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Entrevista: Di Ferrero agora é pop


“Só a minha ausência / vai te fazer notar / quem realmente sou”. O cantor, compositor e músico Di Ferrero, de 32 anos, voltou cantando esses versos dez meses após o anúncio do hiato da banda Nx Zero. Primeiro single de sua carreira solo, “Sentença” é diferente de tudo que já se ouviu o matogrossense cantar. O som é pop, ele canta em falsete, e a estética do videoclipe o aproxima mais do POPline do que do ROCKline. Por isso, Di Ferrero está aqui, em entrevista inédita para falar de sua nova fase – na qual até canta com Preta Gil em baile da Vogue, faz ponta em clipe da Anitta (aquele do “ao vivo que demorou a subir”) e se apresenta com dançarinos no Miss São Paulo. Tudo isso é só o começo. Em 2018, o Brasil vai conhecer um novo Di – um que ele mesmo está descobrindo pouco a pouco quem é e até onde pode ir. Dê o play no vídeo e desfrute do bate-papo:

Di Ferrero agora é pop?
Uma mistura do rock, pop e tal. Desde que a gente decidiu dar uma pausa, há um ano e meio, eu venho experimentando um monte de coisas. Essa música tem o lance da essência mais pop, como você falou, por causa dos timbres e eu quis procurar outros elementos e coisas eletrônicas até chegar nesse som, que é muito orgânico mas tem muito eletrônico. Fui experimentando com o tempo. Tem a ver muito com o que estou ouvindo também.

Você então está trabalhando em material solo há bastante tempo.
Sim, quase um ano. Tenho bastante músicas. Umas quinze músicas mais ou menos. Essa música eu fiz junto com o Gê, que eu componho tudo no Nx.

Você vai lançar um álbum com essas músicas?
Eu não sei exatamente como vou fazer, mas tenho muito material e não estou parando de fazer. Não sei como vou lançar isso. Tenho algumas ideias, dependendo do que acontecer com essa música.

Um site falou que “Sentença” tem uma pegada de Justin Timberlake. Como você recebe essa opinião?
Como um elogio. Acho o Justin muito bom e, com certeza, tem algumas coisas do trampo dele que eu adoro. Ele sempre teve muito cuidado, musicalmente falando, com os timbres, com os produtores escolhidos, com as decisões de singles. Ele nunca foi um cara que lança o que está na moda. Ele lança a moda dele em cima do que está acontecendo. Eu gosto disso no Justin. Recebo como elogio. Falta eu dançar agora (risos). Vou começar a fazer alguma coisa, né?

Se você vier dançando, vai dar o que falar.
(risos) Imagina! Mas eu acho que expressão corporal, essa coisa toda que eu já venho fazendo há algum tempo… pode ser que role, né?

O declínio do rock nacional colaborou, de alguma maneira, com sua decisão de buscar novos ares?
Não. Eu acho que o Nx nunca foi considerado rock. Algumas pessoas consideram, outras não. No começo, a gente sofreu um puta preconceito com a galera do rock…

…que vocês eram emo.
É! Lembra disso? Então, tipo assim, a gente parou em um momento muito bom da banda, e eu acho que é assim que se para. O legal é que eu estava a fim de fazer outras coisas, todo mundo estava. Por isso que eu fiz esse som. Estava a fim de navegar mesmo e buscar outras possibilidades na minha vida. Eu canto desde os oito anos, eu cantava em igreja, muito louca a história. Estou sentindo mais uma mudança, e isso é legal. Estou acostumado a mudar.

E o que você tem ouvido?
Eu ouço muita coisa dos anos 1970, tipo Motown. Mas gosto muito de Bruno Mars. Estou adorando as coisas que o Jão está fazendo. A gente inclusive produz no mesmo estúdio, então acabo ouvindo muito o que ele está fazendo. Acho-o muito bom. Ah, o Charlie Puth também. Acho esse moleque muito bom.

Você está ouvindo bastante pop mesmo.
Bastante pop, R&B dos anos 1990, tipo Take 6, que eu amo, e outras coisas da época que comecei a ouvir R&B mesmo.

Em “Sentença”, você dá uns falsetes que não lembro de você cantar assim antes. Está descobrindo novas maneiras de brincar com a voz?
Sempre. Tem alguma coisa do Nx que tem falsete, mas não tão na cara assim. Só que agora sou eu, o Di, então preciso explorar o vocal absurdamente. Estudo muito música, nunca parei de estudar, então estou explorando outras paradas do grave para o agudo. Eu me sinto muito à vontade cantando assim. Dá vontade de fazer um show inteiro só cantando no falsete! (gargalha)

Você postou uma foto no Facebook recentemente com a frase “quem realmente sou”. O que tem por trás dessa legenda? Você não se sentia autêntico antes?
Sempre me senti autêntico, mas a gente sempre muda e até se encontrar de novo… (pensa) Às vezes você precisa de um motivo para isso e, pra mim, um motivo é uma música, por exemplo. A parada do Nx dar certo sempre foi a autenticidade, e agora eu sinto que achei uma coisa que realmente faz sentido pra mim. Como Di Ferrero. É muito louco, porque o resto, em volta, tudo vira música pra mim. Estou compondo todo dia uma música.

E quem você realmente é?
(risos) Eu sou o cara que está andando.

Essa música, como você falou, é composição do Gê. Você continua trabalhando com a galera do Nx na carreira solo?
Eu e o Gê fizemos vários sons, “Razões e Emoções”, “Cedo ou Tarde”, tudo junto. Ainda estou compondo com ele, mas com outros também. Tenho músicas com Tropkillaz, com Rael, com Mahmundi, com Emicida, com o pessoal que compõe com Projota… Estou compondo cada música com uma pessoa.

Bastante parcerias então.
Muitas, muitas. Isso é o mais legal. Estou explorando muito e conhecendo bastante gente. Vem bastante “featuring” também. Brasileiro e gringo.

Ah é? O que vem por aí?
Eu não vou falar todos, porque tenho que ir fazendo aos poucos, né? Mas já citei umas aí – Rael, Emicida, Mahmundi…

Sobre o que tratam suas novas composições?
Minhas letras são sempre vomitadas. Eu tenho que estar muito a fim de fazer uma música. Nunca forço a barra. Se eu pensar ‘hoje eu tenho que fazer uma música’, não rola, então é sempre no prazer. Quando a gente faz alguma coisa com prazer, faz coisas boas. Às vezes são histórias, que tem algo a dizer, que nem “Sentença”, que fala sobre abrir os olhos pro mundo e tal, essa parada de seguir em frente. Depois eu conto algumas coisas que já aconteceram comigo, mas você vai ter que esperar as outras músicas para saber. (risos)

Foram 16 anos com o Nx Zero. Dá medo agora sozinho?
Nossa! Eu estava sentindo muita falta desse medo! Dá, dá sim. Não sei é medo a palavra, mas um frio na barriga, que a gente não pode viver sem isso, nenhuma hora. Se a gente se acomodar, a gente morre aos poucos. Isso que falo é para todos os trabalhos, em qualquer ambiente, não só na arte. Quando a gente combinou que daria uma pausa, eu me senti muito, muito, muito livre e comecei a sentir frio na barriga de novo. “Caraca, o que vou fazer? Eu com minhas músicas aqui”. Desde então, estou com esse medinho, esse frio na barriga, que é positivo. É legal passar isso pra frente. Tem muita gente que reclama, mas eu vejo que está acomodado, porque esse medo não deixa sair do lugar. Eu já estou feliz só por conseguir botar esse som pra tocar. Isso, pra mim, já é sucesso. E o que está acontecendo organicamente com a música é bizarro. Estou recebendo mensagens de um monte de gente falando da música. É muito legal.

Que tipo de resposta você teve dos fãs do Nx Zero?
Todo tipo. Mas 95% foi de aprovação. Os outros 5% foi tipo em dúvida. Uma parcela mínima de pessoas que ainda não superaram a pausa.

Mas isso é esperado, né?
Esperado, claro. Está tudo legal.

Você gosta de ler o que os outros estão comentando?
Para eu não ficar viciado, combinei comigo mesmo que vou abrir o Instagram e as outras páginas duas vezes por dia. Não está fácil, mas vou até colocar no despertador “hora de entrar”. (risos) Aí dou uma lida e vejo o que a galera está achando. Hoje mesmo eu vi um vídeo incrível de um cara fazendo tudo ao mesmo tempo na música: tocando violoncelo, fazendo backing vocal, voz, aí falei “isso aqui vou repostar depois”.

Na sua opinião, suas músicas novas tem potencial para agradar um público maior, menor ou igual do Nx Zero?
Olha, que pergunta difícil! É muito louco. Eu tenho uma ideia de quem pode gostar da música, mas já passei por isso e sei que não dá muito certo, porque às vezes você cria uma ideia que não é. Mas eu acredito que vai agradar a galera que cresceu ouvindo Nx e está curiosa, está ouvindo e está se surpreendendo, e também a molecada mais nova que aos poucos está sacando que eu sou o cara do Nx. Os comentários são muito engraçados: “parabéns, não conhecia esse artista”, aí embaixo vem alguém e fala “nossa, você é o mesmo Di do Nx Zero?”. Tem algumas coisas assim.

Você ainda está com o cabelo diferente, aí bagunçou a cabeça das pessoas. (risos)
É verdade. (risos) Eu vim pra bagunçar! Pode crer. Desorganizar tudo.

O que você vislumbra daqui pra frente?
Esse vai ser o ano que vou plantar, porque vou lançar muita coisa legal, muito conteúdo, em todos os sentidos. A música é minha grande vitrine para o que eu faço, para o meu lifestyle, o meu dia-a-dia, e as minhas ideias. Eu tenho muito clipe já para fazer, e já sei as formas que vou lançar e tudo o mais. Estou muito feliz com o que está rolando comigo. Estou há um ano preparando tudo isso, então é a hora de botar a cara no sol. Vai ser esse momento, pra mim, neste ano. Eu vou mostrar o meu trabalho. Tudo novo. Um grande recomeço.

Para terminar, mande um recado para os leitores do POPline.
Vou falar que eu sou um dos leitores. Eu sigo e acompanho também. Vocês podem esperar que vai ter muita coisa daora, a maior sonzeira, e com uma galera que vocês nem imaginam que eu faria música junto. Vou misturar tudo!