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Amanda Faia: a “gordofobia” no mundo pop tem jeito?


O texto da coluna desta semana é sobre um assunto bem próximo a mim e que serve para propor uma reflexão entre os mais jovens. Não sou muito de me expor, mas precisamos de um contexto, né? No auge dos meus 33 anos e 77kg, já passei por muita insegurança em relação ao meu peso, a minha imagem – como qualquer ser humano – e até a minha capacidade profissional. No entanto, no mundo pop, esses três aspectos estão, infelizmente, correlacionados.

Me sinto uma velha escrevendo isso para vocês, mas cresci em um mundo onde a mídia hoje batizada de tradicional como rádio, TV e impressa ditavam as coisas e a opinião de cada um chegava, no máximo, a uma roda de amigos. Atualmente a nova geração vive no imediatismo e o achismo toma grande proporções graças às redes sociais. E parece até hipocrisia, mas quando o assunto é estética, beleza e auto estima a lingua que fere também é ferida já que para mim (quase) ninguém está 100% satisfeito com sua aparência.

Ia escrever sobre um outro assunto esta semana, mas quando li Sam Smith dizendo que se dói mais quando alguém o chama de gordo do que quando escuta uma babaquice vinda de um homofóbico, confesso que fiquei um pouco triste. A palavra gordo (a) é ainda usada como xingamento na tentativa de diminuir a capacidade de alguém e esse mau entendimento está tanto no discurso de quem fala uma asneira dessa quanto na cabeça de quem se deixa afetar. Eu não deveria ficar surpresa com as palavras de uma pessoa que compôs um disco inteiro sobre submissão em um relacionamento platônico. Está claro que Sam ainda trabalha na sua auto estima e nem estou cobrando amadurecimento relâmpago. Cada um tem seu tempo. Não me levem a mal. AMO Sam Smith. Sua voz e seu estilo musical trouxeram um frescor ao pop radiofônico, mas fico preocupada como um desabafo desses pode envolver um fã. Principalmente quando ele exibe com orgulho fotos cada vez mais cadavérico. Sam já havia falado em entrevistas que comia mal, que amava fast food e que precisava cuidar da saúde, mas estou curiosa para saber se esses problemas já foram sanados e se o emagrecimento agora é apenas para tentar aumentar a baixa auto estima do cantor.

sam smith

Após Sam, outro nome me veio a cabeça: Demi Lovato. Uma jovem que já passou por maus bocados, precisou se internar para lidar com problemas derivados de transtorno alimentar e que agora está sendo criticada por apresentar uns quilos a menos e curvas definidas. A diferença que sinto entre os dois discursos é que Demi, depois que saiu da reabilitação, sempre fez questão de tranquilizar a todos que está saudável, que esta é a sua prioridade número um e que cada um precisa amar a si mesmo incondicionalmente. Não vejo nada errado na pessoa querer emagrecer para se sentir melhor, contanto que o discurso seja um influenciador positivo. Para mim, neste caso, ponto para a Demi.

Não adianta dizer que fãs não são influenciáveis. Alguns são sim e não preciso justificar muito quando recentemente fotos de punhos cortados pediam urgentemente a volta do Zayn Malik para o One Direction. A verdade é que por mais que tenhamos voz e mais informação ao nosso dispor atualmente, somos susceptíveis e ídolos pop carregam essa característica de influenciar o próximo. Por isso um cuidado e olhar mais cauteloso quando se fala sobre esse assunto.

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Fora Sam Smith, os comentários ridículos sobre os corpos da Selena Gomez e Britney Spears recentemente também são de preocupar (e de entristecer). Britney Spears ainda foi simpática quando soltou seu “asshole” no palco do show da “Piece Of Me” porque ainda procuro o “gorda” nessas duas fotos.

Ser ou estar gordo não deveria ser motivo de chacota e muito menos de dúvida da capacidade de alguém. E, graças a Deus, na contra mão dos haters temos duas estrelas pop que estão tentando passar uma mensagem de auto confiança – apesar de alguns só rebaterem com mais críticas julgando seu peso. É aquela coisa: quem não tem argumento tenta ferir com qualquer palavra que vier a cabeça mesmo sem razão. Kelly Clarkson e Pink já avisaram aos fofoqueiros de plantão que “podem falar” o que quiserem, que há coisas mais importantes neste mundo do que manchetes sobre seu peso e que se sentem bem na pele em que estão.

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Quem não lembra da repercussão nas redes sociais das fotos da jornalista Fernanda Gentil? É triste ter que falar publicamente sobre um assunto que você gostaria de manter por mais tempo na intimidade porque um paparazzi tirou fotos suas na praia apontando “falhas” quando na verdade você está grávida.

Eu cheguei a quase 100kg três anos atrás, emagreci para 67kg e engordei 10kg no último ano e nesse vai e vem da balança aprendi muita coisa ao meu respeito, relacionamento com a comida, ansiedade (ainda tentando lidar) e como as pessoas veem seus diferentes tamanhos de manequim. Saúde e se manter longe dos riscos como diabetes e hipertensão por causa de gordura acumulada na região abdominal são o foco recomendado pelos médicos, mas há quem vá além. Celebridades fitness ganham horrores de dinheiro incentivando uma doença relativamente nova, a Vigorexia (o vício do exercício) e que entra para o grupo de cuidado e “doenças da moda” como anorexia e bulimia já foram um dia.

Desculpa me estender com um assunto que não tem ligação direta com a música, mas achei que valia a reflexão. Qual a dificuldade de aceitarmos o outro como ele é independente da embalagem, admirarmos seu talento e se não gostarmos do que eles nos apresentam apenas deixarmos para lá? Em 99,9% dos casos, ignorar é mais saudável do que ofender.