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Baú – Entrevista: Daniel Powter


Nesta e nas próximas três quintas-feiras consecutivas, o Baú do POPline te revela apenas o primeiro bloco de uma super série de entrevistas. O objetivo da coluna sempre foi de revisitar o passado relembrando grandes artistas, sucessos e, principalmente, apresentando nomes e sons a quem não havia nascido ou não se conectava com o pop anos atrás.  De maneira pioneira, estamos em contato com várias dessas estrelas e com exclusividade traremos para vocês um papo sobre o passado, o presente e, claro, o futuro. Afinal, onde será que elas estão?

Como colocar uma música no topo das paradas em uma época em que streamings não existiam e redes sociais não possuíam a força de divulgação e alcance que tem atualmente? O jeito “tradicional” era ter o apoio da mídia como rádios, revistas, sites e televisão. E foi a TV, mais precisamente um reality show, que apresentou ao mundo o canadense Daniel Powter.

No entanto, antes que a gente continue a contar a história do cantor e te revelar um papo exclusivo com ele, é melhor você dar o play no vídeo abaixo. Você pode não ligar o nome à voz, mas vai ligar ao megahit “Bad Day”.

“Bad Day” faz parte do álbum homônimo de Daniel lançado em 2005, mas foi no ano seguinte que ele foi alçado ao sucesso quando a faixa foi escolhida pelos produtores do “American Idol” para ser o “tema de despedida” dos candidatos eliminados. A quinta temporada do reality show é a recordista de audiência em toda a história do programa e a mais disputada, revelando nomes como Katharine Mphee e Daughtry. A cada eliminação, “Bad Day” era a trilha sonora de um vídeo meloso com cenas do participante até então no programa.

Para Daniel foi o grande início da carreira, mas também de um trabalho árduo que dificultou curtir cada minuto. “Lembro que era difícil respirar e até relaxar. As coisas aconteceram tão rápido que era complicado tirar um momento e aproveitar o processo. Eu nunca faria isso de novo. Eu quero tocar mais e viajar, mas não fazer 16 entrevistas por dia. Acho que fiquei falando sobre eu mesmo por uns dois anos”, disse sobre o tempo agitado dos holofotes. “Eu estava muito agradecido que tudo estava funcionando para mim, mas estava exausto o tempo todo. Lembro que eu fiz entrevistas na França, Alemanha e Itália em apenas um dia. É muito louco!!!”, contou ao POPline com exclusividade.

E não era a toa que todos queriam um pedacinho de Powter na época. Quem não vivenciou o estrondo de “Bad Day”, talvez esses números justifiquem.

POPline: Doze anos depois, o que mudou na sua vida com o enorme sucesso de “Bad Day”? Com o sucesso, houve em algum momento pressão para continuar indo bem nas paradas?
Daniel Powter: eu realmente não ligo para as paradas. Não sinto pressão alguma e isso é tão libertador! Se tudo com o que você se preocupa é com seu desempenho nos rankings, certamente você terá gastado tempo. A música pop está em uma caixa agora e eu não tenho interesse em estar nessa caixa.

POPline: Depois de “Bad Day”, você lembra de ter precisado mudar algo para não entrar nessa pressão mesmo que externa?
Daniel: Quando eu escrevi “Bad Day” não havia nada parecido nas rádios naquele momento. Foi por isso que foi um grande hit. Eu gosto do que faço no momento. Se algo não me inspira, eu simplesmente não faço. Estava trabalhando com os melhores para uma gravadora por três semanas e não aguentei. Estou mais velho, escrevo música para outros artistas que eu gosto, filmes… Eu apenas faço trabalhos que me mantenham sorrindo e querendo sair da cama pela manhã.

POPline: “Bad Day” te trouxe grandes prêmios e até uma indicação ao “Grammy Awards”. Você tem algum preferido em particular?
Daniel: Todos os prêmios estão em uma caixa em algum lugar. Eu realmente não sei se os tenho ainda. Fazer shows e ter a audiência engajada, cantando suas músicas de volta para você, esses são os prêmios que eu queria ter. Conhecer novas pessoas e viajar, me manter humilde e agradecido são os prêmios da alma. Olhar para os discos de platina acima do seu piano só premiam o seu ego.

POPline: Fora da América do Norte, você também fez um incrível sucesso no Japão. Como é se sentir tão amado em um país tão diferente do seu?
Daniel: Ah, cara. Eu amo tanto o Japão, mas honestamente são as pessoas que você conhece em cada lugar que torna tudo tão memorável e especial. E um país que eu nunca estive e estou desesperado para tocar é o Brasil. Todo mundo que eu conheço e que esteve aí diz que é tão incrível… eu fico com inveja! Eu ouvi que as pessoas mais bonitas, cheias de vida moram no Brasil. Espero visitá-los em breve.

E quem sabe a gente não consiga mesmo ver Daniel após todos esses anos de carreira? Teremos mais uma chance no futuro. O músico nos revelou que está trabalhando em um novo projeto. O single “Delicious” foi lançado no início do ano, mas apesar de não ter pressa, Daniel revelou para a gente que a música foi um ponta pé sim para o início do processo de um novo álbum – e com a ajuda da incrível Linda Perry.

POPline: Você lançou um single no início do ano. Como é lançar um material depois de tanto tempo?
Daniel: Há muito tempo eu decidi fazer música para mim. Sempre me senti hesitante e honestamente te digo que eu não sabia se essa era a música certa para lançar. No entanto, trabalhar em uma música que não tem a obrigação de passar alguma mensagem, tem um certo apelo para mim. “Delicious” é divertida e algo que eu precisava na minha vida no momento. Grande parte da música que eu escrevo carrega esse peso e eu precisava de um tempo de tudo isso.

POPline: Então a música é o primeiro aperitivo de um novo álbum?
Daniel: Eu estou começando o processo devagar. Eu tenho tantas novas ideias e atualmente estou trabalhando com Linda Perry. Eu adoro estar perto dela porque ela é tão boa em me obrigar a ser honesto. Não quero correr com [esse material para] um álbum. Eu sei que estou no caminho certo. Não sei se quero lançar um álbum que seja um “pop legal” [feel good pop]. Não é quem eu sou. “Delicious” é algo para limpar o caminho para que eu possa lançar algo com significado. Eu nunca senti ou acreditei que eu tenha lançado uma música ótima, não acho que eu consegui colocar para fora tudo o que está em mim, mas estou cada vez mais perto.

POPline: A indústria da música mudou. Você planeja algo diferente desta vez?
Daniel: Acho que se eu continuar envolvido nesta indústria, terá que ser algo diferente porque estou voltando para essas canções que possuem um significado para mim. Algo que agarre pelo coração e que a audiência possa se identificar. Estamos passando por uma grande mudança no mundo no momento. Algo me diz que as pessoas estão prontas para algo “com substância”.

Em quase 20 anos de carreira, Daniel possui três discos, um EP e uma coletânea em sua discografia. Sem ligar para o título de One Hit Wonder dado até pela Billboard, durante todo o tempo que tivemos contato com ele e sua equipe, o artista se mostrou firme e seguro do seu caminho trilhado até aqui. Quando o quarto disco ou um novo single será oficialmente lançado, ainda é cedo para dizer, mas quem se interessar pela carreira do músico  vai ganhar exatamente o que Daniel quer mostrar: a sua verdade.

“Eu não mudaria nada em minha jornada. Eu não teria parado as aulas de violino, apesar de odia-las. Eu não tentaria me enturmar, apesar de eu querer ter sido popular. Mas acima de tudo, eu nunca abandonaria a música, não importa quantas pessoas me dissessem para fazê-lo. Se eu pudesse encontrar o jovem Daniel eu apenas diria a ele para limpar aquelas lágrimas e nunca olhar para trás”.

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Texto: Kavad Medeiros e Amanda Faia
Tradução: Amanda Faia
Revisão: Mari Pacheco
Edição de vídeo: Ricardo Oliveira
Produção e supervisão: Amanda Faia