de pop da atualidade, principalmente se você acompanha mais de perto o mercado americano, mas sua história não é desconhecida de quem gosta do gênero: revelado em boyband (Take That), sucesso estrondoso, carreira solo, alguns problemas e volta às raízes.

É esse retorno que Robbie visou com seu novo disco solo “The Heavy Entertainment Show”, lançado no início de novembro. O POPline conversou com o cara sobre fama, o alívio de poder falar hoje abertamente sobre depressão já que o assunto está em voga graças a outros artistas que também sofrem da doença e as constantes busca da imprensa britânica de um “novo Robbie” em promessas jovens masculinas britânicas da música.

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“The Heavy Entertainment Show” é seu décimo primeiro álbum. Como você o descreve?
Bem, meus primeiros cinco discos foram grandes sucessos e eu estava trabalhando na época com Guy Chambers, meu parceiro de composições e “irmão mais velho”. Acabei me rebelando contra ele, como as pessoas fazem nas famílias. Acabamos nos afastando e eu só queria fazer tudo a minha maneira, como irmãos fazem mesmo. Fui em uma direção diferente, mas sempre soube que em um certo momento voltaría a escrever com ele só não sabia quando. E a hora é essa! Foi algo que despertou meu interesse, minha paixão, então o disco é sobre isso. Repetir o que eu tinha feito em outros momentos e tentar retomar isso. É meio “por que as pessoas gostaram de mim lá no começo? Vamos fazer aquilo”.

E o disco acabou te dando seu 12º número num na parada britânica. Confessa pra gente, você liga para os números?
Sim, me importo! Tenho meu ego, sou sensível e uma vez que o sucesso passa, você é visto de outra forma e me enxerguei de uma forma diferente e há uma sensação de segurança com o sucesso. Na verdade é um alívio, mais do que qualquer outra coisa. As pessoas perguntam “como você comemorou?”, e eu não exatamente comemorei, eu só dei um suspiro de alívio, tipo “graças a Deus [a fama] não passou”.

E esse meio período não foi fácil para você. Você passou por problemas de saúde, como depressão. Não é comum para os artistas pop falarem sobre depressão e outras doenças mentais. Agora temos cantores como Selena Gomez, Demi Lovato e Lady Gaga falando para uma audiência mais jovem. Você também está mais aberto a falar sobre o tema. Você acha que agora é hora de quebrar essa tabu?
Eu acho que isso culturalmente só se tornou mais aceitável e mais compreensível agora, coisa que não acontecia dez anos atrás, sabe? As pessoas não tinham essa compreensão sobre o que era aquilo ou porque aquilo acontecia. Isso fez com que eu me sentisse mais isolado porque as pessoas diziam “você é um popstar, é cheio da grana e ainda fica infeliz com o quê?”. Isso fez com que eu me refugiasse cada vez mais em mim mesmo e foi uma coisa que complicou ainda mais as coisas para mim. Mas acho que, culturalmente, andou acontecendo uma mudança ao redor do mundo sobre o quanto as pessoas entendem sobre saúde mental e elas se tornaram mais abertas ao tema, o que é um alívio para mim, levando em conta o fato de eu ter, entre aspas, sofrido depressão.

E como você está se sentindo agora?
Eu estou muito bem, me sinto muito bem. Estou me medicando, estou me cuidando melhor do que eu andava anteriormente. Não estou me automedicando com bebida, drogas e outros vícios. Tenho uma esposa maravilhosa, uma família maravilhosa, um ótimo trabalho, mas eu precisava de ajuda. Convivia com pessoas que me amavam, que querem me ver bem e eles também entendem o que é depressão, o que é estar viciado e eu sou muito sortudo por ainda estar vivo. Eenho sorte por hoje ser um bom dia.

Na faixa que abre “Heavy Entertainment Show” você critica a imprensa e a indústria da música. Você está fazendo o que faz há mais de 20 anos. O que você aprendeu com tudo isso?
O que eu aprendi de tudo isso? Não acho que posso resumir isso em uma frasezinha, você vai ter que comprar o livro!

Algum arrependimento?
Claro, vários, mas… sabe, nada que eu queira contar para o mundo. Agora eu me arrependo de não conseguir não comer chocolate!

Você não tem problema algum em falar o que pensa. E você aponta algumas questões no novo disco. O que você pretendia em falar abertamente sobre alguns temas?
Eu não acho que eu tenha apontado nada que fosse… hum. Assim, tudo o que eu faço tem um tom de comédia, dentro de um personagem. Eu não consigo pensar, instantaneamente, em algo dentro do álbum em que eu tenha cutucado alguém. Se eu cutuquei, foi na boa, com humor…

Uma coisa que você fala abertamente é sobre a mídia britânica que sempre está em busca de um novo jovem cantor para ser o “Novo Robbir Williams”. Olly Murs, Harry Styles… você acha que é importante promover um “novo você” e como você lida com isso?
Se eu acho importante promover um “novo eu”…? Hum… não, não exatamente.. Tipo, eu nunca entendi tão bem o que eu faço como entendo hoje, o que eu tenho de diferente e eu meio que adoto uma abordagem teatral, adoto um estilo cabaret, meio bobinho. Aceito que vida é meio bobinha e a indústria musical é meio bobinha e eu tento me divertir em meio a tudo isso. Não estou tentando ser aceito como um artista, não me interesso por isso, só quero me jogar, me divertir e ser uma fonte de diversão. Isso, eu levo muito a sério.

Então diz quem você gostaria que interpretasse você mesmo em uma possível cinebiografia?
Ah, eu mesmo!

Bem, já se passaram 10 anos do seu último show no Brasil e você está atualmente em turnê. Alguma chance de vermos você novamente por aqui?
Espero que sim. Minha equipe anda conversando [com produtores brasileiros], mas, sabe, é difícil chegar até aí porque meus shows são tão grandes e meu palco é tão grande. Às vezes não conseguimos arcar com os custos de levar toda essa estrutura, mas estamos tentando!

Tradução:
João Bezerra e Amanda Faia