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Ariana Grande, “eu odeio a América” e o deja vu Dixie Chicks em menores proporções


Muitos fãs da Ariana Grande no Brasil estão tentando entender o porquê da confusão instalada após o vídeo divulgado pelo TMZ no início desta semana. Se você viveu fora da bolha pop de terça-feira para cá (o que eu duvido), explico rapidamente: um vídeo de segurança de uma doceria americana “flagrou” a cantora brincando de Verdade ou Consequência com amigos. Uma das consequências propostas foi lamber um donut exposto no balcão. Logo após ela soltou um “eu odeio os americanos. Eu odeio a América”. Pronto! Confusão armada e o que inicialmente era um vídeo focado no beijinho que a cantora deu em seu dançarino (sim, ainda teve isso) virou um problemão para Ariana e sua equipe.

Quem viveu um pouquinho a mais neste mundão pop não se surpreendeu com a repercussão, nem com o pedido de desculpas e já viu pior! Mas antes de mais nada precisamos lembrar uma coisinha super básica sobre os americanos: eles são extremamente (muito, mas muito mesmo) patriotas. Seguindo este raciocínio, quando o “I hate America” foi compartilhado e comentado enfurecidamente nas redes sociais, tive uma sensação de deja vu. Vamos para uma aulinha de história básica do pop.

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Em 2003, o trio de música country [pausa aqui para ressaltar o COUNTRY porque é um “gênero patrimônio” dos EUA] Dixie Chicks foi escorraçado, teve discos queimados em praça pública com fogueiras – algumas criadas pelos próprios fãs – e músicas excluídas em massa da programação das rádios americanas. O que causou a polêmica foi uma declaração durante um show da turnê europeia do trio sobre o presidente em exercício na época, George W. Bush. “Nós não queremos essa guerra, esta violência e estamos envergonhadas do presidente dos Estados Unidos ser do Texas”, disse Natalie Maines. Natalie chegou a se desculpar pelos termos usados, mas ainda se defendeu dizendo que achava que o Governo estava ignorando a opinião dos americanos sobre a decisão de invadir o Iraque.

As semanas que se sucederam foram um inferno para o trio que tinha uma reputação intocável nos Estados Unidos com hit após hit. E como isso terminou? Bem, anos depois [foi necessário uma pausa de 4 anos entre os discos “Home”, de 2002, e “Taking the Long Way”, de 2006] o grupo retornou poderoso com um álbum ganhador de 5 Grammys em uma mesma edição – incluindo Álbum do Ano, Música do Ano e Gravação do Ano. E uma faixa em particular salvou a carreira do grupo inspirada no episódio de 2003: “Not Ready to Make Nice”. Algo traduzido como ‘não estou pronta para ser boazinha’ e que falava na letra sobre perdão, que o tempo cura tudo e que há um preço a ser pago.

Eu não fui a única a lembrar das Dixie Chicks quando o episódio da Ariana surgiu. Alguns amigos – também acima dos 25 anos e que viveram a época das Dixie Chicks – e até o ator Rob Lowe citaram o trio nas redes sociais. A declaração de Rob, ganhou matéria na Billboard. “Mal posso esperar pela música Ariana Grande/Dixie Chicks ser lançada”, brincou o ator.

Claro, óbvio, que não dá para comparar em mesmo grau o que aconteceu com as Dixies e com a Ariana, mas os americanos não são muito de perdoar. Se as Dixies ficaram na geladeira e sofreram boicotes severos, Ari já perdeu exposição em duas rádios (pequenas, mas é um relexo do problema) e um trabalho – sendo substituída por Demi Lovato e tema até polícia envolvida no caso (da lambida, não da declaração em si). E para tentar contornar o problemas, DOIS pedidos de desculpas foram emitidos.

E eu vi nos comentários muitas referências a “por que Chris Brown não foi crucificado assim” ou “Justin Bieber não teve a mesma repercussão”. Bem, aqui vale dois adendos: como “condenar” Chris Brown ao boicote e levantar bandeira contra o rapaz quando a própria Rihanna, a vítima da história, não quis? Lançou remix, música e voltou namoro, não se esqueçam. No caso de Bieber, que é o que está acontecendo com Ariana, há uma justificativa da idade. “Somos jovens, ricos, mimados e inconsequentes, mas temos que aprender a lição e queremos ser, no final, uma influência positiva”, é o discurso em comum [inclusive tá na hora de Scooter Braun ter uma abordagem melhor com seus clientes].

É muito fácil a gente de longe condenar o comportamento de ambos os lados: o da Ariana e o dos americanos. Eles são assim. A Ariana é americana, deveria saber melhor. E como dizia a própria Rihanna em uma música: parece que ‘você só se desculpou porque foi pego’.