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Artistas pop atuais são chamados de “lixo” e “fim da música” – a exemplo de ídolos pop do passado


A música pop atual é ruim? Nostalgia dos anos 90? 80? 70? 60? Música de verdade era a de antigamente? Hoje em dia é tudo lixo? Ou é tudo diferente? Essas questões ganharam luz nesta semana, com resultados de premiações nacionais e internacionais. No Brasil, o ator José de Abreu, de 69 anos, lamentou a cena musical atual e opinou que dar prêmios para Luan Santana e Anitta, os nomes mais populares da atualidade, representa “o fim da música”. Nos Estados Unidos, P!nk, que com seus 35 anos também já representa uma geração anterior, disse que “se sente envergonhada, triste e velha” por ver o rumo da música no VMA 2015.

bafao

No que concerne a essas premiações, é importante ressaltar que elas são ditadas pelo público jovem. É sabido que quanto mais novo mais tempo se gasta votando no ídolo na Internet. Você não vê adultos de 30 anos, 40 ou mais organizando mutirões para dar prêmios ao Tony Bennett ou a Gilberto Gil. Falando de pop, à Madonna ou ao Lulu Santos. O mesmo acontece com ligações para rádios, pedidos de performances na TV, enfim. É o público infanto-juvenil o mais engajado – e sempre foi assim. Grandes nomes como Beatles, Rolling Stones, Caetano Veloso e Roberto Carlos consolidaram suas carreiras na juventude – fazendo músicas diferentes, que também já foram consideradas ruins antes de se tornarem clássicas. No Brasil, por exemplo, Gilberto Gil foi atacado quando adotou a guitarra elétrica e a Jovem Guarda, como movimento, agradou o público jovem, mas gerou muitas críticas de conservadores e puristas pela inspiração norte-americana.

José de Abreu escreveu: “Coitados dos ouvidos jovens. Acham que ouvem música. E confundem ‘pouca idade’ com ‘novo’. O ‘velho’ está no cerne do que consideram ‘novo’. Como dizia Nelson Rodrigues aos jovens: ‘envelheçam’”. Quando ele era jovem, com seus 20 anos, o mundo cultuava os Beatles, quatro inglesinhos de roupas iguais e cortes de cabelo padronizados. Além da música, bombaram com filmes, figurinhas, pôsteres, produtos e tudo mais que cabia na beatlemania (parecido com One Direction? – sim, até Paul McCartney reconhece). Era também a época da Jovem Guarda, com foco na juventude. Eram novos rumos para a música. Por isso, a reposta de Anitta a José de Abreu, cai como uma luva: “[fim da música] ou o início de uma nova fase, já que estamos falando de jovens. E você, votou no seu preferido para que fosse diferente?”. Certamente não votou.

roberto carlos beatles

P!nk foi mais específica, criticando as apresentações do VMA. Ela chamou o que viu de lixo. “Sinto-me triste porque a música deveria inspirar. Salvou a minha vida. Esse lixo não vai salvar a vida de ninguém. Em um mundo que está mais assustador e com vidas que valem ser salvas, quem irá salvar a alma? Os desprivilegiados, talvez. Além do Macklemore e do Pharrell e Bieber e The Weeknd, Tori Kelly também foi muito bem. O resto foi um tosco e embaraçoso e difícil para esta velha do pop acreditar”, escreveu. O resto inclui uma Miley Cyrus com drag queens, defendendo a inclusão e o fim da discriminação transfóbica, e uma Demi Lovato pregando a autoaceitação após problemas assumidos com distúrbios alimentares. Como os jovens, a música e a política, as bandeiras hoje em dia são outras – e tal popularidade tem seu significado: comunica. Para a música pop envelhecida que não se atualiza, Anitta já canta: “deixa ele chorar, deixa ele sofrer, deixa ele saber que eu tô curtindo pra valer”.