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Entrevista: Projota fala sobre o novo álbum “A Milenar Arte de Meter o Louco” e parcerias com Anavitória e Karol Conka


Para todo artista chega o momento do segundo álbum, da insegurança, mas para Projota chegou a hora de “meter o louco”. Após um álbum e um DVD de sucesso, que colocaram o rap no mainstream, essa era a hora de se provar e parece que “rimador da ZN” conseguiu exatamente o que queria.

Em  “A Milenar Arte de Meter o Louco” Projota fez questão de entregar um bom resultado, ficar feliz com sua própria música e não se importar com críticas ou títulos – foi só botar pra fora o que tinha na parte de dentro.

Em um papo desenrolado, o rapper nos contou alguns detalhes sobre seu novo trabalho e as parcerias com Anavitória, Karol Conka, Haikaiss, Rashid e o maior nome do rap brasileiro, Mano Brown. Confira!

“A Milenar Arte de Meter o Louco”, de onde veio esse título?
Esse título… Ele tem várias explicações e nenhuma ao mesmo tempo. É mais o feeling, é ouvir o álbum e ver como você o interpreta. Pra mim, a construção dele surgiu natural, quando escrevi a música. Logo que o refrão saiu eu pensei, ‘Caraca, isso aqui dá nome de disco’. ‘A Milenar’ é porque, para mim, todo mundo que fez grandes coisas nesta terra meteu o louco e isso a gente pode jogar lá pra trás, Moisés, Jesus… Me fala alguém que meteu mais o louco do que Jesus? Todo mundo achava que ele era charlatão, mas mesmo assim ele se provou. Além deles, Luther King, Joana D’Arc… Todo mundo que deu a cara a tapa e foi pra cima por um resultado. E ‘meter o louco’ já se explica aí também.

“Agora o bicho pega, é hora de provar” – Essa foi uma frase que chama a atenção no release de “A Milenar Arte de Meter o Louco”. Podemos dizer que você sentiu a clássica pressão do segundo álbum?
O DVD me ajudou um pouco nisso. No meio do caminho tive o DVD, que fez muito sucesso. Inclusive, meus dois maiores sucessos saíram do DVD, “Ela Só Quer Paz” e “Muleque de Vila” – que trazem minhas duas vertentes, o romântico e o mais pesado. Isso tudo me deu uma tranquilidade pra poder fazer o álbum, mas é difícil mesmo. Sei que isso existe e sempre vai existir, essa coisa do segundo álbum, de provar, mas trabalhei da forma mais tranquila possível. Tive muito tempo, um ano e meio compondo e quase oito meses em estúdio gravando. Jogamos as músicas fora mil vezes e voltamos. Tive um prazo para poder lapidar o disco da melhor maneira. Se eu tivesse lançado em março, que era a previsão, teria sido uma bosta e eu teria ficado muito triste. Hoje, com o resultado que a gente atingiu e com o tempo que tive para me entender melhor e saber exatamente o que eu queria trazer pra galera, eu estou muito feliz. Acho que o bicho pegou mesmo, a gente deu um salto. O disco é moderno, em termos de produção, mas também tem a essência lá de trás.

Falando em essência… Você acredita que conseguiu unir a “novidade” e o flerte com outros gêneros musicais com as suas raízes de “rimador da ZN”, que é como você mesmo se auto descreve?
Acredito que as músicas românticas conseguem mostrar um pouco mais disso. “Linda”, por exemplo, é um samba rock. Ouço aquela batida e escuto um samba rock, que dá até vontade de puxar alguém pra dançar! Em “Pique Pablo” tem um lance latino, sabe? Foram referências que buscamos para fazer o disco. A modernidade acho que também está em “Mais Like”, que lembra algo do produtor gringo Mustard. A gente buscou modernidade, buscou outras coisas, mas com nossos temas e a nossa escrita, então ficou uma mistura boa.

Você mencionou “Linda”, seu segundo single, onde você compartilha os vocais com o duo Anavitória. Como foi trabalhar com as meninas? Como aconteceu essa colaboração? Foi um convite seu?
Ahh, elas são embaçadas, né? Haha Essas meninas são demais! Muito, muito, muito talentosas. Eu já conheço elas há muito tempo, sou amigo delas. Foi um convite meu mesmo… Eu já conhecia a Vitória, temos amigos em comum. Quando rolou essa música e imaginamos uma voz feminina para ela, pensamos: ‘Caramba, podem ser duas vozes.’ Então, chamamos as meninas e a gente quis que as duas cantassem juntas… Ficou muito especial.

No ano passado, você foi o único artista não sertanejo no top 10 da lista dos mais tocados em serviços de streaming no Brasil. Como você enxerga o sucesso do rap nas rádios?
Isso é muito louco. Esse fato, essa estatística, me dá muito orgulho. Eu sempre falei que queria ver o rap navegando… Nunca quis que o rap tomasse o lugar de ninguém, quero que o rap esteja no mesmo patamar dos outros e seja respeitado. Quero que a gente esteja nos grandes eventos, nos programas de TV, nas rádios, em todo lugar, e eu venho tentando bater nessa porta há anos. São portas atrás de portas, mas a carreira é isso mesmo e eu ainda quero muito mais para o rap, porém não dá para fazer sozinho. Torço muito para que outros artistas tomem esse rumo também e que consigam trazer o trabalho deles e que as emissoras e rádios abram as portas para eles, como fizeram comigo.

Falando da cena rap… Lá atrás, você comentou que foi “crucificado” na própria cena por “se permitir”, inclusive quando gravou com a Anitta. Como enxerga essa situação agora?
Eu acho que toda a galera, tanto os artistas como o público do rap e do hip hop, tem uma responsabilidade muito grande e tem que tomar cuidado quando crucificam um artista e tentam de alguma forma acabar com aquilo e tirar todo o mérito daquele trabalho. Não é por aí, são ciclos. Deixa a coisa acontecer… Acho que a gente passou por essa fase, mas eu sou bravo demais. Sou casca grossa mesmo, então para me derrubar é muito difícil e essa galera não conseguiu. Agora, a gente vive um outro momento. Depois de ter passado pelo turbilhão, a maré tá suave. A galera entendeu e aceitou o projeto que eu propus lá atrás.Eles percebem que tenho as músicas românticas, mas tenho as mais pesadas também. Tem música pra todo mundo e se você, mesmo assim, não gostar do Projota, tem outro artista pra você gostar. O rap é muito maior do que o Projota, sou um grão de areia nessa praia que é o hip hop.

Mesmo passando por essa fase mais conturbada, você trouxe o maior nome da cena do rap, o Mano Brown, para seu disco. Como você se sente tendo ele no prefácio do álbum?
O Brown é o maior que tem, não tem jeito, não dá nem pra explicar. Eu conheço ele há alguns anos e ele respeitou a gente desde o começo. Eu digo ‘a gente’ porque eu não estava sozinho ali, tinha o Rashid, o Emicida… A gente conheceu o Brown lá atrás e, não só ele, como todos os caras do Racionais, sempre respeitaram muito. O pessoal das antigas sempre respeitou muito, o problema era com uma galera que fica atrás do computador em casa e nem sabe o que é rap, o que é viver essa cultura. Eu sempre quis o Brown em um disco meu e ainda quero fazer uma música com ele, só que eu não tive essa música agora. Então, nesse momento, ele fez esse prefácio, que para mim é como assinar embaixo. Ele contou a história dele no rap e essa história vai se confundir com a história de todo mundo do rap, porque tudo começou ali. Ele é o pai do negócio, o que aconteceu com ele definiu o que veio acontecer com a gente. Esse prefácio sintetiza o que é o disco e traz essa história que fez com que o Projota esteja aqui hoje.

Você mencionou ‘as pessoas que ficam por trás do computador em casa’… Esse é um tema que aparece na sua música com a Karol Conka, “Mais Like”. A faixa ainda fala também sobre a obsessão das pessoas com as redes sociais. Você se incomoda com isso e porque escolheu a Karol para tratar desse assunto junto com você?
Me incomodo bastante. A minha música fala direto com o indivíduo e é uma forma de dizer, ‘Mano, não entra nessa que isso é zoado. Para que tá feio de verdade.’ É ridículo você deixar de viver sua vida para estar só ali no celular ou atrás do computador e quando você faz isso para atrapalhar a vida de outras pessoas é pequeno demais. A Karol… então, eu já queria uma música com ela e quando recebi a batida da música, já sabia que era pra ela. Antes mesmo de ter o tema! A batida era a cara dela, era “a” Karol. Fizemos uma música em 2011 que se chama “Não Falem”, que fala sobre quem fala da vida alheia e tal, então tem tudo a ver com essa de agora. A gente só trocou para o mundo virtual.

Desde que você surgiu, apareceram na cena do rap outros nomes como o Haikaiss, que está na música “Pique Pablo”. Como foi essa colaboração e como você se sente quando está em contato com essa galera “mais nova”?
Eles não são tão mais novos, mas apareceram na cena mesmo depois de mim. Eu apareci em 2010 e eles mais ou menos em 2013. Somos todos da Zona Norte (de São Paulo) e o Spinardi é meu amigo lá de trás, a gente tem uma parceria. Fico muito feliz por ver o que eles conseguiram fazer. Eles quebraram várias barreiras também, por serem brancos em um cenário predominantemente negro, e tudo isso fazendo música boa, de qualidade. Tipo o Eminem, sabe? Conseguiu transpor barreiras simplesmente com música boa e ponto. Eles são muito dedicados e trabalham muito e isso fez com que eu me identificasse demais. O último trabalho deles é incrível, eu piro mesmo, e logo quis ter eles no disco também. Então é isso, tem o Brown, o Rashid, a Karol, o Haikass… A cena inteira! Dá pra navegar pela cena através do meu disco.

Você falou do Rashid… A música com ele, “Segura seu BO”, é bem especial para você, já que aborda alguns problemas que você passou em 2015, depois que provou do sucesso… Você acha que conseguiu superar essa questão em “A Milenar Arte de Meter o Louco”?
Eu acho que aquele era um momento em que consegui muito mais do que sonhava, muito mais do que eu precisava. Cheguei em um ponto em que eu me perguntava, ‘E agora? Pra onde que eu vou?’. Então, eu realmente não tava bem, tinha perdido a gana, a vontade. A minha música tem muito a ver com a minha vida, eu preciso de objetivos para compor e naquele momento eu não tinha um objetivo maior. Eu não trabalho assim e não soube lidar com aquilo. Depois de um tempo, consegui traçar novas metas e esse disco era um deles. Queria muito fazer um puta disco e consegui. Não estava mais feliz com o meu primeiro álbum, apesar de ter conseguido o sucesso com ele, e queria mais. A letra de ‘Segura Seu BO’ é como um desabafo de tudo que passei lá atrás.

Finalmente, uma das mais importantes mensagens do seu álbum está em “Rebeldia”, onde você fala da nova geração que é “boazinha demais”. Uma grande parte do seu público faz parte dessa geração, então essa música é um diálogo direto, né?
Com certeza, é pra eles. Eu acredito que uma geração que não se rebela é uma geração perdida, sabe? Dá vontade de pular, passar pra próxima. A internet e os smartphones ajudam muito nisso também, você fica ocupado demais para enxergar o que realmente importa. O diálogo é por aí. A letra em si é difícil de explicar, mas é tipo ‘Vamo aí, mano. Acorda! Vocês tão de brincadeira comigo!’. Acho que com a saída ou a baixa do rock da cena, o rap tomou esse lugar. Se você ouve Cazuza, Legião Urbana, Charlie Brown Jr, você vai ouvir esse tipo de mensagem. Essa é só mais uma música que fala sobre isso, só que agora fui eu que fiz!