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A Fábrica por Bernardo Sim: A indústria da música, pós-Beyoncé


beyonce-beyonce“A FÁBRICA” está de volta! Prepare-se para uma segunda temporada de novas análises do mercado da música e dos artistas e profissionais que estão fazendo a diferença.

O álbum “BEYONCÉ”, lançado literalmente do nada e exclusivamente no iTunes, vendeu mais de 800 mil cópias em uma semana. Só que o conceito do disco de trazer um vídeo para cada música acabou sendo abafado pela proposta de lançamento e (falta de) marketing deste novo trabalho da esposa de Jay-Z, que é dona de si e empresária da própria carreira. Mais do que o impacto artístico do álbum, em um dia, Beyoncé passou a ditar as novas regras da indústria da música.

É a exclusividade do iTunes que causou a grande polêmica. Target, Walmart e Amazon, os outros grandes vendedores de entretenimento, não foram convidados para a festa de Beyoncé. Antes de entrar no assunto, vamos deixar algo bem claro: Target e Walmart (as únicas lojas físicas dentre os quatro exemplos que citei) não ganham dinheiro com CDs e DVDs. Entretenimento é considerado um “Lost Leader” (líder perdido) para estas lojas, o que significa que estes são produtos que vendem extremamente bem, mas que já são contados como dinheiro perdido. Walmart e Target fazem parcerias com gravadoras e estúdios porque o lançamento de CDs e DVDs traz muito público para dentro das lojas, e isto acaba causando outras compras (que dão lucro) como consequência. É como o wi-fi grátis da padaria, que tem esperança que você vá usar a internet e acabe pedindo um cafezinho. Perder a oportunidade de trazer os fãs de Beyoncé para dentro de suas lojas, ainda mais na época de Natal, é algo extremamente sério para Target e Walmart. O Walmart deu o braço a torcer e acabou encontrando uma outra forma de explorar as cópias físicas do “BEYONCÉ”. O Target, porém, se posicionou junto à Amazon contra o disco que só o iTunes lançou. Afinal, perder o primeiro dia (e primeira semana) de vendas é perder a grande parcela do público que demonstraria interesse pelo produto.

Tudo isso não é necessariamente um sinal de que o iTunes se estabeleceu de vez como grande líder de venda de música no mundo. O lançamento do “BEYONCÉ”, na verdade, só deixa claro que cópias físicas já são coisa do passado, e que só servirão para fãs que quiserem colecionar artigos de um artista (ou seja, é algo que não precisa ser lançado logo de cara). A indústria da música teve que engolir a rebeldia de uma de suas maiores estrelas, e aprendeu que 800 mil pessoas estão dispostas a comprar um álbum digital muito mais caro do que o preço médio, desde que este apresente música de qualidade e conteúdo interativo. Foi um lançamento quase que cinematográfico, colocando, de uma vez só, todo o conteúdo produzido à disposição do público. Só que ainda mais louco do que Hollywood, já que Beyoncé não fez nenhum tipo de ação de marketing antes do lançamento.

O 13 de dezembro de 2013 mudou a forma como música será distribuída para sempre, e ensinou a indústria – mais uma vez – que qualidade e conteúdo diferenciado será sempre superior à qualquer outra estratégia dos executivos de gravadoras.

bernardo sim