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Entrevista: Conversamos com Lily Allen sobre sua carreira, novo álbum e seu retorno aos palcos


Ter a oportunidade de conversar com Lily Allen é algo que anima até o mais experiente dos jornalistas. Claro, a cantora britânica tem muito o que falar sobre basicamente tudo e sabe muito bem se fazer ser ouvida.

E para um fã como eu, desde os longínquos dias de “Smile” e todos aqueles hinos-deboche do patriarcado, machismo e tantos outros problemas da sociedade, conversar com Lily Allen parecia algo impossível, mas que aconteceu.

Ao primeiro sinal de sua voz, que exala uma fofura inconfundível, não consigo me segurar e inicio uma pequena rasgação de seda, típica de fã mesmo, que é culminada com minha revelação de estar nervoso para conversar com ela, ao passo que Lily tenta me confortar com sua voz serena, “Ahhh, não fique nervoso”.

Para começar o papo, é claro que falamos sobre seu novo álbum, o “No Shame”, sucessor do “Sheezus”, lançado em 2014. Como uma artista que brinca com diferentes estilos musicais, do Ska ao Hip-Hop e passando até pelo country, Lily não poderia fazer diferente com o seu novo álbum. “Esse álbum é metade baladas e metade, eu acho, dançante. Eu acho que é tipo, deixando tudo bem simples, músicas ao piano. E metade das músicas são dançantes, reggae…”, explica Lily.

E você teve total controle na direção criativa nesse novo álbum?
Eu acho que os últimos álbuns que fiz, com exceção do primeiro, foram feitos com a intenção de serem sucessos radiofônicos, trabalhando com grandes produtores para conquistar essa meta. Com este álbum eu queria apenas me concentrar nas palavras e entregar as músicas com uma voz autêntica… É realmente uma abordagem diferente, mas eu estou muito feliz com o resultado.

Quanto tempo você demorou para deixar o “No Shame” da forma que você realmente queria?
Eu diria que demorou de dois a dois anos e meio.

E teremos um novo single antes do lançamento do álbum?
Sim! Definitivamente terei outro single antes do álbum ser lançado.

E é aqui que esse simples entrevistador, que também é fã de Lily Allen, tenta a sorte, porém sem sucesso.

E você pode nos dizer qual será a música escolhida para o próximo single?
[Pensa na resposta] Não. [Risos]

Muita coisa aconteceu com Lily Allen e com o mundo desde que o “Sheezus” foi lançado e principalmente com o mercado fonográfico. E ela está ciente disso, apesar de não saber muito bem como agir no cenário atual da música mundial. “Eu acho que talvez a causa das mudanças na indústria e como diferente ela está e como é confuso para mim fez com que eu focasse inteiramente na minha expressão criativa e na verdade não pensar muito na indústria”, explicou Lily. “Eu definitivamente diria que [a indústria] mudou e eu não a entendo. Eu apenas fiz um álbum para mim mesma!” [Risos]

E você também mudou muito em um nível pessoal…
Sim, claro. Com os dois primeiros álbum eu era 100% Popstar e então com o terceiro eu era 75% Popstar e 25% mãe e agora eu sou 50% Popstar e 50% mãe. Minhas prioridades na vida mudaram e eu tenho que passar a mesma quantidade de tempo com meus filhos e com o meu trabalho, o que significa que eu não posso estar em todo lugar de uma vez só e eu não posso ir para todas as premiações, estar em todas as capas de revistas porque eu tenho que estar aqui com meus filhos.

E é difícil para você balancear essa agenda de cantora e de mãe?
Eu não acho que seja difícil, eu só acho que você não pode ter tudo, então eu tenho que fazer escolhas. Se eu decidisse me dedicar 100% ao meu trabalho, então eu ficaria muito triste porque eu não poderia ser uma boa mãe. Eu não acho difícil, mas definitivamente tenho que fazer escolhas.

Lily Allen sempre foi famosa por abordar temas um tanto quanto controversos e muitas vezes esnobados pelos maiores nomes da música. Com a maturidade e a maternidade, Lily resolveu deixar essas polêmicas um pouco de fora de sua música. “Eu acho que esse álbum é muito mais sobre mim e minhas emoções e coisas pelo que passei nos últimos anos. Eu já compartilho muito de minha visão política e sobre o mundo normalmente então você não vai ouvir sobre isso em minha música agora.

Você recentemente realizou um show completo para seus fãs. Como foi voltar aos palcos depois de tanto tempo afastada?
Eu me senti nervosa. Mas eu estou muito confiante com esse novo material e os shows estão acontecendo muito bem e eu tenho curtido muito eles, na verdade mais do que eu já curti tocar ao vivo. Definitivamente fiquei nervosa em mostrar o novo material, mas a resposta foi muito boa e eu estou muito feliz.

Lily Allen sempre foi uma voz feminista muito forte. Desde os primórdios de suas músicas, a cantora britânica sempre foi muito verbal, dentro e fora de seu material artístico, contra o cenário machista e patriarcal do mundo. Atualmente, movimentos como o #MeToo vem levantado essa questão e, claro, chamou a atenção de Lily, que acredita que manter o assunto vivo é importante. “Eu acho que se as pessoas continuarem a falar, a compartilhar [suas experiências] é a única forma de resolver qualquer problema. Manter o diálogo aberto, a comunicação”, afirmou Lily.

“Eu sempre falei sobre isso, desde o início da minha carreira, e as pessoas me viam como esquisita ou louca porque eu queria falar sobre esses assuntos. Agora, dez anos depois muitas pessoas estão falando desses assuntos… Eu não tô dizendo que tenha sido por minha causa [risos]. Mas eu acho que temos que manter a conversa continuando…”, explica a cantora.

Você sempre falou o que você pensava, nunca se manteve calada e sempre foi criticada por falar o que realmente pensa, seja sobre política ou qualquer outra coisa. Você acha que os artistas têm que encontrar um ponto de equilíbrio para falar sobre esses assuntos ou eles têm total liberdade para falar sobre tudo o que acontece na sociedade?
Para mim, arte e sociedade estão interconectados. Arte e política estão conectados. Para mim não houve um grau de separação. Foi somente há pouco tempo, com o crescimento da internet, das mídias sociais, que as pessoas estão tentando mostrar sua voz. Antes disso não era possível, as pessoas não tinham a plataforma para se expressarem. Da mesma forma que as mulheres do movimento #MeToo, que se expressaram, elas foram criticadas, e qualquer pessoa que se coloca dessa forma se coloca como alvo de críticas e a vida é assim. É entender que essa crítica é parte do sistema, do patriarcado, e você tem que ter a confiança de continuar.

E você fez algumas colaborações nesses anos todos, mas se você pudesse escolher apenas um artista para colaborar agora, quem seria?
Talvez… Sam Smith. Eu gosto da voz dele e acho que ele é um ótimo compositor e vende muitos discos [Risos].

Com esse momento descontraído e um desejo de colaboração, nos despedimos e Lily Allen segue sua agenda de entrevistas. E nós do Brasil seguimos com o desejo de seu retorno ao nosso país para mais shows nessa nova era.

“No Shame”, o quarto álbum de estúdio de Lily Allen, chega às lojas e plataformas de streaming no dia 8 de junho.