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Entrevista: Kell Smith fala de novo EP, força das mulheres na música e liberdade no amor


Kell Smith foi um maiores nomes da música nacional em 2017. “Era uma Vez” ficou entre as mais tocadas nas rádios pop, fazendo uma reflexão sobre a vida. Antes do ano terminar, ela lançou na última sexta-feira (22) o EP “Diferentão”, com duas faixas inéditas.

Em entrevista ao POPline, a cantora falou sobre as novidades da sua carreira e sua visão sobre o que está acontecendo no mundo atualmente.

POPline: Você está com um novo EP, o “Diferentão”. O que podemos esperar das músicas?

Esse EP tem duas músicas inéditas, “Diferentão” e “Maktube”. Ambas foram inspiradas pela mesma pessoa. “Diferentão” fala de um cara que se apega nas coisas essenciais da vida. Sobre um cara simples, de um bom coração, tem uma pegada mais reggae é deliciosa, muito leve!

Já “Maktube”, como a expressão já diz, “já estava escrito em árabe”, fala de amor e desse tipo de amor que já estava escrito e não conseguimos explicar. Fiz em parceria com meu pianista, o Bruno Alves, está uma música muito especial, tenho muito orgulho de ambas. É com certeza a continuação do que eu já vinha fazendo com meu trabalho, compartilhando sentimentos em comum e ter esse retorno se é mesmo isso que eles sentem e isso tudo o que nos une.

POPline: Eu sei que geralmente os artistas não gostam de falar isso, mas você pode falar quem foi essa pessoa que inspirou as músicas?

“Maktube” foi feita com meu pianista (o Bruno Alves) e foi meio que uma música nossa, sobre a nossa relação, dessa coisa de conhece-lo musicalmente e me apaixonar pela ideologia dele de vida. É muito mais conhecer uma pessoa, como eu conheci o Bruno, e poder dividir com ela o que você pensa sobre amor. É mais uma questão contemplativa… Claro que rola esse lance de ter me inspirado através da pessoa dele.

Isso é algo novo pra mim, antes eu nunca tinha feito uma música com gênero, que fala evidentemente sobre um homem, como em “Diferentão”. Tem esse diferencial, já que ele foi um cara que eu conheci e desmistificou um pouco a figura masculina e me fez ter um outro olhar.

POPline: E no português é difícil fugir do gênero, não é mesmo? Se fosse no inglês seria mais fácil!
Sim, e eu sempre tentei fugir! Eu sou uma pessoa extremamente livre… Então hoje eu amo Maria, amanhã eu amo João. Eu nunca botei gênero na música exatamente por essa liberdade de amar e viver.

POPline: A bandeira LBGTQ é algo que você gosta de levantar na música?
Como compositora, eu tenho um compromisso com a verdade. Eu vou ter músicas inspiradas em uma mulher, agora tenho uma inspirada em um homem. Então não deixa de ser uma bandeira e dizer que nós que nós somos livres para amar a quem bem entendemos. É uma bandeira de liberdade, porque eu sou muito liberta e acredito que quando você se sente livre, o próximo passo é ajudar a empoderar e libertar o outro. Já fiz isso em “Respeita as Mina” e “Coloridos”, que eu falo de – não sendo ativista ou militante – de ser real. Essas músicas novas não deixam de falar dessa liberdade. Só é uma perspectiva diferente, já que estou em outro momento. É um amor diferente, saber que é um amor por um cara é muito legal, estou me permitindo a isso. E acho legal compartilhar com os fãs e dizer que podem serem livres para amar a quem bem entenderem. É muito significativo pra mim.

POPline: Eu li que você só “sabe escrever sobre coisas reais, sobre as verdades”. Estamos em um mundo de várias verdades cruéis e desagradáveis. Como você canaliza isso para fazer músicas que realmente causam identificação ao público?
Eu acho que é tudo uma questão de perspectiva. A gente nunca está totalmente na merda! (risos) Eu sempre acreditei muito no real sentido do final feliz, vai muito além do conto de fadas. Então, se ainda não tá feliz, é porque ainda não chegou ao final. Então tem essa perspectiva… ‘Era Uma Vez’ já leva essa coisa de ‘Ei, percebi que o mundo tá feio, percebi que o mundo ficou mal, mas ainda dá pra viver’! Então quando você tem um compromisso com a verdade, que é meu caso com as minhas músicas, você se coloca numa posição onde tá todo mundo meio perdido. Então como abordar essas verdades se nossas verdades atuais são tão feias? Então é uma perspectiva de esperança. As coisas acontecem dessa forma… O momento ruim não é eterno, ele passa. E o momento bom também não é eterno! O legal é ter o equilíbrio de colher o bom momento e aprender com o momento ruim. Esse equilíbrio é o que eu busco.

POPline: Está sendo incrível todo esse sucesso de ‘Era Uma Vez’. Já está há mais de um mês entre as mais tocadas nas rádios! Como foi essa recepção, já esperava?

Não esperava que ‘Era Uma Vez’ fosse acontecer dessa forma, até porque foi uma música muito despretensiosa e simples, como toda música minha… Eu não faço filtro das minhas músicas, eu componho como uma louca e deixo para quem sabe fazer filtro disso. Então minhas músicas nascem de um momento de verdade. Mas a palavra aqui é ‘gratidão’, muito mais do que a música está tocando nas rádios, o que já é uma honra, muito além disso é a mensagem sendo propagada, isso que faz toda a diferente.

POPline: Tem muita gente que já compõe pensando na capacidade comercial, o que não é o seu caso… Acha que isso pode mudar, depois do sucesso?

Eu acredito que minha maneira de fazer arte é diferente. Eu respeito de quem já faz muito de maneira pretensiosa. Claro, falo em um bom sentido. A pessoa se preocupa em como as músicas serão recebidas. Acho legal e bacana quem consegue fazer dessa forma. Eu não consigo, comigo é muito mais orgânico. Eu tenho que estar sentindo e vivendo aquilo. Eu me desprendo de tudo para que ela seja gerada. Por viver isso tão intensamente, então não tenho tempo para pensar se as pessoas vão receber com a mesma intensidade. É muito mais uma forma de me entregar ali.

POPline: Você chegou até a superar Anitta nas rádios, que estava muito tempo no topo. No Brasil estamos com essa tendência muito legal das mulheres estarem dominando no topo! Como você se sente fazendo parte disso?
Me sinto totalmente parte disso! A Anitta abriu o caminho para cantoras como eu… As cantoras que já estão nesta luta abriram este caminho. Me sinto muito pertencente e feliz. Fico muito feliz com o que está acontecendo no sertanejo e na nova MPB. As mulheres estão ganhando sua vez! Mas é claro que isso não aconteceu do nada, nós estamos lutando e é muito difícil ser mulher e estar numa situação de exposição. Não como artista, mas como qualquer mulher. Todas nós estamos lutando pelo nosso espaço.

POPline: Você tem inspirações no pop?
Não sei o que eu considero pop… Mas acho a Any Winehouse pop! Ela é uma inspiração… Quando a gente fala de pop brasileiro, a Elis Regina era um grande nome pop. Ela é minha maior inspiração. Escuto muito Lorde, acho ela incrível, de uma atitude impressionante. E tem muita coisa nas rádios… Gosto, sim, do trabalho da Anitta, acho muito legal. Não é o tipo de música que eu cantaria, acho que não teria pique pra isso (risos). Mas admiro muito o trabalho dela! Também tem as meninas do rap, como Karol Conká, Flora… Fico feliz que tenham muitas mulheres!

POPline: E quais são os projetos para a carreira?
Agora tem o EP, mas no começo do ano tem o álbum completo! Estou muito ansiosa pra mostrar tudo, está muito lindo! Já queria mostrar tudo… Tem projeto de muito show e muita música! É um orgulho pra mim.

POPline: Estamos ansiosos para ouvir!
Eba! Me digam o que vocês acharam!