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8 mitos sobre o acampamento de fãs na fila para show da Katy Perry em São Paulo


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Sempre que surge a notícia do acampamento de fãs na fila de um show, existe certa comoção na Internet. Muita gente fica verdadeiramente incomodada e chovem ironias para os aventureiros. “Não tem louça para lavar?” é repetido em comentários quase como um mantra. Então o POPline decidiu conversar com os fãs que estão na fila para o show da Katy Perry em São Paulo desde o dia 22 de agosto, com meta de ficarem acampados um mês até o dia do show, no Allianz Parque. Eles tomam banho? Eles vão à escola? Trabalham? Fazem ENEM? Tem vida?

– Falam de ENEM e desocupação, mas só a gente sabe o que é se desdobrar em 15 para trabalhar, estudar, se formar e ainda conseguir realizar um sonho. Esse é nosso sonho, então corremos atrás. Mamãe diz que quando você sonha algo, você não pode medir esforços e eu realmente não meço. Inclusive, ela me apoia. – diz Victória, uma das primeiras a chegarem à fila com seu grupo de 25 amigos.

Então, o que é mito e o que é verdade quando o assunto é “fãs na fila antecipadamente”? Vamos descobrir com quem entende desse riscado: os próprios acampados.

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– “Não tem vida” / “Não tem responsabilidades” / “Não tem louça para lavar”
Ao contrário, os acampados geralmente estudam e/ou trabalham e se desdobram para garantir um bom lugar na fila – com um esquema de revezamento. Então, ninguém precisa optar pelo acampamento em detrimento das responsabilidades. Lucas Nascimento, de 17 anos, por exemplo, fica na fila no horário das 12h30 às 18h, e seus amigos guardam lugar de manhã e de noite. “Estudo no período da manhã, então está tudo de boa, com as lições em dia”, explica o jovem, que também faz curso e trabalha. Outro caso é o da fotógrafa Victória Ferreira, de 19 anos, que trabalha em uma agência de modelos há um ano e pulou quatro anos do curso de inglês porque aprendeu sozinha com as músicas da Katy Perry. Ela fica na fila a partir das 18h, podendo ir até às 23h ou até o dia seguinte, e garante: “tenho emprego, lavo a minha louça”.

– “São loucos”
Se esses fãs são malucos, são os malucos mais organizados que existem. O esquema de revezamento é quase uma empresa. Cada grupo tem cerca de 30 pessoas (já são quatro grupos na fila), divididas para cobrirem os “expedientes” de manhã, tarde e noite/madrugada. Sempre há pelo menos cinco fãs de cada grupo guardando lugar. É tudo controlado. “Nós montamos uma escala, com os dias que todos podem vim acampar. Tipo, eu venho todos os dias da semana, mas por opção, mas temos os dias certos de cada um. E cada pessoa tem que cumprir a meta de horas do dia”, conta Lucas.

– “Querem chamar atenção da Katy Perry”
Victória garante que não é o caso. Segundo ela, o acampamento é mesmo só para pegar um lugar na grade do show e conseguir ficar perto da cantora. Os fãs não querem “aparecer”. “Não estamos atrás de reconhecimento ou algo do tipo, até porque se a Katy soubesse disso ficaria brava e mandaria a gente ir para casa tomar banho…”, diz. “Fazemos isso, porque a Katy não é Demi Lovato que vem para o Brasil uma vez por ano… A última vez que ela veio para show foi em 2011 e sabe-se lá Deus quando voltará. Infelizmente, essa é a única forma que temos de ficar perto dela. Essa ‘proximidade’ é necessária. Quem é fã de cantora pop internacional deveria entender”.

– “Não tem necessidade de chegar tanto tempo antes”
Provavelmente, a maioria deles concorda. O que acontece é: todos querem ser os primeiros da fila, e temem que outros fãs cheguem antes. Como os acampamentos são cada vez mais habituais, a duração deles se torna cada vez maior, como forma de garantir a prioridade. Victória é da primeira barraca, que chegou lá no dia 22 de agosto. Cedíssimo, claro. Mas ela só foi para lá porque ouviu dizer que outro grupo chegaria no dia 23, e quis garantir. “Tínhamos que chegar antes, então sai do trabalho e fui direto para lá. Acabou que esse grupo chegaria só no dia 23 de setembro… Nunca pensei que seria otária. Fui otária. Mas nisso a informação de que tinha gente lá vazou e a galera começou a chegar. Não tinha mais como sair. Tivemos que arrumar um jeito de ficar desde então”, revela.

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– “Não tomam banho”
Essa é fácil perceber que é puro mito. Graças ao esquema de revezamento, todo mundo passa em casa todo dia. Não é como se eles ficassem um mês na fila sem asseio pessoal. Só não toma banho se não quiser. Durante o dia na fila, quando precisam usar o banheiro, usam o do shopping que fica ao lado do Allianz Parque. “É muito raro a mesma pessoa ficar mais de sete ou oito horas seguidas na fila… Muita gente sai de casa de banho tomado e vai para lá, ou toma antes de ir trabalhar e vai para lá. Acho que vai de cada um. Tem gente que é porca mesmo e não toma banho nem em casa, mas a gente é limpinho”, brinca Victória. “Eu levo escova de dentes quando pego turno e vou no próprio Allianz escovar”.

– “Não tem pais para dar uma surra”
Eles tem pais, sim, mas a maioria apoia a aventura, como é o caso do adolescente Lucas. “Minha mãe só fica perguntando se não é cansativo, e é, mas é bom também. O resto dos pais também apoia de boa. Eles nos ajudam, para não dar problema na escola, no trabalho…”, conta. São os pais que se preocupam com dinheiro, comida e condições mínimas para os filhos fanáticos.

– “Para show, chegam com três semanas de antecedência, para o ENEM chegam atrasados”
Para os fãs acampados, essa piada/ironiza equivale ao “é pavê ou pra comer?”. Muitos já fizeram ENEM, já estão na faculdade ou até se formaram. Então, é meio sem cabimento. “Nem metade do povo que fala isso estuda… A diferença entre nós e esse pessoal é que usamos nosso tempo livre para dormir em fila, enquanto eles usam o tempo livre para ficar na Internet falando de diva pop. Eu posso garantir que ninguém do meu acampamento chegou atrasado no ENEM, até porque a maioria já está estudando faz um tempo”, conta Victória Ferreira

– “Que sofrimento!”
Obviamente que ficar tantas semanas na fila de um show inclui frio, calor, desconforto, falta de segurança e alguns perrengues. Mas os fãs também se divertem – e gostam de estar lá naquele “esquenta” para o grande dia. Eles passam o dia brincando, jogando e conversando. “Cada pessoa é de um lugar diferente, cada um tem uma história. É uma experiência inesquecível. Tudo pelo bem maior”, diz Lucas, referindo-se à ver Katy de pertinho. “Queremos ter a certeza de olhar nos olhos dela e pegar o melhor lugar. Batalhamos muito pelos ingressos e queremos agregar o real valor nele”.

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